O Matuto e as Piadas

matuto = diz-se de quem vive no mato e a quem falta traquejo social; caipira; matreiro. O verbo matutar, significa meditar ou ponderar.

O Matuto gosta de uma boa piada. Todavia detesta piadas de Português. (quem não se sente, não é filho de boa gente!) Há uns dias, o Matuto pediu uma piada ao CHATGPT-Brasil que imediatamente vomitou uma piada de (contra) Português. O Matuto pedagogicamente informou o bicharoco artificial – dito inteligente – que de acordo com a Lei Brasileira nº 7.716, DE 5 de janeiro de 1989. Art. 1º “Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Portanto a piada era ilegal – não era ‘legau’ – e de mau gosto. O robozinho pediu desculpa. Desculpas aceites. Fair-play acima de tudo! Feitas as pazes, o Matuto pede outra piada. O CHATGPT-Brasil, debitou uma piada de louras. Rapidamente o Matuto deu o troco ao bicharoco: “a minha gentil esposa, Dona Sirlei, é loura! Essa piada é desprezível”. O robozinho engasgou, tossicou, embuchou, embatucou, gripou… e, pediu desculpas. O Matuto aceitou – a honra da sua dama estava salva!

Se o amável leitor afinar pelo politicamente correcto, é melhor desembarcar desta crónica – avisa o Matuto. Senão, fica com azia. Adiante! O Matuto ponderou nestas coisas e está em condições de assegurar que estas piadas (de Português por exemplo) correm o mundo incorporando diversas versões. São as piadas étnicas. O Matuto já escutou as mesmíssimas piadas/anedotas no Luxemburgo. Aí o alvo são os Belgas. No entanto, no interior da própria Bélgica, as piadas são arma de arremesso entre Valões e Flamengos que se detestam mutuamente. O ódio é mortal, e só se esbate nessa ‘ilha de tranquilidade chamada Bruxelas’ – como afirma José Cutileiro. Mas basta atravessar o Canal da Mancha, para escutar as já batidas piadas, agora dirigidas contra os Irlandeses. Estes pagam na mesma moeda. E, the rest is history, como dizem por aquelas bandas. Já na Polónia são os Russos (e com razão) os inimigos figadais que recebem os mimos anedóticos. Na França são os Alemães. E, nos Estados Unidos são os Italianos. Exactamente as mesmas piadas/anedotas, todavia, com diferentes povos na mira. Num artigo formidável Joana Amaral Dias defendia, neste jornal, ser o uso das palavras “mãe” e “pai”, uma estratégia usada pelo homo sapiens para garantir “a sobrevivência da espécie humana”. Talvez more aqui outra arma de conservação humana: o humor universal. O Matuto é um grande defensor do sentido (senso, no Brasil, por favor) de humor.  

Ora, poderá alguém argumentar que o Matuto sendo tão amigo do sentido de humor, deveria gostar de piadas de Português. Convenhamos. Porém, o Matuto matutando na questão chega à conclusão que muitas destas piadas são étnicamente ofensivas e vão além da decência humana. É como as caricaturas. Numa caricatura há sempre um detalhe que é exagerado. Um nariz enorme. Orelhas de abano. Olhos a saltar. Duplos e triplos queixos. Cabelo espetado. Enfim! Nas piadas há sempre uma característica que tipifica o alvo involuntário da chacota. No caso das piadas étnicas de Português, o patrício é sempre um patego, parolo, pacóvio, palerma, basbaque, babaca… um asno! Isola-se um atributo humilhantemente falso para fazer humor. Haverá algo mais agressivo e ultrajante!? Por isso, o Matuto considera que os Brasileiros já vingaram todas as sacanices que os Portugueses fizeram no Brasil com as décadas de inúmeras piadas contadas. Já deram risada pra caramba – pondera o Matuto.

Ficamos, nos entre tantos, órfãos de piadas decentes (as empacotadas pelo robozinho artificial, tipo: Sabe por que a Matemática se suicidou? Porque tinha muitos problemas; não convencem ninguém). Nelson Rodrigues dizia que “a televisão matou a janela”; e o Matuto considera que o politicamente correcto matou o humor!?!? Então, nesta dança de contradança, de bocas prontas a rir, e bochechas ávidas de se expandiram nas delícias duma gargalhada, o Matuto sugere, duas coutadas étnicas que ainda resistem ao invasor que deseja dominar o nervo do nosso riso. 

No Brasil ainda se contam piadas de Mineiro (pessoa natural de Minas Gerais) sem perigo duma sublevação em massa. Os Mineiros são conhecidos pela sua autêntica obsessão por queijo. Conta-se que um Mineiro andando pela rua deu um pontapé numa lâmpada mágica. Salta lá de dentro o inevitável génio que concede três desejos. Para primeiro desejo o Mineiro pede um queijo enorme. O génio estala os dedos e aparece uma roda de queijo enooorrrrme. O Mineiro feliz. Venha o segundo desejo. O Mineiro pede outro queijo enorme. O génio estala os dedos e surge mais uma roda de queijo enooorrrrme. O Mineiro feliz. “Tens mais um desejo” – diz o génio. O Mineiro pensa e diz: “quero uma mulher linda e maravilhosa. Uma modelo”. O génio estala os dedos e imediatamente aparece diante do Mineiro uma mulher linda de morrer. Aí o génio, curioso, pergunta: “por que pediste 2 queijos, e só no final a mulher linda”? O Mineiro responde: “fiquei com vergonha de pedir 3 queijos”!!!

A outra área de anedotas que andava moribunda e se revitalizou, foi a dos Judeus. O Matuto pensa que tem a ver com a onda indecente de anti-semitismo que assaltou camadas do ocidente conotadas com o wokismo. Mas, isso são cogitações do Matuto! Vamos à piada. Um padre católico, um pastor evangélico e um rabino judeu discutiam sobre Cristo e religião. Às pás nas tantas, decidiram apostar qual deles era mais parecido com a pessoa de Jesus Cristo. O padre católico dizia: “sou eu, porque tenho muita compaixão com os pobres e sou de carácter manso”. “Nada disso” – retorquiu o pastor evangélico – “eu sou o mais parecido com Jesus Cristo porque sou bonito, uso camisas de marca, tenho um porte digno e falo bem”. O rabino judeu, mirou os seus colegas de profissão e disse: “venham comigo. Vou provar-vos que eu sou o mais semelhante a Jesus Cristo”. E, o rabino levou-os a uma área menos nobre da cidade onde ele, o rabino, bateu à porta de uma casa. Veio uma moça à porta que espreitando pelo postigo, exclama: “JÉSUS! Tu outra vez”!

É urgente promover um saudável humor étnico que não achincalhe a pessoa humana – sugere o Matuto. Porque, rir é sempre o melhor remédio – declara o Matuto.