Não fosse a desgraça dos venezuelanos e diria que fiz uma das descobertas mais hilariantes dos últimos tempos ao encontrar o canal Telesur, da televisão de Nicolás Maduro. Como estava uma noite escaldante e os canais portugueses já estavam em serviços mínimos e não me informavam sobre o que se passava na Venezuela, comecei à procura de notícias, até que cheguei a essa preciosidade chamada Telesur. O cenário faz-nos recuar uns bons anos, mas os diálogos são hilariantes, havendo até diretos com o Presidente Maduro e a sua guarda pretoriana.
A defesa do sistema é tão cega que os comentadores e os jornalistas se atropelavam nos elogios, não tendo eu percebido a razão para não terem feito uma vénia quando Nicolás Maduro apareceu em cena. Confesso que, às tantas, estava enternecido com aqueles fiéis seguidores da ditadura. Como é sabido, houve eleições presidenciais no país, e todas as sondagens davam uma vitória esmagadora à oposição. Não havendo observadores independentes, consta que estava lá uma rapaziada da Bielorrússia, a televisão estatal cedo deu a vitória a Maduro, com 51% dos votos, mas a atrapalhação era tanta, que depois na soma total dos votos dava mais do que 100% ao total dos concorrentes._Uma coisa hilariante.
Nessa noite a que assisti,_Maduro e a Telesur fizeram um ataque cerrado a Elon Musk, acusando-o de estar por detrás de um ataque informático, que impossibilitou o Governo de mostrar ao mundo as contas bem feitas. Depois, vi várias peças onde os jornalistas acusavam a comunicação social internacional de instigar à violência, quando até se viam imagens das milícias a atacarem os opositores. O filme é maus demais, mas os venezuelanos é que são os maiores perdedores. Nessa noite, o canal público insistia em dar destaque a um comunicado da Nicarágua a parabenizar Maduro, à semelhança da Rússia e da China.
No dia seguinte, o Partido Comunista Português dizia de sua justiça. «O PCP saúda a eleição de Nicolás Maduro como Presidente da República Bolivariana da Venezuela, bem como o conjunto das forças progressistas, democráticas e patriotas venezuelanas que alcançam mais uma importante vitória com esta eleição, derrotando o projeto reacionário, antidemocrático e de abdicação nacional».
O mais impressionante disto tudo é que o PCP sabia perfeitamente que o maior ‘chavista’ e ‘madurista’ da América Latina, Lula da Silva, preferiu aguardar pela verificação dos resultados para se pronunciar. Mas o PCP, no seu ódio ao capitalismo, querendo culpar os EUA de tudo, defendendo os regimes mais carniceiros, em nome do seu ódio ao imperialismo, revela o seu apoio a um ditador que insiste em levar o seu povo para a miséria mais absoluta, enquanto se mantém no poder. O_PCP caminha alegremente para a crónica de uma morte anunciada. Nem os comunistas mais mal tratados pela ditadura portuguesa conseguem perceber esta posição do PCP. Nem o próprio secretário-geral do PC da Venezuela que ao Observador questionou o partido da Soeiro Pereira Gomes: «Sabem como os trabalhadores e os sindicalistas que reclamam os seus direitos são presos? Sabem que os sindicatos não podem realizar as suas eleições porque (Nicolás Maduro) interveio judicialmente, porque o governo não tinha possibilidade de vencer junto dos sindicatos?».