O título deste artigo, algo presciente em termos diplomáticos e políticos, é de Dennis Ross no seu livro The Missing Peace de 2004. Ross foi negociador-chefe para a paz no Médio Oriente do Presidente George H. W. Bush e do Presidente Bill Clinton. Destacadíssimo diplomata, cedo entendeu a realidade e claro os ‘muros’ existentes na resolução deste conflito.
Perceber a guerra que decorre em Gaza, obriga a mergulhar na longa história deste desencontro. Estar consciente das suas dramáticas vicissitudes e consequentes narrativas. É verdade que cada tempo histórico é um tempo diverso. Que os momentos da geopolítica internacional se reinventam. Que as realidades se abrigam na vontade dos seus destinatários. Que o destino está muitas vezes nas mãos dos povos e dos seus líderes. O pulsar das narrativas Palestinianas e Israelitas percorre caminhos que se excluem nas identidades irreversíveis e amiúde no extremismo ideológico e nacionalista.
O novelista e pacifista israelita Amos Oz referia na sua prosa contra os fanatismos: «… que os conflitos internacionais são mais fáceis de resolver do que os internos … Que este é um conflito territorial sobre a dolorosa questão: de quem é a terra? … Um conflito entre quem tem razão e quem tem razão, entre duas reivindicações muito convincentes, muito poderosas, sobre o mesmo pequeno país».
A atual guerra em Gaza está a terminar. As Forças de Defesa de Israel ocupam militarmente uma Gaza destruída e exercem o controlo em termos militares. O Hamas já não tem capacidade militar ofensiva, apenas resiste através de uma guerrilha descentralizada e o seu armamento e munições começam a escassear. A posse dos reféns em modo trágico ‘dá-lhe mais uma vida’ neste campo de batalha infernal! Em Gaza reina uma crise humanitária trágica sem precedentes e um vazio político insustentável. A ONU nunca percebeu como lidar com esta guerra, contribuindo fortemente para ser colocada à margem de todo o processo; da guerra, da paz e até do futuro. O Hamas e a causa palestiniana, em versão deste movimento, ganharam no entanto e por larga margem, no espaço mediático global. Dos Estados Unidos à Europa. Reconstruir Gaza demorará décadas. O dia 7 de outubro esse jamais será esquecido por Israel.
As estratégias políticas mais sonantes deste eterno conflito apontam sempre na direção do ‘tudo ou nada’! Para o Hamas e os seus aliados – ‘do rio ao mar’ -, ou seja obliterando o Estado de Israel, num crescendo de antissemitismo; por parte das intenções políticas mais radicais em Israel, de alargar os seus domínios de ocupação na Cisjordânia, dando voz continuada aos movimentos ultraortodoxos e de extrema-direita, e colocando ainda mais no vazio a solução dos ‘dois Estados’.
Os interesses geopolíticos do Irão na região permitem controlar e dirigir as ações políticas, militares e atividades terroristas do Hamas, do Hezbollah, dos Houthis e outros grupos radicais contra Israel, impedindo em conjunto qualquer narrativa de paz e vontade na resolução deste longo diferendo. E mantêm o Líbano em constante pé de guerra, só não avançando por temerem transformá-lo numa nova Gaza.
A administração de Joe Biden e Antony Blinken tudo fez para resolver esta guerra e mesmo este conflito. Mas foi quase sempre desacompanhada, até mesmo pelas principais organizações internacionais. Da Europa não se viu erguer um único plano de paz coerente, sustentável e exequível. Apenas retórica!
E assim a paz continuará a ser por aqui, um destino perdido.
Coronel e especialista em geopolítica