Mães nos entas

Uma mãe nos entas procura ordem no caos e segurança na impressibilidade de qualquer infância ou adolescência com uma ansiedade ao nível de um sapo em água a ferver

Depois dos 40 não se é mãe da mesma maneira. É como aprender gramática: quem não decorou as preposições até aos 10 anos, está tramado, quem é mãe depois dos 40 também está tramada. Quando a idade indica que se dedique mais tempo ao lazer e à preguiça, a cursos de cozinha e de italiano ou mesmo ao ioga, as fraldas são um empecilho ao bem-estar com consideráveis proporções. Os gritos de um bebé às 4h da manhã numa altura da vida em que se dorme com vendas nos olhos porque só se consegue o descanso merecido na escuridão profunda, têm o mesmo efeito da tortura do sono usada pelas polícias políticas dos estados tiranos. Para uma mãe dos entas, um bebé que acorda a meio da noite é um obscuro agente especial ao serviço do mal e não um ser indefeso com fome ou com cólicas. 

O instinto maternal que ajuda todas as mães a criar bebés e crianças com leveza, já não é o mesmo. Um cão de caça também se farta de andar a cheirar as tocas ou a correr atrás de coelhos; a partir de uma certa idade só quer sombra e descanso e já não arrebita as orelhas a cada movimento num arbusto. Às mães com mais de 40 o efeito de desgaste é o mesmo. O instinto manda-nos dar-lhes tudo o que eles querem desde que falem mais baixo, que brinquem sozinhos e que não nos peçam para correr ou apanhar brinquedos debaixo da cama. O que se passa debaixo da cama fica debaixo da cama, é a regra que se segue quando as costas não estão à altura do desafio maternal. Se seguirmos o instinto aos 40, arriscamos a criar as crianças em serviços mínimos com as urgência encerradas. Aos entas o instinto diz-se para optar por cereais em vez de bifinhos de frango ao jantar, dar banho às crianças dia sim dia não e retirar os legumes da dieta diária para não termos de aturar birras. Entramos em modo de voo como forma de preservar a nossa longevidade em detrimento de uma educação saudável das crias. Ou de qualquer tipo de educação. Evitamos birras a todo o custo. Pagamos aos miúdos em todo o tipo de géneros só para evitar que esperneiem e gritem no meio do supermercado.

Se quando mais novas e mais longe da idade de sermos avós não nos custava carregar as compras, os bebés, a mochila e falar ao telemóvel ao mesmo tempo, na década da meia idade, evitamos carregar coisas e bebés mantendo as conversas ao telemóvel como imprescindíveis à nossa sanidade mental. As compras carregam-se quando acabar a chamada e jamais se levam bebés às compras, diz o instinto de meia idade. 

Por outro lado, e este é o lado pior de todos, temos medo de tudo e percecionamos perigos em cada esquina. Qualquer homem sozinho num jardim é um perigoso pedófilo, qualquer baloiço é um caterpílar desgovernado e uma beata apanhada na areia da praia é motivo para um banho em serviço hospitalar. Uma mãe nos entas procura ordem no caos e segurança na impressibilidade de qualquer infância ou adolescência com uma ansiedade ao nível de um sapo em água a ferver. 

Resumindo: é muito mais divertido ser filho de mães assim.