Escrevi em setembro de 2021 o artigo Lisboa – Meritocracia ou a vitória do clã? onde manifestei o meu desejo em ver interrompido nas eleições seguintes o domínio na Câmara de Lisboa pelo clã Sócrates/Costa, na altura personificado pelo então presidente de câmara, Fernando Medina. Apelei, nesse artigo, à sensatez dos lisboetas para elegerem o agora presidente Carlos Moedas. De então para cá tenho, contudo, manifestado por diversas vezes o desapontamento das expectativas goradas.
Enquanto cidadão, preocupado, interveniente e observador vejo uma Lisboa desleixada, muito suja, esburacada e insegura. Enquanto gestor acompanho com frequência os atos de gabarolice por parte do executivo, e com particular destaque para o discurso e modelo de comunicação usado pelo presidente da câmara, que não tem qualquer adesão à realidade. Na minha opinião, Carlos Moedas, adotou e aperfeiçoou a pior técnica dos socialistas, que consiste em comunicar inverdades, tentando convencer os mais incautos, pela insistência do discurso, de uma realidade que apenas existe na ficção. Este é um modo de estar na política que me causa repulsa.
Os resultados não são bons e por incrível que pareça são piores que o pior dos tempos anteriores que, já de si, eram maus. Lisboa está mais suja, mais insegura, mais caótica, mais esburacada. Lisboa tem hoje um número de sem abrigos nunca antes visionado; a má gestão da cidade é a causa de tanto desacerto. Toda esta situação se torna mais preocupante e grave porque nas palavras do presidente, Carlos Moedas, Lisboa está transformada, é um exemplo de boas práticas e a sua gestão tornou-a numa cidade de extraordinários ‘novos tempos’. Não é verdade, e a exigência da transparência em democracia obriga-me a sublinhar aquilo que considero uma fraude comunicacional. Lisboa tem um orçamento anual estratosférico de cerca de € 1.300.000.000 (Mil e trezentos milhões de euros). São € 1.300.000.000 todos os anos; mal utilizados e mal geridos.
Como se não bastasse a sujidade, o mau tratamento do espaço publico e a insegurança (não reconhecidas pelo executivo camarário), assisto frequentemente a Carlos Moedas a mencionar a existência de um centro de competências e inovação a que decidiu chamar a Fábrica de Unicórnios. Esta é outra fraude comunicacional. Não há nem fábrica nem unicórnios. Não há centro de competências e o espaço que apelidam de Fábrica de Unicórnios é um barracão mal cuidado, próprio de uma cidade subdesenvolvida.
É lamentável e preocupante que os sound bytes e as peças de Tik Tok, sem adesão à realidade, satisfaçam, como aparentam satisfazer, o presidente da Câmara de Lisboa. Lisboa precisa rever, profundamente, a forma como os seus serviços camarários estão (des)organizados, precisa rever a forma como o espaço publico é limpo e protegido. Tudo o resto é secundário. A Lisboa mal tratada precisa de melhor executivo, de seriedade e de trabalho sério. Não vemos nem trabalho nem resultados, vemos comunicação altamente profissionalizada, mas que não passa de mensagem sem adesão à realidade. Os novos são, afinal e infelizmente, velhos e maus tempos.
CEO do Taguspark, Professor universitário