A Cimeira da NATO que ontem terminou em Washington teve a guerra da Ucrânia no epicentro, a ameaça russa como pano de fundo, a China no horizonte e a eleição presidencial dos EUA na sombra. O secretário-geral da NATO lembrou os membros da Aliança Atlântica, que assinala 75 anos, que o tempo para «defender a liberdade e democracia é agora» e o lugar é a Ucrânia. Jens Stoltenberg elogiou a determinação dos aliados no apoio à Kiev, mas avisou que tem de continuar no futuro, apesar de ter custos e riscos. «O maior custo e o maior risco seria a Rússia ganhar na Ucrânia», disse, alertando que o resultado desta guerra vai moldar a segurança global nas próximas décadas.
Nesta base, os chefes de Estado e de Governo da NATO comprometeram-se com um mínimo de 40 mil milhões de euros para apoiar o esforço de guerra ucraniano perante a invasão da Rússia no próximo ano – Portugal vai contribuir com 221 milhões.
Os líderes declararam ainda um «caminho irreversível» para a adesão da Ucrânia à organização, salientando que apoiam plenamente o direito da Ucrânia decidir o seu futuro, comprometendo-se a fazer um convite de adesão a Kiev quando houver condições. «O futuro da Ucrânia reside na NATO», acrescentaram.
As lideranças dos países da NATO denunciaram ainda que a invasão russa da Ucrânia «destruiu a paz e a estabilidade na área euro-atlântica» e que a Rússia continua a ser «a maior e mais direta ameaça à segurança dos aliados», o que justifica o compromisso de apoio à Ucrânia. «Não estamos a fazer isto porque queremos prolongar a guerra, mas porque queremos acabar com ela o mais rápido possível», disse Stoltenberg. «A não ser que queiramos que a Ucrânia perca, a não ser que nos queiramos curvar perante Putin, temos de nos comprometer», acrescentou.
Defesas antiaéreas e F-16
Na abertura da cimeira tinha sido o Presidente dos EUA a afirmar que Presidente russo, Vladimir «Putin, não parará na Ucrânia, mas a Ucrânia pode parar e parará Putin».
Joe Biden anunciou depois o fornecimento de defesas aéreas adicionais e mais tarde seria o secretário de Estado dos EUA a revelar que os países da NATO iniciaram a transferência de aviões de combate F-16 para a Ucrânia para fortalecer a sua defesa.
«Tenho o prazer de anunciar que, neste momento, a transferência de aeronaves F-16 está em andamento», disse Antony Blinken, acrescentando que «esses aviões voarão nos céus ucranianos neste verão para garantir que a Ucrânia possa continuar a defender-se eficazmente contra a agressão russa».
A cimeira de Washington expressou ainda «profundas preocupações» com a reaproximação entre a Rússia e a China, denunciando o apoio de Pequim ao esforço de guerra russo na Ucrânia. «O aprofundamento da parceria estratégica entre a Rússia e a China, bem como as suas tentativas combinadas de desestabilizar e remodelar a ordem internacional baseada no direito, suscitam profundas preocupações», lê-se na declaração final do Conselho do Atlântico Norte, o mais alto órgão político da Aliança Atlântica.
A China apela a conversações de paz, comprometeu-se a não fornecer armas à Rússia e apela ao respeito pela integridade territorial dos países, incluindo a Ucrânia. No entanto, nunca condenou Moscovo pela sua invasão e é o maior parceiro comercial e diplomático da Rússia.
A cimeira, que terminou ontem, recebeu depois os países parceiros da região Ásia Pacífico – Japão, Coreia do Sul, Nova Zelândia e Austrália.
A sombra de Trump
Ausente da cimeira, mas com o seu nome e a sua sombra a pairarem, esteve o antigo Presidente dos EUA e novamente candidato, com probabilidade de ganhar, Donald Trump.
Trump, que no passado manifestou admiração pelo Presidente russo, Vladimir Putin, critica há muito tempo a NATO por a considerar um fardo injusto para os EUA. O ex-Presidente tem dito que os EUA não devem proteger os membros que não cumpram a orientação da NATO de alocar 2% do seu PIB à defesa, questionou o envio de ajuda militar para Kiev e defendeu relações mais estreitas com o Presidente russo.
Para preparar a aliança, os líderes da NATO tomaram algumas medidas. Por um lado, nomearam Mark Rutte o novo secretário-geral – em grande parte porque os líderes viram o antigo primeiro-ministro holandês, que é um veterano da política transatlântica, expressar a vontade de trabalhar com Trump quando fazia campanha para o cargo. E transferiram elementos importantes da ajuda militar à Ucrânia – do financiamento à formação – do comando dos EUA para a alçada da NATO.
Além disso, um recorde de 23 dos 32 países da NATO atingirá a meta de gastos de 2% este ano, mais do dobro do que em 2021. Um Kremlin agressivo alertou a Europa, que também ouviu Trump dizer à Rússia para «fazer o que quiser» com os países da da NATO em incumprimento .
Mas os mais próximos do urso russo parecem tranquilos com um eventual novo mandato de Trump na Casa Branca. Polónia, Estónia, Letónia e Lituânia – que partilham uma fronteira espinhosa com a Rússia – lembraram que, sob Trump, os EUA aumentaram a sua presença militar na Polónia e nos Bálticos e que Trump tinha razão em chamar a atenção para os que incumpriam. Todas as nações bálticas alocam acima de 2%, e a Polónia lidera a aliança com 4,1% .
Uma vez que não são o problema, estão confiantes que o podem comunicar. «Trump é um jogador de golfe e a NATO é um clube», disse o ministro da Defesa da Estónia, Hanno Pevkur. «Quando se paga a taxa no clube de golfe, pode-se jogar».