Agosto

Sempre tive uma grande admiração por esta movimentação de pessoas.

Querida avó,

Em muitos países europeus, agosto é o mês de férias para a maioria dos trabalhadores. No meu caso em particular, julgo que não tenho férias nesta altura do ano desde o tempo das férias escolares. O mês de agosto é o tempo da peregrinação dos emigrantes às suas terras de origem. Neste tempo de férias, vindos de todos os países do mundo, os portugueses da diáspora regressam ao país, à terra, a casa, à família. É aqui, em Portugal, que têm as raízes e este é o momento de matar saudades, de rever amigos, de carregar baterias.

Sempre tive uma grande admiração por esta movimentação de pessoas.

Confesso-te que, se se fosse emigrante, não sei se gastava as férias todas em deslocações à pátria. Eu percebo que as “Saudades falam mais alto”… mas passar uma vida inteira sem visitar outros países, outras culturas … não sei se aguentava. Mas entendo perfeitamente.

Como dizia a canção do Dino Meira: «Meu Querido Mês de Agosto/ Por ti levo o ano inteiro a sonhar/ Trago sorrisos no rosto/ Porque sei que vou voltar».

Felizmente, estou com imenso trabalho. Ao contrário de milhares de portugueses não vou parar. Vou percorrer o país de norte a sul, mas na labuta. Aproveito o meu trabalho para descobrir mais sobre a nação, a sua cultura e tradições.

Como dizia a canção de Mário Gil: «Pelos caminhos de Portugal/ Eu vi tanta coisa linda/ Vi um mundo sem igual».

Sendo Portugal um país rico em tradições, como não podia deixar de ser, é neste mês que se celebram, com entusiasmo e fervor, uma variedade de Festas e Romarias.

A Ericeira deve estar cheia de turistas. Não é este o mês em que se celebram as Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem?

Ainda não te vi com a t-shirt “God Sabe the Quim”, com a imagem do Quim Barreiros, que te ofereci pelo Natal.

Estás à espera do inverno?

Bjs


Querido neto,

Para começar, fica a saber que já vesti imensas vezes a t-shirt! Como não podia deixar de ser, faz um sucesso aqui na esplanada da Praia do Sul, na Ericeira. Ao ponto de haver imensa gente que quer tirar fotografias comigo. Não sei se é por causa de me reconhecerem ou devido à vestimenta.

Este mês também é o escolhido por muitos para casar.

Já que referiste algumas pérolas da música portuguesa, não podemos esquecer a grande canção do meu Amigo Quim Barreiros em que diz que: «Qual é o melhor dia pra casar/ Sem sofrer nenhum desgosto/ O trinta e um de Julho/ Porque depois entra Agosto».

Também nunca fui de ir de férias em agosto, embora tenha imensas memórias de Verão que me ligam a locais como Aveiro, Costa Nova, Ílhavo, Caldelas e tantos outros.

No meu livro “Aguas de Verão” levo os leitores numa curta viagem ao meu passado. Recordo a minha infância e a vida no seio de uma família muito tradicionalista, formal. Partilho como as ideias de respeito e de bom comportamento podem inquinar a alegria de viver, se impostas de forma rígida e como simples convenções. Apesar disso, os vários irmãos desta família problemática (a minha) acabam por descobrir o sabor da alegria e o prazer do divertimento na personagem de um saxofonista bem-humorado com quem travam conhecimento num hotel de termas, no Luso.

Não imaginas a trabalhadeira que me deu a escrever o livro “Praias de Portugal”. Percorri a costa portuguesa, de Caminha a Vila Real de Santo António, com o fotógrafo Maurício de Abreu. Dessa viagem nasceu este livro, um dos guias mais completos das praias portuguesas – onde ficam, como estão, que têm para ver, como eram no tempo dos nossos pais e avós. No final, estava com uma cor que não imaginas. Todos julgavam que tinha estado três meses na praia, deitada na areia. Eu que me fartei de trabalhar, nas praias, sem me deitar uma única vez na areia.

Bjs