Supertaça. No circo das feras o leão está sozinho

Hoje, em Aveiro (20h15), joga-se a Supertaça com um superfavorito Sporting e um FC Porto pobre.

No nosso futebolzinho pobrete e muito pouco alegrete, pejado de jogos verdadeiramente pavorosos, tantos deles disputados a horas impróprias de dias impróprios, o início de época é marcado por um dos troféus mais ‘baratunchos’ e mais desinteressantes de todos, a Supertaça Cândido de Oliveira (coitado do mestre Cândido, a quem os amigos chamavam de Chumbaca, que não merecia ter o nome associado a coisa tão  sem relevância), a qual muitos dos descerebrados que debitam asneiras gratuitamente até apelidam de um título como se fosse resultado de uma competição e não apenas de um jogo solto e independente. Desta vez (ao menos isso), teremos frente a frente em Aveiro, hoje pelas 20h15, o campeão e o vencedor da Taça de Portugal da época passada e não, como tantas vezes acontece para desespero daqueles que, como eu, pretendem ter respeito pelas competições, um mero finalista vencido. Sporting e FC Porto em fases muito distintas das suas existências bater-se-ão pelo troféu. Não há nenhum clube que se possa sentir verdadeiramente mais rico por somar uma Supertaça à coleção de taças que possui. Ainda por cima se falarmos daqueles que são os três ditos Grandes do futebol português, perdoar-me-ão o à parte, mas cada vez menos grandes à medida que as épocas vão passando por eles, ano após ano mais medíocres na Europa, cada vez mais frequentemente envergonhados por conjuntos que não passam do meio da tabela dos campeonatos mais importantes. Mas isso são outros quinhentos e ainda estamos para assistir à degola dos inocentes inevitável na Liga dos Campeões, agora num formato mais ingrato para os nossos bisonhos representantes, já que a Liga Europa e a Liga Conferência são apenas dignas da terceira divisão do Velho Continente e acabarão, mais cedo ou mais tarde, por desaparecer tal a sua astenia irrefutável.

Em Aveiro

Voltemos a Aveiro. Não há forma de não considerar o Sporting favoritíssimo perante um FC Porto tão pobre que já nem consegue ir à feira comprar pechisbeque. Realidade triste mas que não se disfarça. Ainda por cima quando, durante anos a fio, os adeptos endeusaram um presidente caduco, cheio de farronca mas reduzido a ela. No fundo cozeram o ovo da serpente no ninho e agora veem-se a braços com aquilo em que não quiseram acreditar. Se na época passada estivemos perante a mais fraca equipa portista dos últimos vinte anos, agora que dizer desta? A menos que Vítor Bruno seja um milagreiro até agora desconhecido, a vitória dos leões neste primeiro jogo a sério da nova época é inevitável. Até porque, do outro lado, estará um conjunto que pode ter perdido o seu capitão Coates mas que continua a ser, de longe, o melhor do futebol português. É verdade que depende muito (talvez demais) dos golos de Gyökeres, e rezarão os adeptos verde e brancos para que nenhum clube maior o leve e que não tenha lesões porque, de facto, é insubstituível. Mas o rapaz vai respirando saúde e ninguém ficará surpreendido se for a figura maior do jogo de Aveiro.

Gostamos, até por conveniência de escrita, de viver, no nosso futebol, num circo de feras, sejam elas leões, dragões, águias ou panteras. E, neste circo, o leão está cada vez mais sozinho no topo. Venceu o último campeonato com uma facilidade que não pode merecer qualquer reparo e deixou os dois infelizes adversários diretos muito, mas muito longe da sua eficácia e da sua qualidade. Olhamos para o que se passa neste momento e vemos o quê? Um Sporting a conservar os jogadores fundamentais, um Benfica à toa sem saber quem vender nem quem comprar (admita-se que tenha contratado um ponta de lança mais capaz, mas volta a cair no erro de insistir em Di Maria, juntando um reformado a um conjunto que decididamente não precisa dele e descurando o reforço de uma defesa com centrais de pouca qualidade e de um substituto para a dimensão do campo que tinha João Neves), e um FC Porto que se vê obrigado a apostar numa equipa de meninos, espécie de melão que ainda estamos para ver o que vale mas que não tem estrutura para ser considerado um perigo (olha-se para os  nomes que têm feito os jogos de pré-época e a falta de qualidade é chocante). E, assim sendo, só por inépcia – e ninguém pode juntar a palavra inépcia ao nome de Ruben Amorim – é que o leão não continuará a dominar por completo o pobre panorama nacional. Convenhamos: enquanto muito se fala e se discute sobre jogadores que vão e vêm, ou que poderão ir ou não vir para as bandas da Luz, enquanto pelas Antas o caso chega ao ponto de ainda não percebermos quantos tostões estarão nos bancos ou fora deles, em Alvalade navega-se em águas pacíficas, apesar de vermos gente que  precisa de se afirmar. Não há discussões nem revoluções, não se vende gente de qualidade ao desbarato nem se compra por atacado como nas vizinhanças da Segunda Circular, percebendo-se que o desespero é tanto que o Benfica até parece disposto a tornar-se numa espécie de albergue espanhol onde podem caber antigas figuras que  andaram nos últimos anos a arrastar-se pela lama e que parecem ter a aura de Messias. Não há nada que nos impeça de escrever, mesmo com a consciência da volubilidade da bola, que este Sporting-FC Porto tem tudo para ser desequilibrado. A favor está-se mesmo a ver de quem.