Lembram-se da crise mundial das dívidas soberanas e dos jovens, e alguns menos jovens, acampados ilegalmente perto dos locais que simbolizam o poder político e económico de cidades como Madrid, Londres, Nova Iorque e outras?
Os valores e ideologias defendidas pelos membros desse movimento, que ficou conhecido como OKUPA, nunca foram totalmente claros. Percebeu-se que a luta era pela igualdade nas oportunidades e pela defesa de um sistema financeiro capaz de refletir (mais) justiça. As movimentações destes grupos foram herança/evolução dos protestos antiglobalização que nos anos 90 geraram caos nas cidades onde se reuniam organizações como o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial de Comércio.
Salvo opiniões contrárias como a da cientista política Naomi Wolf, a diversidade de ideologias que coabitaram nos OKUPA criou um melting pot. O todo constituía-se através de clusters que dificultaram a criação de uma narrativa única (tão importante nestes casos), clara e capaz de se explicar perante o mundo.
Ao fazerem uso das tecnologias da altura, os OKUPA muniram-se da capacidade de produzir e difundir conteúdos e realizaram-se em coordenação através dos contactos com manifestantes noutras zonas do planeta. Mas, a incoerência de valores comuns a vários elementos do grupo e a instalação de um espaço virtual sem hierarquia, fechou os OKUPA nos seus próprios modelos de comunicação.
Mas atenção, este conjunto de ideias que desaguavam num mesmo ponto, não deve ser confundido com falta de organização ou com a ausência de uma estrutura capaz de criar um conjunto de regras sociais exclusivas ao espaço do protesto. O caso de NY mostrou ao mundo uma organização que levou mesmo ao desenvolvimento de uma cultura multimédia, com a produção de obras artísticas, algumas das quais com direito a espaço de exposição em museus como o National Museum of American History ou o New York Historical Society.
A estrutura do movimento de Nova Iorque assentou na Democracia participativa, através da constituição de grupos de trabalho onde qualquer um teve a oportunidade de expressar o seu pensamento. Havia também uma General Assembly onde se discutiam questões mais importantes.
E hoje? Como se solidifica a ideia de protesto nos dias de hoje?
A resposta parece infelizmente simples. Uma parte significativa da organização das ideias e das formas de protesto parecem banalizadas. O importante é protestar e estar/ser do outro lado. Fazer barulho de uma forma radical e se possível anular o outro. Mas se há algo que nos faz ser civilizados é a nossa capacidade de lidar com a diferença e com o outro que não tem a mesma opinião. A ideia de protestar nos dias de hoje não precisa de muita solidez no conteúdo. Hoje o protesto parece não necessitar de uma maturidade democrática pacifista onde possa haver pelo menos algo em comum a quem está em lados opostos – a não violência.
Professor Universitário
Diretor da licenciatura em Ciências da Comunicação – Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona -Centro Universitário de Lisboa.