As coisas são o que são…

O Charlie Hebdo serviu de lição. No mundo woke, escasseiam os heróis e sobram as vítimas.

Comecemos por esta contrafação politicamente correta da Grécia clássica que são os jogos olímpicos modernos. Esta edição teve, em Paris, uma cerimónia de abertura à sua exata medida. Quanto ao alvo principal da coisa, a Igreja Católica, sobrevivendo ao wokismo do interior, seguramente irá sobreviver ao wokismo sórdido das margens do Sena. A Igreja é eterna. Os idiotas, transitórios.

Uma nota ainda: muitos se interrogam por que razão se não meteram aqueles senhores com o profeta Maomé. É simples: o Charlie Hebdo serviu de lição. No mundo woke, escasseiam os heróis e sobram as vítimas. De tudo e de todos. Exceto deles próprios, claro.

Do lado de lá do Atlântico, a comédia da ‘democracia em perigo’. Já aqui contámos os primeiros episódios: os processos falhados a Trump, a sua vitória nas Primárias republicanas, a estrondosa vitória de Biden nas Primárias dos democratas, o atentado falhado. Vamos, agora, ao essencial e que tudo diz sobre quem é quem no respeito pela democracia, pela verdadeira: temos, então, o recandidato Biden nas primárias esmagadoramente eleito. Um portento de saúde e de vivacidade, dizia-se, e os inúmeros vídeos desde há anos a passar nas redes sociais com um Biden perdido no seu labirinto eram a usual ‘desinformação’ da ‘extrema-direita’. O debate corre mal ao incumbente. Algum pânico, mas não muito. Só que Trump sobrevive a um mal explicado atentado e, logo após isto, milagre! A ‘desinformação’ da ‘extrema-direita’ era, afinal, informação. A leve preocupação com o seu estado passa a pânico. Obama, os Clinton, Pelosi abrem a porta do todo-o-terreno e abandonam Biden no meio do deserto. Sem cantil. De súbito também e estando o tempo propício aos milagres, Kamala Harris, vinda da extrema-esquerda do partido, senhora de quem todos os barões democratas sorriam com desprezo, transmutou-se num génio político, a heroína, a Joana d’Arc ungida para vencer o dragão Trump e ‘salvar a democracia’. Mas, afinal, quem representa um perigo para a democracia? Trump, que venceu as Primárias do seu partido, que exerceu o seu mandato sem que lhe possa ser assacado o mais pequeno atropelo à Constituição, ou o partido democrata que afastou, sem cerimónias, o candidato maciçamente eleito pelos militantes apenas porque as sondagens lhe asseguravam uma derrota frente a D Trump? Isto, que acaba de se passar nos Estados Unidos, apenas nos diz o seguinte: que a casta instalada nos centros de poder do mundo ocidental está disposta a tudo, mas a tudo mesmo, para manter os privilégios que foi acumulando e consolidando ao longo de dezenas e dezenas de anos de conluios vários. Isto de ambos os lados do Atlântico.

Finalmente, a sul, na Venezuela e não na Hungria do detestado Viktor Orbán, uma lição de vida ao PPE, esse topo da pirâmide da casta de Bruxelas. Os seus deputados europeus desembarcam despreocupadamente no aeroporto de Caracas. Com a segurança que, julgavam, lhes daria o seu certificado de bom comportamento democrático pelas linhas vermelhas sempre colocadas à ‘extrema-direita’ e pela infinita complacência sempre demonstrada com a extrema-esquerda, imaginar-se-iam bem vindos à benévola e democrática ditadura do senhor Maduro. Não passaram do aeroporto. Depois, a gigantesca fraude eleitoral foi o que se viu e vê, perante o embaraço do centrão europeu. As coisas são o que são.

Vice-presidente da Assembleia da República