Há quem tenha uma capacidade inata para se entregar ao total descanso, desligando-se por completo do mundo que nos consome ao longo de todo o ano. Quem consiga ignorar com uma tremenda facilidade o que ainda está pendente, os emails insistentes que continuam a chegar e os telefonemas que trazem dúvidas. A verdade é que o mundo não para e o tempo não se suspende.
O mês de agosto é um aliado. O país quase que para, num ‘reboot’ indefinido. O nosso querido mês de agosto! É tradição, para os portugueses, que este seja um tempo de pausa e de reencontros. Sempre houve quem viesse nesta altura – dantes, os familiares emigrados em França, Suíça ou Canadá. Hoje, os nossos amigos e os nossos irmãos, com empregos loucos e fascinantes, em lugares de nomes sonantes, espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Depois, há os workaholics, para quem o trabalho se torna uma segunda pele, desenvolvendo quase como uma doença ao longo da vida. Estes têm dificuldade em pedir ao mundo que aguarde, que espere por este tempo. Em parte, porque reconhecem a importância e o valor das preocupações dos outros; noutra parte, porque já respondem automaticamente, sem ponderação racional. Para estas pessoas, é essencial que consigam alcançar este tempo de suspensão, que aprendam a não responder de imediato, a não ter sempre o telemóvel à mão ou o computador em cima da mesa. É vital que dediquem tempo a si mesmos e aos outros, sem pressas, sem horas, sem prioridades. Que tenham tempo para não fazer nada, e para fazer tudo aquilo que nunca têm tempo de fazer. Na verdade, que façam o que lhes apetecer, ao ritmo que quiserem.
E é neste tempo de serenidade que ler um livro se torna não apenas um luxo, mas uma necessidade. Mergulhar nas páginas de um bom livro é como abrir uma porta secreta para mundos desconhecidos, onde o ritmo do tempo se adapta ao compasso das palavras. Enquanto o corpo descansa, a mente viaja por terras longínquas, desvenda mistérios, vive romances épicos e reflete sobre as grandes questões da vida. É um descanso que alimenta a alma, um momento em que nos permitimos escapar das amarras do quotidiano e nos entregamos ao prazer de uma narrativa bem contada.
Ler é um ato de resistência contra a pressa do mundo moderno. Numa era em que tudo nos exige respostas rápidas e decisões instantâneas, o simples gesto de abrir um livro e deixar-se envolver pelas suas páginas é um convite à reflexão e à introspeção. É uma pausa merecida que nos ensina a valorizar o silêncio, a contemplação e a sabedoria que vem do tempo dedicado a nós mesmos. Para os workaholics, em especial, o livro é um companheiro fiel que lhes oferece um tipo de descanso que nenhum outro passatempo consegue proporcionar – a sensação de que, por algumas horas, o mundo pode esperar.
Assim, para todos nós, quer estejamos a aproveitar um agosto de tranquilidade ou a lutar contra a nossa própria necessidade de estarmos sempre ocupados, o verdadeiro descanso não está em não fazer nada, mas em encontrar aquilo que realmente nos alimenta o espírito. E quando aprendemos a abraçar este tempo, seja com um bom livro ou apenas com o simples prazer de existir, descobrimos que o maior luxo de todos é, afinal, o tempo bem vivido.
Jurista e Membro da Comissão
Executiva do CDS-PP