As eleições nos EUA nunca deixam os europeus indiferentes. O escrutínio eleitoral do próximo novembro não é exceção e, por isso, tem despertado enorme interesse na opinião pública e publicada do Velho Continente.
É natural que assim seja porque o futuro da civilização ocidental, tal como a entendemos, praticamos e desejamos, depende muito da natureza da cooperação e parceria que é estabelecida entre a Europa e a federação dos estados americanos.
Em 2016, a candidata democrata (Hillary Clinton) terá perdido as eleições, entre outras razões, porque utilizou uma expressão ofensiva – os deploráveis (deplorables) – dirigindo-se à maioria dos potenciais eleitores de Trump.
A derrota dos democratas modificou a natureza da liderança americana no mundo e alterou os equilíbrios existentes com o surgimento de novos poderes regionais, em parte responsáveis pela instabilidade que actualmente se vive.
Em 2020, a situação foi parcialmente revertida mas tudo pode voltar, de novo, às ‘trevas’ da democracia se Trump conseguir regressar ao poder na White House.
Agora, em 2024 estamos, de novo, perante a força das palavras e a simplicidade da política.
Após ser escolhido para n.º 2 de Kamala Harris, Tim Walz, dirigiu-se aos seus adversários republicanos identificando-os como bizarros (weirds), expressão que viralizou nas redes sociais.
O carisma sorridente de Kamala e a assertividade de Walz foram o rastilho suficiente para que a campanha eleitoral sofresse uma rotação de 180 graus.
Perante este sucesso, vale pouco o esforço dos cientistas da política e dos comentadores para encontrar explicações mais complexas.
Os fenómenos sociais e os mecanismos de decisão, nas democracias liberais, são mais simples do que parece e, sobretudo, são rapidamente compreendidos pelo eleitor comum.
Esta campanha eleitoral tem, aliás, confirmado essa regra e os democratas estão a revelar-se verdadeiros mestres na gestão das mensagens simples.
A administração Biden, que agora cessa funções, conviveu com uma inflação elevada que afetou a vida diária dos cidadãos.
Apesar do êxito da política económica, este tema era, e é, recorrentemente um factor de ataque e crítica por parte dos republicanos.
É que, como bem sabemos em Portugal, de pouco vale ter uma situação financeira equilibrada no país, se a generalidade dos cidadãos passar mal.
A resposta democrata foi eficaz. Compreendeu uma vez mais o valor das palavras e substituiu o ‘combate à inflação’ (que está em curso com sucesso) com a proposta da ‘capacidade aquisitiva’ (affordability), conceito que é melhor compreendido pelo cidadão e torna mais difícil o contra-ataque adversário.
Entretanto discute-se, em Portugal, apenas o caráter eleitoralista das decisões do Governo, mesmo que sejam favoráveis aos interesses imediatos dos cidadãos. E, bem entendido, alimenta-se o folhetim sobre o destino do Orçamento de Estado.
Perante isto é legítimo pensar se não estaremos também por cá, no reino dos deploráveis e dos bizarros.
Entre os primeiros estará a absurda proposta do Chega para trocar a viabilização da política orçamental por um referendo relativo à política de emigração.
Ou então o facto de toda a oposição ‘bater em tudo que mexe’ utilizando a técnica ‘Busca Bobby’ recentemente identificada pelo Prof. Luciano Amaral.
Como exemplo de comportamento deplorável, será difícil encontrar pior.
Entre os segundos, o destaque vai para os avanços e recuos do atual PS sobre o OE em relação ao qual já assumiu tudo e o seu contrário.
E verdadeiramente bizarro será ver o principal partido da oposição prestar um mau serviço a si próprio e ao país, se inviabilizar a aprovação do Orçamento ou, pior ainda, se o viabilizar após um simulacro de negociação.
O anterior primeiro-ministro, António Costa, mesmo fazendo tábua rasa de tudo o que defendeu em 2014, já veio ‘explicar’ o que deve ser feito.
O segredo é ‘só’ estar atento e seguir, disciplinadamente, o ‘mestre’.
Pois é preciso que a bizarria acabe para que o país progrida.