O ciclismo nacional está em alta. Portugal está envolvido na organização de uma das grandes clássicas mundiais e temos três ciclistas nas principais equipas do World Tour. Importa dizer que se tornou prática habitual a partida ser num país diferente daquele que dá nome à prova, e há vários exemplos: a Volta à França 2024 começou em Florença (Itália), foi a segunda vez que a Volta à Espanha começou em Lisboa – a primeira foi em 1997 para promover a Expo 98 – e a Volta à Itália saiu de outros países por 14 vezes e não foi por isso que mudou de nome.
Durante cinco dias Portugal figurou no roteiro de uma das mais importantes provas de estrada tendo em conta que estão presentes as melhores equipas do mundo. Esse facto constituiu uma excelente publicidade para o nosso país, que voltou a organizar um grande evento internacional com assinalável êxito, como reconheceu o diretor-geral da Volta à Espanha, Javier Guillén. Ao mesmo tempo, proporcionou uma experiência única para muita gente que nunca tinha visto a elite do ciclismo mundial. Sem o confirmar, existe a possibilidade de a prova voltar a Portugal a partir de 2027.
A UAE Emirates é a equipa mais forte do World Tour como demonstram as recentes vitórias em Itália e França, e quer repetir o feito na Volta à Espanha para conseguir o pleno, ou seja, ganhar no mesmo ano as três provas mais importantes do mundo, mas tem a oposição da Visma Team/Lease Bike, da Red Bull-Bora e Soudal. Contudo, a prova não começou bem para a equipa dos Emirados Árabes Unidos, que foi multada pela União Ciclista Internacional em 4.000 euros por os seus ciclistas terem comparecido na cerimónia de apresentação com uma camisola diferente, em tons de rosa amarelo e rosa, de homenagem a Tadej Pogacar, vencedor das outras duas grandes clássicas.
Se necessário fosse, ficou, uma vez mais, demonstrada a paixão que os portugueses têm pelo ciclismo. Algumas horas antes da passagem da caravana pelas zonas quentes já havia uma corrente humana na estrada, criando um ambiente de festa com as habituais rulotes de comes e bebes. O excesso de entusiasmo criou duas situações inadmissíveis no decorrer da segunda etapa. Primeiro, um adepto (quase nu) surgiu a correr à frente do pelotão. Logo um pouco mais à frente, o comportamento irresponsável de alguns espetadores que saltaram para o meio da estrada provocou a queda de ciclistas que lutavam pela vitória na etapa. Não foi para isto que os melhores ciclistas do mundo vieram a Portugal.
Depois da partida junto ao imponente Mosteiro do Jerónimos seguiu-se uma curta viagem até Oeiras. A caravana passou depois por Cascais, Ourém, Lousã e Castelo Branco, antes de entrar em Espanha. Vão ser três semanas a pedalar forte, já que a edição deste ano é um desfilar de montanhas. Depois da passagem por Portugal, os ciclistas vão disputar oito etapas de alta montanha, cinco de média montanha, três etapas com alguma montanha, uma etapa em linha e o contrarrelógio final em Madrid, dia 8 de setembro. Os grandes trepadores sentem-se em casa com um percurso assim.
Luta pela vitória
João Almeida é um ciclista em destaque no pelotão mundial, que já ganhou etapas e terminou as grandes clássicas entre os cinco primeiros da geral. Almeida e Adam Yates foram nomeados chefes de fila da UAE Emirates, com o português determinado a vencer, pela primeira vez, uma grande volta depois do 3.º lugar na Volta à Itália em 2023 e do 4.º posto na Volta à França este ano. Nélson Oliveira (Movistar) e o campeão nacional Rui Costa (EF Education-EasyPost) vão usar a sua grande experiência internacional para entrar numa fuga e tentar vencer etapas e subir na classificação.
João Almeida (UAE Emirates) começou bastante bem a Volta à Espanha. Não sendo um especialista em contrarrelógio, foi 10.º e ficou à frente dos outros candidatos à vitória, com Nélson Oliveira na 11.ª posição e Rui Costa com o 75.º tempo entre 176 ciclistas quer terminaram o primeiro dia de prova. A segunda etapa foi particularmente importante e significativa para João Almeida. O pelotão passou nas Caldas da Rainha, onde nasceu há 26 anos. Um momento para recordar. “Desde que saímos de Cascais até chegar a Ourém foi incrível. Todas as subidas cheias de gente. Quase 200 quilómetros com uma maré de pessoas a apoiar, foi incrível”, reconheceu João Almeida.
Na última etapa realizada em Portugal houve luta animada entre os aspirantes à fuga, que foram apanhados pelo pelotão a 20 quilómetros do final, e os velocistas que travaram um sprint escaldante na chegada a Castelo Branco. O neerlandês Wout van Aert (Visma) foi o melhor e reforçou a liderança, com 13 segundo de avanço para BrandonMcnulty (UAE Emirates) e Mathias Vacek (Lidl-Trek) a 15 segundos. “A equipa fez um bom trabalho e tivemos a corrida sempre controlada. Nos últimos metros estava numa posição perfeita e usei a força para lançar o ataque mais cedo”, disse o camisola vermelha van Aert, que lançou a etapa de hoje. “Acabou-se a festa. Agora é a vez do líder da equipa Sepp Kuss e Cian Uijtdebroeks, eles estão fortes e a subida é muito dura”. João Almeida ocupa a 9.ª posição a 32 segundos, Nélson Olveira (Movistar) está em 10.º a 33 segundos e Rui Costa (EF Education-EasyPost) é 58.º a 1m.10.
Mais dificuldades
Depois do passeio por estradas portuguesas, as dificuldades começam hoje com uma verdadeira etapa de montanha, com duas subidas de 1.ª categoria. O percurso com 167 quilómetros é bastante exigente, os últimos três quilómetros, com uma inclinação de 16%, são para trepadores e podem fazer estragos no pelotão e dar um novo líder, já que não é suposto que o sprinter Wout Van Aert aguente o primeiro lugar. João Almeida pode dar o primeiro sinal de que está na Volta à Espanha para ganhar. “Estou numa boa forma e podem esperar que dê o meu melhor, mas há muitos fatores que podem que podem decidir a corrida”, afirmou o ciclista da Emirates, cuja equipa vai (espera-se) trabalhar para o levar ao primeiro lugar.