Muito provavelmente se alguém for desafiado a pensar em qual seria a fotografia mais célebre da história, a resposta mais rápida seria o icónico wallpaper do Windows: a colina verde e o céu azul com nuvens, num enquadramento tão perfeito que na altura já fazia duvidar se a imagem não se tratava de um desenho, embora os photoshops, os filtros, as montagens e a inteligência artificial ainda não pedissem a verificação da autenticidade de cada registo. Passaram quase 30 anos desde que Charles O’Rear capturou aquele “quadro”, na zona Norte de São Francisco, na Califórnia. Hoje seria difícil conseguir um feito igual, dada a oferta de imagens que os computadores fornecem cada vez que são reiniciados, numa possibilidade de dar a volta ao mundo em apenas um dia – o que pensaria hoje disto o cavalheiro inglês Phileas
Fogg e o seu empregado?
Mas O’Rear não foi o único que conseguiu a façanha de tornar uma fotografia inesquecível. Produzida em 1984 e capa da National Geographic, os olhos de Sharbat Gula, eternizada simplesmente como “A Rapariga Afegã” – à data com apenas 12 anos –, colocaram Steve McCurry na galeria das fotografias
mais memoráveis de sempre.
A estas juntam-se as fotografias de Robert Doisneau e de Alfred Eisenstaedt, ambas feitas após a II Guerra mundial, com aqueles que ficariam como os beijos mais conhecidos da história da oitava arte. A primeira mostra um casal nas ruas de Paris e a segunda um soldado americano e uma enfermeira na Times Square, nos EUA.
Numa fase em que a espetacularidade das fotografias parece ser uma competição cada vez mais inglória, nos últimos dias chegou mais uma relíquia para a coleção. A foto mais partilhada da última semana saiu da lente da máquina do fotógrafo Jerôme Brouillet, da Agence France-Press, e mostra Gabriel Medina suspenso, no meio do mar, a apontar para o céu. Em Teahupo’o, Taiti, o surfista brasileiro competia nos oitavos de final dos Jogos Olímpicos – onde, diga-se de passagem, Medina conseguiu o apuramento para a fase seguinte com uma nota olímpica recorde (9,90). Porque a nota máxima, o 10, parecia já estar destinada à fotografia de Brouillet.
Com o Dia Mundial da Fotografia a aproximar-se (19 de agosto), um registo digno de ser emoldurado, numa altura em que as memórias dos smartphones são entupidas com milhares de imagens para mais tarde supostamente recordar – ou apagar…