Portugal não está só

Portugal tem de ser o principal aliado dos países de língua portuguesa no espaço Schengen.

Portugal mistura-se na identidade da Lusofonia e nos caminhos vindouros a percorrer com os diversos países de expressão portuguesa. Por mais que custe aos movimentos populistas dos últimos tempos, Portugal não está sozinho nos planos europeu e mundial, sendo fundamental que insista na concretização plena das diversas iniciativas multilaterais que se encontram em suspenso nas instâncias europeias.

A possível vitória de Donald Trump nas próximas eleições presidenciais norte-americanas, a par das previsíveis maiorias de um setor republicano mais extremista na Câmara dos Representantes e no Senado, torna as alianças naturais de cada Estado-Membro da UE decisivas para o futuro global, devendo ser incentivadas e preparadas atempadamente para este cenário. Se o Brasil é a porta lusófona para o espaço Mercosul, Portugal tem de se assumir como o principal aliado dos países de língua portuguesa dentro do espaço Schengen.

Este planeamento terá de desenvolver-se desde a base, das autarquias portuguesas ao Comité das Regiões, do Governo ao Parlamento Europeu e Comissão Europeia, e das organizações internacionais como a CPLP ao Conselho Europeu, e sem incoerências no terreno, porque é impensável, senão mesmo inaceitável, que vários centros culturais portugueses em nações africanas que partilham a mesma língua estejam a cobrar valores monetários pelas aulas de Português.

Só o respeito pela Lusofonia como desígnio permitirá consolidar os principais pilares europeus referentes à justiça social e à salvaguarda dos direitos humanos, obrigando a Europa a focar-se no essencial, em vez de perder tempo na discussão em torno das assinaturas de acordos por parte de alguns países africanos com a Rússia, retirando-os do contexto oriundo da intensa ligação de largas décadas desde os respetivos períodos de libertação e tempos subsequentes às declarações de independências, tanto ao nível da formação de quadros como de construção de infraestruturas nacionais realizadas pela antiga URSS.

Para mudar esse paradigma, as medidas de cooperação aprovadas entre a União Europeia e a União Africana, no âmbito de uma Estratégia Conjunta África-UE, nos campos da solidariedade, da segurança, da paz, do desenvolvimento sustentável e de uma prosperidade partilhada, têm de passar urgentemente das palavras aos atos.

Como um novo acordo mais abrangente dessa estratégia foi bloqueado no Conselho Europeu durante vários anos, a eleição de António Costa aumenta as expectativas, esperando-se que consiga concretizar na Europa o que não alcançou em Portugal em matérias tão fundamentais como a migração e a mobilidade, ou no que concerne às promessas deixadas na última cimeira ibero-americana.

Por faltar quem tenha a nossa visão do mundo,  a esperança reside nos novos eurodeputados portugueses eleitos pelos partidos democráticos, desde que enfrentem com coragem o populismo e imponham uma agenda na defesa do maior património português na Europa, uma língua partilhada por mais de 300 milhões de pessoas.