Há amizades de infância que ficam para a vida? Não há nenhuma fórmula mágica e se há casos em que isso acontece há outros nem por isso, como admite o sociólogo João Sedas Nunes. “Há amizades que se formam na primeira infância e que perduram, há outras que não e há outras que até são reinventadas depois de períodos de interrupções”, salienta.
As razões para isso acontecer podem ser as mais variadas. Há quem ponha um ponto final numa relação de amizade por ter seguido caminho diferente e já não se identificar. E é certo que as dificuldades podem separar as pessoas ou, então, torná-las mais cúmplices. Uma amizade duradoura depende essencialmente do respeito mútuo e da capacidade que um tem para desculpar e compreender o outro.
No entanto, vários investigadores têm revelado que temos tendência para escolher amigos que são muito parecidos connosco: idade, raça, religião, estatuto socioeconómico, nível de escolaridade e inclinação política semelhantes. Uma realidade destacada pelo professor universitário. “Quer a probabilidade das amizades precoces poderem persistir pela vida fora, quer outro tipo de amizades formadas mais tarde assenta num efeito que é muito claro que é quanto mais próximos estivemos no espaço social com os indivíduos envolvidos mais forte tenderá ser a possibilidade das amizades durarem”, revela o sociólogo, que, ainda assim, reconhece que “esta não é uma regra absoluta”.
E lembra que manter amigos de infância na vida adulta depende, muitas vezes, dos meios sociais em que estão envolvidos. “Por exemplo, nas famílias que querem preservar um certo património e que se ocupam bastante da ocupação dos seus filhos em termos de redes sociais, as amizades de infância tendem-se a preservar, mas mais como consequência de um movimento mais amplo que nem sequer é determinado pelos próprios. É, muitas vezes, determinado pela família e isso significa: ‘Os teus amigos vão para aquele colégio então tu também vais’, depois o mesmo exemplo segue-se nas mesmas universidades. Há troca de informação a esse respeito expressamente porque há apostas que têm um alcance tão alto como forjar possíveis alianças familiares através do casamento”, afirma João Sedas Nunes.
Vida universitária com maior peso
O sociólogo reconhece, no entanto, que “um dos tempos fundamentais de formação de amizade não é da inteira responsabilidade das leis do mundo social, mas da frequência universidade”, referindo que essa altura “é para os jovens o momento de formação das suas principais redes de amizade que depois transitam para a vida adulta”.
Uma explicação que, diz, se deve ao facto de terem a mesma formação académica, as mesmas apostas profissionais, etc. “É um mundo que se vai fechando e que tem na amizade uma componente num mundo que é mais vasto e envolve também, muitas vezes, namoros, casamentos e começa a formar uma rede que se vai fortalecendo”.
As formas de amizade vão também variando consoante o sexo. De acordo com um artigo publicado pelo jornal britânico The Guardian, os homens precisam de se encontrar fisicamente e partilhar atividades em conjunto, já as mulheres optam por manter as suas relações de amizade através de longas conversas ao telefone, que acabam por substituir a presença física.