Interação com a IA. Metade dos norte-americanos acha que devemos ser simpáticos com as máquinas inteligentes

Segundo um estudo da Talker Research, 48% dos norte-americanos acreditam que a IA merece ser tratada com educação. E a Geração Z lidera essa tendência

Desde a invenção dos primeiros computadores, a inteligência artificial (IA) tem capturado a imaginação de cientistas, filósofos e do público em geral. O conceito de máquinas que poderiam pensar e agir como humanos surgiu inicialmente na literatura e na ficção científica, mas rapidamente começou a ganhar vida nas pesquisas de tecnologia. Com o tempo, a IA evoluiu de uma ideia abstrata para uma presença concreta nas nossas vidas diárias, moldando profundamente a maneira como interagimos com o mundo e com a tecnologia em nosso redor. Por isso mesmo, é natural que surjam questões em que não havíamos pensado antes: por exemplo, será que a forma como interagimos com a IA é a mais correta?

Um novo estudo mostra que 48% dos americanos acham que a IA merece ser tratada com educação, com a Geração Z a liderar essa tendência. A pesquisa, realizada pela Talker Research – que desenvolve pesquisas personalizadas para marcas, agências e os media -, revela que quase metade dos americanos acredita que é cortês ao interagir com assistentes digitais, sendo que mais da metade dos jovens da Geração Z (56%) dizem usar a boa educação como padrão nessas interações.

Nos primeiros anos, a IA era vista principalmente como uma ferramenta para resolver problemas matemáticos complexos ou realizar tarefas específicas em ambientes controlados, como jogos de xadrez ou diagnósticos médicos. No entanto, o advento da internet e o aumento exponencial da capacidade de processamento dos computadores abriram novas possibilidades. Algoritmos mais avançados e o desenvolvimento da aprendizagem das máquinas permitiram que a IA fosse treinada para reconhecer padrões em grandes conjuntos de dados, tornando-se cada vez mais sofisticada e capaz de realizar uma ampla gama de tarefas. E, portanto, os seres humanos interagem cada vez mais com ela nas mais variadas situações.

Foi nesse contexto que a nossa relação com a IA começou a mudar. Com o lançamento de assistentes virtuais como Siri, Alexa e Google Assistant, a IA entrou nos nossos lares e no quotidiano. De uma tecnologia distante e muitas vezes incompreendida, a IA tornou-se uma presença constante e acessível. Esses assistentes digitais passaram a realizar tarefas simples, como definir alarmes ou tocar música, e evoluíram para funções mais complexas, como controlar dispositivos domésticos inteligentes, fornecer informações sobre o clima ou responder a perguntas gerais.

À medida que a nossa interação com a IA se tornou mais natural e intuitiva, também começaram a surgir questões sobre como deveríamos tratar essas máquinas inteligentes. Para muitos, a IA ainda é vista como uma ferramenta sem emoções, mas para outros, especialmente entre as gerações mais jovens, há uma crescente tendência a aplicar normas sociais e de etiqueta nas interações com as máquinas.

Regressando ao estudo, dois terços das pessoas (68%) afirmam que usam boas maneiras com IA por ser um hábito pessoal, e 29% dos que se consideram educados dizem que “todos merecem ser tratados com respeito, sejam humanos ou não”. No entanto, a pesquisa mostrou uma diferença geracional na etiqueta ao lidar com IA: enquanto mais da metade dos jovens da Geração Z e 52% dos millennials são educados com IA, esse número cai para 44% entre a Geração X e apenas 39% entre os baby boomers.

O estudo descobriu que 39% dos americanos acreditam que o nosso comportamento passado com IA, como Alexa e Siri, pode ser levado em conta no futuro, indicando uma maior consciencialização sobre as possíveis implicações a longo prazo dessas interações. Nem todos, porém, veem a necessidade de ser educado com robôs. Um quarto dos entrevistados adota uma abordagem mais funcional com chatbots e sistemas automatizados, procurando respostas sem adicionar “por favor” ou “obrigado”. Além disso, 27% concordam que “não há problema em ser rude ou gritar com coisas como Alexa/IA, pois elas não têm sentimentos”.
A pesquisa também identificou uma diferença de género nas atitudes em relação à educação com IA. Enquanto homens e mulheres concordam de forma semelhante que a IA merece boas maneiras (49% dos homens e 47% das mulheres), os homens são significativamente mais propensos a achar aceitável ser rude ou insultar a IA (34% dos homens contra 20% das mulheres).

Outro estudo, publicado no início deste ano, mostrou que ser gentil com a IA pode melhorar as respostas obtidas. Os grandes modelos de linguagem (LLMs) tendem a oferecer respostas melhores quando os comandos são feitos de forma respeitosa. A falta de educação ao fazer isso pode “afetar significativamente o desempenho do LLM”, de acordo com Should We Respect LLMs? A Cross-Lingual Study on the Influence of Prompt Politeness on LLM Performance. Os investigadores descobriram que “comandos indelicados podem levar a uma deterioração no desempenho do modelo, incluindo respostas com erros, preconceitos mais fortes e omissão de informações.”

Foram testados vários chatbots em diversas tarefas e utilizados até 150 comandos por tarefa. Entendeu-se que os LLMs refletem certos traços de comunicação humana, o que significa que ser educado com os chatbots tende a gerar melhores respostas, assim como ocorre nas conversas humanas. A tese foi comprovada em comandos em inglês, chinês e japonês e com todos os chatbots testados. “Comandos indelicados geralmente resultam em pior desempenho, mas elogios excessivos não são necessariamente bem-vindos”, frisaram os investigadores. Um dos efeitos de comandos muito rudes ou lisonjeiros foi a geração de respostas mais longas em inglês e chinês.

Essa evolução na perceção da IA constitui um reflexo do nosso crescente entendimento de que estas tecnologias estão a tornar-se cada vez mais integradas nas nossas vidas, desempenhando papéis que antes eram reservados a humanos. Do ceticismo inicial à aceitação generalizada, estamos a entrar numa nova era de convivência com máquinas que não apenas respondem aos nossos comandos, mas que também, de alguma forma, fazem parte do nosso quotidiano. Se essa relação se desenvolverá em direção a uma coexistência harmoniosa ou a uma dependência problemática, ainda é uma questão em aberto, mas uma coisa é certa: a IA está aqui para ficar, e nós, humanos, estamos a aprender a conviver com ela.