Aerosmith. O adeus aos palcos para sempre que dita o fim de uma era

50 anos depois, os Aerosmith foram obrigados a abandonar as digressões devido a problemas nas cordas vocais de Steven Tyler. ‘Tomámos uma decisão dolorosa e difícil, mas necessária’, justifica a banda. Para trás deixam um carreira de êxitos, um somatório de prémios e também de problemas.

Uma decisão dolorosa e difícil, mas necessária». Foi desta forma que os Aerosmith se despediram de vez dos palcos e para tristeza de muitos fãs sem direito a nenhuma tournée final. A justificação foi dada, no final da semana passada, pela banca norte-americana e deve-se a uma lesão nas cordas vocais de Steven Tyler, depois de o vocalista de 76 anos ter danificado as suas cordas vocais e de ter fraturado a laringe em setembro. «A voz de Steven é um instrumento como nenhum outro. Ele passou meses a trabalhar incansavelmente para que a sua voz voltasse ao que era antes da lesão. Vimo-lo com dificuldades, apesar de ter a melhor equipa médica ao seu lado. Infelizmente, está claro que não é possível uma recuperação completa da sua lesão vocal. Tomámos uma decisão dolorosa e difícil, mas necessária — como uma banda de irmãos — de nos retirarmos do palco e das digressões», explicaram num comunicado.

E deixaram também uma palavra de agradecimento aos fãs: «Foi a honra das nossas vidas que a nossa música se tornasse parte da vossa. (…) Em todos os clubes, em todas as grandes digressões e em momentos grandiosos e privados, deram-nos um lugar na banda sonora das vossas vidas. Vocês tornaram os nossos sonhos realidade».

Após o diagnóstico do problema nas cordas vocais de Steven Tyler, os concertos foram adiados no final de 2023 e voltaram a ser remarcados em abril para arrancar em setembro. A digressão estava marcada para começar em setembro, em Pittsburgh, na Pensilvânia, a 20 de setembro, e terminar em fevereiro de 2025, em Nova Iorque.

Para trás ficam 50 anos de carreira, 10 digressões mundiais e atuações para mais de 100 milhões de fãs.

Uma vida ‘amazing’

Tudo começou em 1970, em Boston, quando Steven Tyler e Joe Perry se conheceram e formaram um trio com o baixista Tom Hamilton. No final desse ano a banda tornou-se num quinteto com Tyler a abandonar a bateria e a tornar-se a voz do grupo. Os primeiros dois anos foram passados a tocar em bares, discotecas e festas universitárias em Massachusetts e Nova Iorque, mas até chamarem a atenção da indústria discográfica pela sua sonoridade inovadora foi um pulo e assinaram o seu primeiro contrato com a Columbia Records em 1972 para lançarem quase de seguida o primeiro álbum, de título homónimo.

Entre lançamentos, grandes sucessos e outros relativos – altura em que surgem êxitos como Sweet Emotion e Walk This Way – ‘renascem’ com um novo alinhamento com a entrada dos guitarristas Rick Dufay e Jimmy Crespo, após a saída de Joe Perry e Brad Whitford. Uma época também marcada com os primeiros rumores de adições ao álcool e às drogas no seio da banda e que ficou marcada por um dos maiores fracassos comerciais do grupo, Rock in a Hard Place, mas ao mesmo tempo, regressam à banda os dois guitarristas originais.

No entanto, é a partir de 1985 que o grupo ganha um novo fôlego. Steven Tyler e Joe Perry concluem um programa de reabilitação e mudam de editora. Também a aparição de Tyler e Perry no videoclip da versão dos Run DMC de Walk This Way trouxe um novo impulso à imagem dos músicos e deixou para trás os fantasmas das dependências.

Os êxitos foram-se somando e os prémios também. Em 1993 conquistaram o seu espaço, um pouco por todo o mundo, graças ao álbum Get A Grip, que incluiu temas como Living on the Edge, Cryin, Crazy e Amazing. Os videoclips que acompanharam estas músicas também contribuíram para a sua popularidade que eram presenças constantes na estação televisiva MTV. O vídeo da música Crazy ficou também conhecido por ter aparecido a própria filha de Steven, Liv Tyler.

O grupo contribuiu para a banda sonora do filme Armaggedon com o grande êxito I Don’t Want to Miss a Thing. E a este êxito juntaram-se muitos outros, a par de algumas polémicas e histórias de dependências.

Somatório de prémios

 São considerados uma das mais bem sucedidas bandas de rock com mais de 150 milhões de álbuns vendidos e com presença no Rock and Roll Hall of Fame. Também os prémios falam por si: quatro Grammy Awards, oito American Music Awards, seis Billboard Awards e 12 MTV Video Music Awards, cruzaram todas as fronteiras de género com o remix de Walk This Way, dos Run-DMCl, que lhes valeu um Soul Train Award de Best Rap Single. Juntamente com dezenas de álbuns multiplatinos. Aliás, são o grupo americano com mais álbuns de Ouro e mais certificados (ouro e platina). Foram ainda presença constante nas tabelas e nas vendas de álbuns ao longo da sua carreira, incluindo o facto de estar em segundo na lista dos Singles #1 na tabela Mainstream Rock Tracks, com nove sucessos. Além disso, foram a única banda rock a entrar em #1 na tabela Billboard Hot 100, com o lançamento do tema I Don’t Want to Miss a Thing. 

É certo que a influência dos Aerosmith no rock e na indústria da música é inegável.

Atuaram três vezes em Portugal, a última a 26 de junho de 2017, em Lisboa. Antes, tinham atuado na Praça de Touros de Cascais, em 1994, e no festival T99, em 1999, no Estádio do Jamor. O quarto esteve agendado para 6 de julho de 2020, foi adiado para 8 de junho do ano seguinte e, uma vez mais, para 1 de junho de 2020. Mas no início desse ano acabou por ser desmarcado com a justificação da pandemia, altura em que coincidiu com uma recaída de Tyler.