No Verão as redes sociais enchem-se de fotografias de famílias perfeitas. Em cenários fantásticos, com as melhores roupas e os sorrisos mais bonitos posam na perfeição para as fotografias que ficarão para a posteridade.
Não nos deixemos enganar. Famílias perfeitas não existem. Ou pelo menos da forma como por vezes somos levados a imaginar. Aquele retrato luminoso e sorridente por vezes não dura mais do que os segundos de um disparo.
As famílias são uma estrutura viva em constante mudança e adaptação. São teias relacionais complexas muito diferentes das imagens estáticas que encontramos na internet. Por vezes somos levados a fantasiar que possa haver famílias assim, sempre paradas naquele momento de felicidade. Mas as famílias são muito mais interessantes e ricas do que isso!
São dinâmicas, mudam a cada dia que passa. Geralmente regem-se mais pelas emoções do que pela razão, o que só por si pode gerar o caos. Tentam diariamente encontrar o equilíbrio e bem-estar entre as vontades, receios, inseguranças e desejos de todos, mesmo que que nem todos saibam bem o que querem e, quando sabem, possam mudar de ideias rapidamente. Essa grande instituição que é a família está em constante desenvolvimento e relação com o mundo interno e externo. Não é uma equipa fácil. Não há táticas certas. Faz-se a cada dia que passa, acerta-se, avança e recua. Por vezes alguns elementos começam a jogar na equipa adversária, mas rapidamente voltam a entrar no lado certo do campo.
Acreditar que há famílias que são só como aparecem na fotografia pode levar a desacreditar ou desvalorizar a que se tem. Sentir que se está sempre longe de atingir o ideal.
As famílias mais perfeitas são imperfeitas. Não posam todos os dias para a fotografia. Acordam despenteadas, nem sempre vestem as roupas mais bonitas, enervam-se, gritam, discutem, descontrolam-se. Às vezes estão tristes ou zangadas, mas outras sentem-se imensamente felizes. Às vezes estão cheias de certezas, outras não. E desentendem-se para depois se entenderem. Zangam-se para depois poderem fazer as pazes. Mesmo que às vezes se esqueçam de pedir desculpa ou o façam mais por gestos do que por palavras. Às vezes exaltam-se, outras estão calmas. Brigam, mas no momento seguinte estão a brincar.
As famílias mais perfeitas são feitas de pessoas imperfeitas. Têm altos e baixos. Vivem da vontade de serem felizes juntas. Às vezes estão desalinhadas. Outras estão num enorme equilíbrio. E sobretudo preocupam-se e procuram continuar unidas, para o melhor e para o pior.
As famílias aprendem a ser uma família juntas, com todos os desafios, imprevistos, desvarios, com os filhos que nascem, que crescem, que entram e que saem, com os pais nos seus papéis em constante mudança. Com todas as interferências do exterior, das vezes que são postas à prova e que se transformam, adaptam ou reinventam.
Crescem dos laços que as unem, que são os mais fortes que existem e que dependem da dedicação, atenção e sensibilidade com que são construídos.
As famílias perfeitas nem sempre ficam bem na fotografia. Mas isso não importa. Até se podem rir disso. Preocupam-se mais com o que são do que com o que querem transmitir. Vivem para si e não para os outros. E sabem que são muito mais do que os outros alguma vez conseguirão ver. Muitas famílias acabam e desistem porque acham que nunca conseguirão manter o registo da fotografia, que menos do que isso é mau. Não deixemos que as famílias desapareçam por causa duma fantasia.