Um grupo de associados da SEDES vê com preocupação a «tendência para uma crescente partidarização» da associação e quer mudar os estatutos. O alerta foi dado num manifesto a que o Nascer do SOL teve acesso e que é assinado por vários signatários – entre eles Abel Mateus, Luís Mira Amaral, Henrique Neto e Luís Filipe Pereira – dirigida ao presidente da Assembleia-Geral (AG) da SEDES, José Roquette. «O que se pretende, tão só, é isolar da esfera partidária, na medida do possível, a vida e influência da nossa sssociação, de forma a reforçar a aura de independência e credibilidade da SEDES, sabendo bem que muitos Associados (o que é de louvar) participam ativamente na vida política do país, das mais variadas formas», lê-se no documento.
Este grupo de signatários lembra que a SEDES «tem, desde antes do 25 de Abril de 1974, um código genético invejável de defesa da democracia liberal e da economia social de mercado», referindo ainda que «essa sua postura cívica e política, naquilo que a política tem de nobre no sentido da defesa desse modelo político e de sociedade para Portugal, não se pode confundir com atividades partidárias concretas com evidente visibilidade pública, coisa para que a SEDES não está nem nunca esteve vocacionada». E dizem que, no ano passado, a propósito da comemoração dos 50 anos de atividade, a associação publicou um livro comemorativo com um conjunto de propostas «que traduzem bem a visão para o nosso país dessa democracia liberal e dessa economia social de mercado que a SEDES e bem assim o vasto conjunto de associados que para ele contribuíram, subscrevem». Este grupo de associados viu «com crescente preocupação a atividade das distritais da SEDES, que, em vez de organizarem sessões e conferências para discutirem as propostas contidas no livro, organizavam sistematicamente sessões com membros do Governo para discutir temas governamentais». Na carta, referem ainda que «essa preocupação intensificou-se» quando o presidente do conselho coordenador, Álvaro Beleza, se envolveu ativamente nos confrontos próprios da política partidária como militante do PS. «Este alinhamento afetou gravemente, no nosso entender, a reputação e independência da SEDES e obstou a que pudesse ter nesta conjuntura política uma intervenção assertiva e pedagógica na defesa dos valores societais que norteiam a associação», escrevem.
Ao Nascer do SOL, Henrique Neto acrescentou que a SEDES, ao longo dos mais de 50 anos, nunca foi conectada com nenhum partido, e lamentou que «ultimamente por razões mais ou menos conhecidas tem sido um pouco conectada com o PS». Para o empresário, «não há nenhum problema grave na associação, é apenas uma chamada de atenção para que no futuro haja mais cuidado».
Confrontado pelo Nascer do SOL, Álvaro Beleza considerou que, face à sua participação frequente em programas de televisão, há um risco de as pessoas interpretarem as suas posições como sendo as da SEDES. «Ser militante não é um problema, a SEDES tem imensos sócios que são militantes dos vários partidos, o problema maior é estar frequentemente nas televisões, onde naturalmente toma posições políticas, o que já não é muito natural é que as pessoas interpretem essas posições como se fosse da SEDES, o que pode geral alguma confusão».
Álvaro Beleza reafirma a independência tanto da associação como dos seus associados e sublinha que é essa independência que permite aos membros e dirigentes tomarem decisões. «Não sou deputado, não exerço nenhum cargo politico, estou à vontade. Sou médico, tenho uma participação política como têm vários elementos na SEDES», diz Beleza, reconhecendo, no entanto, que o facto de ter sido mandatário da candidatura de Pedro Nuno Santos causou, na altura, mal-estar junto de alguns associados. «Suspendi as minhas funções quando fui mandatário. Estou tranquilo e é bom que haja debate sobre estes assuntos. A SEDES não impede os seus membros ou os seus dirigentes de poderem estar envolvidos em intervenções partidárias e não aceitei nenhum lugar político precisamente para poder manter-me na SEDES que gosto muito. Enquanto os sócios votarem em mim e na minha lista continuarei. Quando os sócios não quiserem, vou-me embora. Só estou enquanto os sócios mantiverem confiança em mim», frisou.
E recordou que na história da associação já houve vários presidentes envolvidos na vida política e que foram membros de Governos PS e PSD, como Guilherme d’Oliveira Matins e João Salgueiro, e a SEDES manteve a sua independência. O mesmo acontece com este Governo. «A ministra da Saúde era do observatório da saúde da sedes, o ministro da Educação era do observatório da economia e finanças, Agora, eu não tenho nenhuma função ativa na política e acho que a sedes até tem mais gente no PSD. Não tenho nenhum observatório coordenado por socialistas», concluiu.
A SEDES reuniu ontem à noite a sua assembleia-geral, que deverá ter apreciado esta proposta de alteração estatutária.