O cenário de instabilidade política insiste em permanecer no dia a dia dos portugueses, fruto da falta de responsabilidade política e da capacidade de diálogo por parte dos vários protagonistas.
O Governo não devia agir com a sobranceria que tem demonstrado, fica-lhe mal e nem sequer tem a mínima condição política para tal comportamento. Cabe a Luís Montenegro procurar entendimentos com outras forças políticas de forma a garantir a aprovação do Orçamento de Estado, mas terá que demonstrar humildade e fazer algumas cedências como é natural em qualquer negociação.
O estilo arrogante com que o Governo se apresentou no Parlamento durante o debate do estado da nação é um indicador preocupante, denota por um lado falta de sentido de responsabilidade e por outro uma estratégia política que tem por objetivo provocar eleições antecipadas.
A AD não pode impor o seu programa de Governo às outras forças políticas, porque não tem maioria absoluta. É necessário retirar e alterar algumas medidas do seu programa e integrar outras de partidos com quem se venha a entender, de outra forma, será difícil passar o OE. No debate no Parlamento não foi apenas a arrogância do Governo que se destacou, também foi evidente a vontade de levar o país para eleições antecipadas.
A oposição está a fazer o seu papel, sendo que não deve ser ignorado que o Presidente da República indigitou o primeiro-ministro com base na maioria de direita que existe no Parlamento, portanto, não será à esquerda que deve ser exigida a responsabilidade pela aprovação do OE.
O PS e os outros partidos de esquerda apresentaram programas eleitorais muito diferentes do programa do governo, não se lhes pode agora pedir que viabilizem um conjunto de medidas e políticas diferentes das que defendem e apresentaram aos portugueses.
Dito isto, o Governo tem três caminhos. O caminho natural que passa por negociar e entender-se com o Chega e com a IL, colhendo os votos da maioria parlamentar de direita. Também pode recorrer a outro caminho mais estreito que é negociar e entender-se com o PS que, obrigatoriamente e com toda a legitimidade, irá impor mudanças significativas ao programa da AD e, por fim, pode optar por um caminho muito sinuoso que o poderá levar ao abismo, mantendo a arrogância e procurando ir para eleições antecipadas.
Um cenário de eleições antecipadas poderá ser nefasto para o Chega, que correrá o risco de perder deputados e esse poderá ser um motivo forte para que o Chega ceda na votação do OE para evitar este cenário.
Por outro lado, a AD e o PS, não ganhariam nada de diferente, e se a estratégia de Luís Montenegro assenta na esperança de vencer com maioria absoluta umas eleições, agora antecipadas, parece-me demasiado otimista, para não dizer sonhador.
Montenegro não é Cavaco e o país também já não é o mesmo!