A ministra da Administração Interna conhece, como poucos, a vida das forças de segurança, pois além de ter sido diretora-geral do Serviço de Informações de Segurança (SIS) foi também inspetora-geral da Administração interna. É, por tudo isso, uma figura bem vista pelos polícias e militares da GNR, e conseguiu um acordo que muito poucos pensavam ser possível com as forças de segurança. Depois de ter conseguido a assinatura dos principais sindicatos, Margarida Blasco deu duas entrevistas, uma ao Observador e outra ao DN/TSF, acabando esta pode ter um forte impacto devido à afirmação de que é preciso tirar a fruta podre do cesto das forças de segurança, numa indireta aos supostos movimentos de extrema-direita que possam existir na PSP e na GNR.
Margarida Blasco, mais uma vez, soube muito bem o que quis atingir: se nos sindicatos que não assinaram o acordo e nos movimentos inorgânicos existentes pode haver rapaziada com simpatias pela extrema-direita, a ministra veio antecipar eventuais protestos, encostando-os às cordas, catalogando-os como fruta podre. Acontece que a ministra sabe muito bem que o principal responsável pelo ‘apagão’ do Movimento Zero foi o antigo diretor-nacional da PSP, Magina da Silva. Foi o homem com cara de duro e de poucas conversas que tratou de colocar ordem na casa. Hoje, o Movimento Zero e o Inop são quase inexpressivos daí o tiro da ministra ser uma jogada política, com pouco conteúdo prático, mas que animou muito as hostes ‘paineleiras’ cá do burgo. E é preciso não esquecer que algum pessoal da Guarda Prisional é considerado o mais radical nas manifestações, sendo que desses tratou a ministra da Justiça com o acordo idêntico ao da PSP e GNR. Cada vez mais se vive das aparências, pouco interessando o conteúdo.
Por fim, todos sabem que o subsídio atribuído apenas serve para ‘minorar’ os ordenados muito baixos das forças de segurança, já que o que seria suposto era tratar-se de um verdadeiro subsídio de risco que deveria atender às especificidades de cada elemento das forças de segurança.
Como é óbvio, assim é mais fácil. Dá-se igual a todos e o problema está resolvido. Um bom retrato do país, onde um médico que seja competente ganha o mesmo do que um incompetente e que não cumpre horários no SNS; ou de um professor que se entrega a ajudar os alunos com mais dificuldades e consegue ótimos resultados, mas vai receber o mesmo do que um colega que passou vários dias de baixa na praia ou que as turmas registaram níveis fraquíssimos de aproveitamento. Não existe, de facto, uma cultura do mérito em Portugal. Por isso, as juventudes partidárias, os sindicatos, como as maçonarias e afins são tão importantes neste país tão simpático para se viver.
P. S. No Parlamento Europeu, Catarina Martins, do BE, votou ao lado de Tânger Correia, do Chega, tendo ambos optado por se abster na resolução de apoio à Ucrânia. O PCP também foi fiel a si próprio e votou contra. É bonito quando os extremos se tocam.
P. S. 1. Santana Lopes, no seu comentário semanal do Now, confirmou que ainda não desistiu de se candidatar à Presidência da República. O presidente da Câmara da Figueira da Foz tem imensa graça e demonstra que continua a sonhar, mesmo quando está acordado.