Quando somos tutores de um animal, sabemos que são várias as despesas que temos de suportar. E já não se fala apenas de idas periódicas ao veterinário. Ainda que existam poucos dados sobre este tema em Portugal, a Forbes, nos EUA, escreveu um artigo acerca do mesmo. Se o lermos, ficamos a conhecer dados como o facto de, em 2022, mais de 4,8 milhões de animais de estimação terem seguro de saúde, um aumento de 124,9% em relação a 2018. Mas existem mais curiosidades interessantes. Os tutores de cães gastam mais em cuidados veterinários, comida e cuidados pessoais. Já os donos de gatos gastam mais em comida, cuidados veterinários e brinquedos (50 dólares por ano).
Os tutores de animais de estimação da Geração Z (entre os 18 e 25 anos) são os mais propensos a mimar os seus animais de estimação com bolos de aniversário (34%), presentes de aniversário (39%) e roupas ou disfarces/máscaras (32%). Também são os mais propensos a gastar dinheiro em treino comportamental (41%), creches para cães (35%), alimentos especializados para animais de estimação (44%) e serviços de passear com cães, que são mais conhecidos como dog walking (31%).
Em território nacional, os dados foram apurados pela Deco Proteste há dois anos. Ficamos a saber que manter um cão custa em média 1.021 euros por ano e um gato 892 euros, com 18% dos tutores de cães e 15% dos de gatos a relatarem preocupações financeiras. Além disso, 86% dos donos de cães e 73% dos de gatos levaram os seus animais a pelo menos uma consulta veterinária de rotina no ano anterior ao estudo, destacando a importância dos cuidados preventivos. Os cães, especialmente os mais jovens, tendem a visitar o veterinário mais frequentemente e também adoecem mais do que os gatos. Outros custos, como a colocação de microchip e o registo no Sistema de Informação de Animais de Companhia (SIAC), também são importantes, com a falta de microchip a poder resultar em multas.
Saúde mental dos bichos
Um dos cuidados que se tem, hoje em dia, é relacionado com a saúde mental. “A saúde emocional dos animais é tão importante quanto a saúde física e cognitiva. Tal como os humanos, os animais podem sofrer de problemas emocionais, mas não usamos termos como ‘depressão’ ou ‘ansiedade’ da mesma maneira que na psiquiatria humana”, começa por explicar Gonçalo da Graça Pereira, veterinário diplomado europeu em medicina comportamental, bem-estar, ética e lei e professor na Egas Moniz School of Health and Science.
“Os animais manifestam problemas emocionais de maneiras variadas. Por exemplo, alguns cães podem ficar apáticos, enquanto outros podem destruir objetos ou atacar. Nos gatos, problemas emocionais podem levar a comportamentos como urinar fora da caixa de areia, que muitas das vezes estão relacionados com o ambiente ou a convivência com outros gatos”, adianta, destacando várias causas para problemas comportamentais, como a falta de socialização adequada, falta de estímulo cognitivo e falhas de comunicação entre os tutores e os animais.
“Existe medicação para tratar problemas emocionais em animais, semelhante ao tratamento em humanos, mas é necessário que seja administrada por um veterinário especializado. Além da medicação, é importante implementar um plano de modificação comportamental, semelhante à psicoterapia nos humanos”, garante o médico veterinário, ressaltando a importância de prevenir problemas comportamentais e reconhecendo que muitos dos casos que chegam até ele já estão em estágio avançado.
“Os tutores têm de aprender a interpretar e a comunicar melhor com os seus animais para evitar que problemas emocionais se desenvolvam”, sublinha. O especialista observa que, ao longo dos anos, houve um aumento no interesse e na consciencialização sobre o comportamento animal, tanto entre veterinários quanto entre tutores, embora ainda haja espaço para maior sensibilização. Lembra igualmente que, quando iniciou a sua carreira profissional, muitas pessoas intitulavam-no de “Psiquiatra dos animais” de forma quase pejorativa mas, hoje, caminha para o devido reconhecimento.
Uma vida mudada devido a um animal
Sarah Varatojo partilha uma profunda paixão e conexão com os animais, especialmente com a sua cadela Luna. A sua história é marcada por uma trajetória emocionalmente rica que culmina na criação da sua própria empresa dedicada ao cuidado de animais. Mas já lá vamos. A jovem começa por explicar ao i que sempre quis ser tutora de um cão, desde a infância, mas tal não aconteceu. Começou a fazer voluntariado em associações de animais aos 12 anos e também a acolher temporariamente animais, embora nunca pudesse adotar um cão como tanto sonhava.
Aos 18 anos, após uma fase árdua, Sarah conseguiu adotar uma cadelinha, Luna, que constituiu um ponto de viragem. “Temos uma conexão intensa e inexplicável. A Luna tirou-me de uma fase muito difícil e ajudou-me a encontrar um novo propósito”, realça, indicando que esta não só teve um impacto emocional significativo, mas também a ajudou a avançar e a abrir a sua própria empresa, a ‘Oh My Dog’, de pet-sitting e creche para cães porque não encontrava serviços de confiança para os seus próprios companheiros de quatro patas.
“Oferecemos cuidados em ambiente familiar, sem distinção de raças, e com atenção especial à adaptação dos cães às suas rotinas”, indica, adiantando que para além do pet-sitting, a empresa também oferece serviços de creche e adota “uma abordagem personalizada e cuidadosa”. A empresa tem um número significativo de seguidores nas redes sociais e é bem recebida no mercado.
“Temos o valor da diária e depois o valor é para ajustar. Se o tutor quer que fiquemos com um cão durante um mês, obviamente que não vou cobrar o mesmo que cobro por dia. Vou ajustar o valor e cobrar muito menos de diária. A menos que seja um cão hiper caótico, mas há sempre uma avaliação feita antes do cão entrar”, explicita, esclarecendo que deseja sempre perceber se o animal se adapta à rotina, aos outros cães, se está confortável, etc.
Sarah enfrenta desafios ao tentar equilibrar a sua vida pessoal com a procura do seu trabalho. O cuidado constante de animais pode ser cansativo e emocionalmente exigente. No entanto, aquilo que a preocupa mais é o medo de perder Luna e a ansiedade que sente com a possibilidade de separação, comparando o luto por um animal com o luto por um ser humano. Já fez terapia para lidar com esses sentimentos e compreende a profundidade da sua ligação com Luna (que participou em competições e eventos), o que não só trouxe visibilidade a Sarah e à sua empresa, mas também ajudou a abrir uma janela de oportunidades profissionais.