Em setembro de 2023 o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), Manuel Teixeira Veríssimo, teve a ideia, um ano depois a obra nasce. O hino comemorativo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), indiferente ao debate político, às polémicas sobre a falta de médicos de família, o encerramento das urgências ou ao vaticínio do seu fracasso, vai ser apresentado dia 15 de setembro. A escritora dos poemas musicados é engenheira, trabalhou na indústria de moldes e plástico, tem mestrado em escrita criativa e foi aluna de Adriana Calcanhoto num curso ‘Como escrever canções’. «Foi uma coisa que me custou a fazer porque não é uma criação livre. Eu tinha um tema que era muito específico e tive de pesquisar bastante para perceber o contexto e toda a história de António Arnaut», contou Catarina Canas ao Nascer do SOL. A engenheira conheceu o fundador do SNS, o que lhe deu algum à vontade, uma vez que «a sua esposa era colega da minha mãe». E foi com este currículo que arriscou concorrer ao desafio lançado pela SRCOM_para uma ideia inovadora para comemorar os 45 anos do SNS que em Coimbra inclui, desde 2009, a rega de uma oliveira, plantada no Parque Verde do Mondego. É certo que todos anos tem havido sempre mais alguma associação à tradicional rega da oliveira, como conferências ou seminários. Este ano foi decidido promover um concurso de ideias para a letra de um hino SNS. Concurso esse que foi aberto em abril e contou com 28 candidaturas. Só que grande parte das letras concorrentes «não eram facilmente musicáveis», soube a vencedora. Uma barreira que Catarina Canas ultrapassou facilmente graças ao curso de Adriana Calcanhoto.
Viva o SNS seria óbvio.
«Tentei selecionar todas as características que me pareceram mais importantes. Uma vez que o hino é algo comemorativo, tentei enfatizar aquilo a que se destina. Não queria escrever ‘Viva o SNS’, seria algo muito óbvio», recorda a autora da letra. E assim se cumpriu a «exaltação das características do SNS».
Na altura do lançamento do concurso, poucos dias depois da eleição do novo Governo, Teixeira Veríssimo justificava em conferência de imprensa: «Queremos fazer algo diferente no dia em que se assinalam os 45 anos do SNS, o hino ao SNS não existe em Portugal e entendemos que deveria ser criado em Coimbra, cidade ligada à criação deste serviço nacional». Catarina Canas assim o fez. Criou versos e poemas a enaltecer o SNS começando por falar de utopia e seguindo pela liberdade, justiça e dignidade. Versos sobre a «ferida aberta fechar», democracia, «proteção integrada» acessível a todos e «gratuita para quem necessitar» e outros que sublinhama universalidade do SNS_ por «ser de todos e para todos como a voz e o cantar são flores num renascer», poderão ser brevemente cantados.
A escolha da letra coube a um júri conimbricense composto, para além do presidente da SRCOM, por Isabel de Carvalho Garcia, presidente da Liga dos Amigos dos HUC, Ana Paula Arnaut, Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Paulo Bernardino, maestro do coro da SRCOM e autor da música do hino, Teresa Sousa Fernandes, médica ginecologista/obstetra e escritora e Carlos Braz Saraiva, médico psiquiatra e escritor.
A obra será apresentada no próximo 15. Um momento que será apenas um dos muitos que farão parte de um programa que ainda não está fechado, conforme garantiu Paula Carmo da SRCOMS_ao Nascer do SOL. Mais surpresas poderão surgir. Sendo que uma delas poderá ser a presença do próprio primeiro-ministro, a quem o convite foi dirigido.
Hino do SNS
utopia
foi algo que algum dia
alguém imaginou
liberdade
na saúde, na saudade
um grito de comoção
dos direitos conquistados
justiça
uma luta e um combate
na defesa de valores
dignidade
a ferida aberta fechar
permitir o seu sarar
e honrar as convicções
e assim nasceu o sonho
duma mente assaz inquieta,
preocupada com o bem,
que em ousadia o criou
democracia
é um bem que conquistado
jamais vai querer perder
protecção
integrada e para todos acessível,
gratuita para quem necessitar
direito
das pessoas ao viver,
duma vida um pilar
universal
é de todos, para todos
como a voz e o cantar
são flores num renascer
e assim nasceu o sonho
duma mente assaz inquieta,
preocupada com o bem,
que em ousadia o criou