A indústria automóvel está num ponto de viragem crucial na sua história. Com o aumento das preocupações ambientais e a rápida evolução da tecnologia, o panorama automóvel do futuro será completamente diferente daquele que conhecemos hoje. As marcas vão incorporar cada vez mais a Inteligência Artificial em áreas como o design, produção, cadeia de abastecimento e controlo de qualidade, navegação, assistência à condução e segurança.
A Agência Internacional de Energia coloca pressão na indústria automóvel ao afirmar que 47,8% das emissões de CO2 nos transportes provêm de carros de passageiros. O setor responde com investimentos colossais para projetar e desenvolver modelos ecológicos, nesse processo vai ser dado destaque ao design e à eletrónica e não tanto à mecânica, como acontecia até há pouco tempo. Os próximos lançamentos são de deixar “água na boca”, com a particularidade de haver marcas a reeditar modelos que ficaram na história automóvel.
A Renault recuperou o R5 mantendo a linha original. Chega ao mercado nacional no início do próximo ano com motorização 100% elétrica de 150 cv, as versões de 120 cv e 95 cv serão lançadas mais tarde. Desta vez, o 5 vem depois do 4, isto é, a marca francesa vai lançar em 2026 o sucessor do 4L – o modelo original é de 1960 – um crossover que tem por base o 4Ever Trophy Concept, com motorizações elétricas de 125 cv e 150 cv.
Mini converteu o modelo original no vistoso SUV elétrico Aceman, que chega ao mercado nacional em novembro com motorizações elétricas de 184 cv e 218 cv. Dispõe da mais recente tecnologia de ponta nos sistemas de ajuda ao condutor e conectividade.
Acelerar o futuro
O design dos veículos está a evoluir para integrar as novas plataformas modulares que permitem criar veículos flexíveis e adaptáveis a diferentes tecnologias. Para já, há detalhes que marcam a diferença, é o caso do desaparecimento da grelha dianteira, uma vez que os motores elétricos não necessitam dessa entrada de ar para refrigeração.
Além disso, estão a repensar o design dos seus veículos para minimizar o impacto ambiental, utilizando materiais reciclados e otimizando a eficiência energética. Não é de admirar que dentro de dez anos muitos dos carros se assemelhem a alguns superdesportivos da atualidade e que outros se pareçam com naves espaciais.
Avançando no tempo e, por alguns concept car já apresentados, as marcas vão apostar em designs modulares capazes de mudar de forma do automóvel para se adaptar, por exemplo, às condições climatéricas ou tornar-se num desportivo com spoilers e as aberturas de ventilação a ajustarem-se automaticamente sem intervenção do condutor.
As marcas estão a trabalhar juntamente com os grandes especialistas mundiais em eletrónica para criar sistemas que tornem a condução mais segura através de sensores capazes de medir a distância, o tamanho, a velocidade e a direção de um objeto a qualquer distância, mesmo na condução noturna. Outra área onde haverá grande evolução é no interior. Neste momento já existem alguns modelos que usam a realidade aumentada no interior. Futuramente os painéis de instrumentos de realidade aumentada vão ser ainda mais completos e até podem ajudar a monitorizar a saúde dos ocupantes através de um monitor de ritmo cardíaco.
Dentro duas décadas poderemos estar a conduzir carros com materiais auto-reparadores. As marcas estão a experimentar materiais inteligentes capazes de reparar pequenos danos na carroçaria, tapar fissuras e voltar à sua forma original. Estão também a ser desenvolvidos revestimentos específicos para a carroçaria que repelem a sujidade e a água.
Combustíveis limpos As marcas assumiram o desafio da eletrificação, mas os motores de combustão interna não acabaram. O anúncio da sua morte a partir de 2035 foi demasiado exagerado. Nos últimos meses, alguns dos maiores construtores mundiais fizeram uma inversão nos seus planos e os motores a combustão voltaram ao radar da indústria automóvel. Ao mesmo tempo que mantém a opção elétrica, as marcas estão a desenvolver modernos motores a gasolina, com um consumo de três litros aos 100 km, que utilizam combustíveis ecológicos. Foi com essa premissa que a Alemanha se opôs à decisão da Comissão Europeia de proibir os motores térmicos nos automóveis novos a partir de 2035.
Toyota, Subaru e Mazda anunciaram uma aliança para o desenvolvimento de novos motores a gasolina que sejam compatíveis com combustíveis sintéticos neutros em carbono. Até isso acontecer, os carros continuarão a produzir modelos a gasolina. A Mercedes admitiu que os planos iniciais de eletrificação da marca eram demasiado ambiciosos e anunciou que vai aumentar o investimento nos motores de combustão na próxima década.
Na semana passada, a Volvo abandonou o objetivo de ter 100% de carros elétricos em 2030, a Volkswagen anunciou que vai continuar o desenvolvimento de modelos híbridos, o mesmo acontecendo com a Chevrolet. A Ford está a reavaliar o seu plano de vender apenas automóveis elétricos na Europa e anunciou que vai manter motores a gasolina. Este travão na eletrificação em massa deve-se às vendas abaixo do esperado, aos elevados custos elevados de desenvolvimento e adaptação das linhas de montagem, ao lento desenvolvimento das infraestruturas de carregamento e ao fim dos incentivos fiscais para a compra de veículos elétricos em alguns países.
As marcas estão também a trabalhar na adaptação dos motores a gasolina para a utilização de combustíveis sintéticos, produzidos a partir de processos químicos utilizando fontes como biomassa ou energia renovável. A sua produção deixa uma pegada de carbono mínima e liberta um baixo teor de emissões de carbono quando comparado com os combustíveis fósseis, ao mesmo tempo que ajuda a reduzir a dependência do petróleo. Este tipo de combustível apresenta propriedades semelhantes às da gasolina e do gasóleo, pelo que pode ser usado nos motores de combustão e com a infraestrutura de abastecimento de combustível já existente. O único problema é que atualmente é mais caro do que a gasolina, ronda os dois euros por litro, mas quando produzido em larga escala, o custo por litros deverá baixar.
Outra área de desenvolvimento são os biocombustíveis avançados, produzidos a partir de tudo o que é matéria-prima residual, desde substratos domésticos a industriais, a agrícolas e florestais, passando pelos resíduos urbanos. Quando comparados com os combustíveis fósseis tradicionais permitem reduzir as emissões de gases com efeito de estuda entre 84% a 97%.
Importa salientar que o processo de produção destes combustíveis tem sempre origem em energias renováveis. Deste modo, a transição dos combustíveis convencionais para estes pode ser uma alternativa viável e ecológica às opções elétricas.
Também o outro aspeto a que as marcas vão dar maior atenção é a chamada economia circular, ou seja, dar maior importância à reutilização, reciclagem e redução de desperdícios na produção automóvel.