Quando pensamos em animais domésticos, lembramo-nos automaticamente dos cães e gatos. Acerca dos primeiros, sabe-se que existem aproximadamente 900 milhões no mundo. Segundo a plataforma Dogster, a China tem a maior população de cães de estimação da Ásia, com 54,29 milhões. Nos EUA, 65,1 milhões de famílias têm pelo menos um cão. Quanto aos segundos, o International Fund For Animal Welfare indica que a maioria da população de gatos – 400 milhões dos 600 milhões – vive na Ásia, sendo 58 milhões deles gatos domésticos na China. Os EUA estão no topo das tabelas de posse de gatos, com aproximadamente a mesma quantidade de gatos domésticos que a China, apesar de uma população humana muito menor.
Em Portugal, de acordo com a FEDIAF, European Facts & Figures de 2021, há 2.105.000 cães e 1.510.000 gatos. Aproximadamente 39% dos lares portugueses têm pelo menos um cão e 32% têm pelo menos um gato.
Enquanto somos tutores de animais, muitas são as peripécias que vivemos com eles. Incluindo viagens. Carina Vaz Pinto trabalhava na TAP, mudou de vida e passou a dedicar-se ao resgate e cuidado de animais, principalmente cães e gatos. Viajou com vários animais, inclusive levando-os do Dubai para Portugal e depois para São Tomé e Príncipe (e de volta para território nacional), enfrentando diversas burocracias e desafios, especialmente relacionados com viagem de animais com características específicas, como os de focinho achatado.
Segundo o site oficial da Condor Ferries, e tendo por base a população norte-americana, mais de 50% dos donos pretendem levar os seus animais de estimação este ano para as férias. Por outro lado, 31,3% planeia fazer viagens noturnas com os mesmos seis ou mais vezes por ano. Também importa referir que 37% das famílias viaja com os seus amigos de quatro patas (um aumento de 19% na última década) e 42% dos tutores com idades entre os 55 e 64 anos levam os seus amigos de quatro patas de férias. Sabe-se igualmente que 25% das mulheres levam os seus cães de férias, enquanto apenas 14% dos homens o fazem.
Regressando à história de Carina, a ex-assistente de bordo da TAP percorreu 6 mil quilómetros com 600 quilos de carga, metade sendo comida para os animais. “Viajámos em três companhias áereas diferentes. Foram quatro vôos, pedimos ajuda a amigos. Queríamos chegar a Portugal e daqui seria mais fácil levá-los”, diz ao i. Mas a paixão de Carina por animais começou cedo, com o seu primeiro cão, Flappy, que marcou a sua infância. Após a morte de Flappy, Carina fez um curso de treinadora de cães e, quando se mudou para o Dubai, transformou essa paixão em trabalho, treinando cães de moradores locais e resgatando animais abandonados. Explica que em São Tomé e Príncipe há “uma situação crítica de abandono de animais”.
De volta a Portugal, decidiu não aumentar mais a sua “família” de animais, preferindo manter o foco naqueles que já possui, que incluem também cavalos. Não deixa de falar sobre a dificuldade de lidar com o resgate de animais, mencionando que “muitas pessoas não têm consciência ou vontade de ajudar, o que torna o trabalho ainda mais desafiador”. Apesar disso, sente orgulho de ter feito tudo o que conseguiu para cuidar e transportar dos/os seus animais, e encoraja outras pessoas a não abandonarem os seus quando emigram.
A despedida árdua Quando nos tornamos donos de um animal, sabemos que, muito provavelmente, viveremos mais do que ele (salvo raras exceções). No entanto, o momento da perda é sempre difícil e doloroso. Rita Pereira, médica veterinária na Serra da Estrela, especialista em comportamento animal, conhece bem como é a reta final da vida dos animais. “É importante sensibilizar os donos para os cuidados paliativos como uma alternativa à eutanásia imediata. Muitas das vezes, as pessoas não estão cientes de que existe uma opção de cuidados paliativos para animais, que pode prolongar a vida do animal com dignidade e minimizar o sofrimento”, explica, descrevendo a eutanásia como uma decisão extremamente difícil, emocionalmente pesada e, muitas das vezes, feita com “um sentimento de culpa pelos tutores”.
“Quando o fim ocorre naturalmente ou é inevitável, a maioria dos tutores opta por cremações coletivas devido ao custo mais baixo em comparação com a cremação individual. Apenas uma pequena percentagem realiza funerais mais formais”, indica, refletindo acerca da forma como as pessoas escolhem lembrar os seus animais, muitas vezes preferindo manter objetos e memórias do que urnas com cinzas. Em vários anos de carreira, só houve um único funeral que acompanhou, onde um cão foi enterrado após uma morte súbita, o que mostra como diferentes famílias lidam com a perda de formas variadas.
A veterinária destaca a importância de “respeitar o luto dos tutores” e critica atitudes insensíveis como a oferta imediata de outro animal após a perda de um, que pode ser vista como “uma tentativa de substituição” em vez de permitir um processo de luto saudável. “O luto pelos animais deve ser tratado com a mesma seriedade que o luto por humanos, reconhecendo a ligação emocional profunda que se forma entre humanos e animais de estimação”, declara a profissional de saúde.
Quando, efetivamente, o fim chega, empresas como a PerPETuate entram em ação. Foi criada em 2016 por um casal que, após deixar as suas carreiras em multinacionais, decidiu desenvolver um projeto alinhado com os seus valores de respeito às pessoas e aos animais. A ideia surgiu da experiência pessoal do fundador ao perder o seu animal de estimação, o que revelou a falta de serviços dignos e informações disponíveis para esses momentos.
Inicialmente, como explica Nuno Gonçalves ao i, um dos elementos do casal, tentaram introduzir urnas ecológicas no setor funerário humano, mas encontraram resistência. Tal levou-os a focar-se nos serviços funerários para animais de estimação, lançando a PerPETuate, que se tornou “referência no setor com um modelo de negócios único na Europa”. É pioneira em Portugal na criação de urnas 100% biodegradáveis, como a Biotree, que transforma as cinzas de animais em árvores. O processo envolve uma urna feita de fibras naturais, onde as cinzas são colocadas separadas da terra e da semente por um separador de cortiça. Após a germinação, as cinzas nutrem a nova árvore, “permitindo que a memória do animal seja perpetuada”.
Os desafios enfrentados incluíram “o conservadorismo em torno do tema da morte em Portugal”, mas a empresa conseguiu superar essas barreiras. Na ótica de Nuno, aquilo que distingue a PerPETuate das restantes empresas do setor é “a excelência do serviço, a exclusividade dos produtos e a autenticidade de todos os detalhes do processo”. Além das urnas biodegradáveis, a PerPETuate oferece outros produtos ecológicos, como urnas feitas de troncos de sobreiro, bambu e madeira selecionada, além de serviços exclusivos, como a plantação de árvores em áreas protegidas.
A receção do público tem sido “excelente”, especialmente para o serviço premium com a urna Biotree, o mais popular em todo o território nacional. O fundador também destaca a complexidade do setor, devido “às burocracias e falhas na fiscalização”, e reforça a importância de dignificar e respeitar os animais de estimação na hora da despedida. “Eles merecem”, conclui.
Além da cremação individual ou coletiva, os tutores podem optar pelo enterro dos animais. Tal é possível no Jardim Zoológico de Lisboa, mas também nos cemitérios de Santa Maria da Feira, Castelo Branco e Lagos.