A traição a Biden

Biden não saiu pelo seu pé, foi sim vítima de um golpe palaciano, engendrado no interior do seu partido e tendo como cabecilha a mulher que ele havia escolhido para sua vice-presidente.

Assim que Biden anunciou a sua desistência à corrida pela Casa Branca, de imediato surgiram toneladas de louvores pela sua decisão, com os mais variados políticos e comentadores, um pouco por todo o mundo, a enaltecerem a coragem e sentido de estado evidenciados pelo ainda presidente norte-americano.

Criou-se então a tese, cujos pressupostos colheram praticamente a unanimidade entre todos quantos se dedicaram a analisar o gesto supostamente altruísta de Biden, de que este se convenceu de que a sua derrota perante Trump seria inevitável e que, por essa razão, pôs os interesses do partido democrático acima das suas ambições pessoais.

Puro folclore!

Biden não saiu pelo seu pé, foi sim vítima de um golpe palaciano, engendrado no interior do seu partido e tendo como cabecilha a mulher que ele havia escolhido para sua vice-presidente.

Há quatro anos, Biden não foi cuidadoso ao eleger aquela que o acompanhou na sua mudança para a Casa Branca, considerando que já então deveria ter tomado consciência do tipo de criatura em quem quis confiar.

No entanto, há que o reconhecer, igualmente nessa altura a decisão não foi sua, mas sim imposta pela ala esquerda do seu partido, como forma de contra-poder à facção centrista que saíra vitoriosa da Convenção democrata.

Kamala Harris vem da esquerda da esquerda dos democratas, ou seja, encarna o bloco radical e libertário que se infiltrou naquele partido e que, paulatinamente, vem conquistando espaço dentro da política norte-americana.

Para atrair simpatias junto de uma comunidade com peso eleitoral, apresenta-se como afro-americana, como se a Índia e a Jamaica alguma vez tivessem pertencido ao continente africano!

Como vice-presidente, Harris foi uma figura apagada, não se lhe reconhecendo qualquer trabalho meritório em prol do seu país.

Bem pelo contrário, em uma das poucas tarefas que lhe foram confiadas, a da imigração, permitiu o completo descontrolo das fronteiras e a entrada massiva de centenas de milhares de imigrantes ilegais, devaneio com nefastas consequências para o bem-estar das comunidades que se viram obrigadas a acolhê-los.

Harris já tentara, anteriormente, alcançar a nomeação pelos democratas à candidatura presidencial, tendo, então, perdido essa corrida precisamente para Biden.

Viu agora, face às notórias debilidades daquele a quem o dever obriga-a ainda à fidelidade, uma janela de oportunidade e soube-a aproveitar prontamente, traindo, sem apelo nem agravo, quem a catapultou para a ribalta política.

Com o argumento de que o escolhido pelos democratas para desafiar Trump não teria hipóteses reais de vitória, manobrou, na sombra, uma revolta doméstica que conduziu à destituição do único candidato que teria legitimidade para se submeter ao escrutínio popular, por ter sido ele o vencedor das eleições primárias do partido.

Biden, apesar das gafes e das fragilidades a que se expôs, estava convencido de que uma vitória contra o seu maior rival seria ainda possível, pelo que resistiu até onde pôde às investidas de quem o queria apear do caminho, deixando-se derrotar somente quando lhe fecharam a última  das saídas, as doações monetárias para a campanha.

Sem dinheiro, a vitória não passa de uma quimera!

Kamala Harris consegue assim, pela porta do cavalo, obter uma nomeação que não foi sufragada nas urnas internas do partido, arrastando para a lama a democraticidade de um processo que se exigia transparente.

A esquerda radical comporta-se de forma idêntica em qualquer parte do globo onde aspira a tomar de assalto o poder: se não o obtiver por meios legais, respeitando os preceitos constitucionais vigentes no país em causa, recorre a manobras de bastidores violadoras das regras do jogo a que se submeteu.

No passado recente, pudemos vislumbrar este tipo de golpada em França, onde o partido largamente vencedor das eleições legislativas, a União Nacional de Marine Le Pen, foi relegado para uma posição secundária do Parlamento, fruto de combinações encetadas pela extrema-esquerda e com a cumplicidade dos partidários de Macron, as quais desvirtuaram a verdade dos votos dos franceses, e na Venezuela, em que presidente ditador, claramente derrotado no voto popular, falsificou os resultados obtidos e declarou-se vencedor.

Não tenhamos dúvidas, Kamala Harris é o Nicolás Maduro dos EUA, não apenas nas manobras tácticas para a conquista do poder, mas também no pensamento político.

Das suas ideias, que procura esconder para por isso não ser penalizada nas urnas, somente revela abertamente a acérrima defesa do aborto, a sua principal bandeira eleitoral, e, claro está, a luta das mulheres, seja lá o que isso representa nos dias de hoje.

Como governante, a registar, sobretudo, a abertura das fronteiras aos inimigos da civilização ocidental, que esteve na génese das formação dos Estados Unidos.

E se hesitações houvesse ainda na mente de algumas cabeças ditas esclarecidas, atente-se à sua escolha para vice-presidente: Tim Walz é o porta estandarte da ideologia do género, visão que procurou impor nas escolas de Minnesota, Estado de que é governador.

É esta dupla, apologista do marxismo e das causas libertárias, que se prepara para tomar as rédeas daquele que ainda poderá ser considerado o mais poderoso país do mundo, mas que, por este andar, será ajuizado desconfiar-se de que não o será por muito mais tempo.

E pasme-se como os políticos ocidentais, atolados numa aflitiva podridão intelectual, incluindo aqueles que se definem como adversários das teses esquerdistas, e das causas fracturantes, esfregam as mão de contentamento por acreditarem na vitória de quem até na cor da pele mente!

Talvez o tiro lhes saia pela culatra!