Santa Casa em revolução põe à venda Hospital da Cruz Vermelha

Venda de hospitais e de património, rescisões de contratos e aumento dos mediadores são algumas das medidas aprovadas pela tutela para reverter a quebra das receitas da SCML. Internacionalização é palavra maldita

Segunda-feira foi apresentado internamente aos dirigentes da instituição o plano de reestruturação da Santa Casa da Misericórdia da Lisboa (SCML)  aprovado pela ministra Maria do Rosário Palma Ramalho. Elaborado pela nova Mesa, presidida  desde Maio por Paulo de Sousa, no plano – a que o Nascer do SOL teve acesso – estão contempladas as medidas para os próximos três anos para inverter a tendência de queda das receitas e aumento de custos. Venda de património, reestruturação de pessoal, redução de custos, regressar ao crescimento das receitas dos jogos e aumentar a rentabilidade dos imóveis são algumas das ambições que começam já a ser executadas este semestre. Os contactos com os trabalhadores mais velhos para serem estabelecidos acordos de rescisão começaram na terça-feira. 

Até 2027, a Mesa compromete-se a alcançar oito metas de reestruturação, através de 19 iniciativas,  a implementação de quatro programas  e a concretização de 100 medidas. As metas são: reduzir os custos médios por utente da SMCL em 15%, reduzir os prejuízos de exploração no Centro Hospitalar (com a fusão do Hospital Ortopédico de Santana na Parede com o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão) em menos 5 milhões de euros  e atingir a rentabilidade da carteira de imóveis de 4%. 

 Nos jogos sociais o objetivo é conseguir chegar a uma taxa de crescimento anual do valor a distribuir pelas entidades beneficiárias de 10 milhões de euros. Sendo isto conseguido abrindo mais medidores e investindo em mais terminais de jogo: 200 numa primeira fase e mais 800 durante os próximos três anos.

No que diz respeito às unidades de cuidados continuados integrados, a meta é aumentar 200 camas e alcançar o equilíbrio de exploração da escola de saúde de Alcoitão. A redução dos custos operacionais em 15% nos serviços da SMCL é outro dos objetivos. 

Hospitais à venda

As prioridades elencadas pela nova Mesa em termos operacionais para o próximo triénio são o património, as participações financeiras e a internacionalização dos jogos, que foi aquilo que deu origem aos processos judiciais e internos espoletados pela anterior provedora, Ana Jorge, com a polémica em torno da Santa Casa Global (SCG). É no programa de redução de custos que o Plano destaca a «internacionalização versus externalização», uma alusão à SCG, que aparece como «desinvestimento».  Como e em que moldes a SCML se irá livrar dos investimentos no Peru e no Brasil ainda está a ser estudado, uma vez que o desinvestimento no processo de internacionalização iniciado por Hermínio Martinho está sujeito a pareceres jurídicos e litígios judiciais com as empresas envolvidas.  

A venda do Hospital da Cruz Vermelha é noutro dos planos da nova provedoria, tendo sido já iniciadas as primeiras diligências nesse sentido. Assim como a alienação da participação de 3 % na CUF Belém, que foi descoberta com surpresa pela  nova Mesa e comunicada à  tutela, que também desconhecia. A Clínica de Chelas é outro dos equipamentos hospitalares que vai ser posto à venda quando se conseguir contornar as questões legais, uma vez que este hospital foi uma doação. 

O património a alienar passa por vários terrenos rústicos e imóveis devolutos em  Lisboa, cuja recuperação implicaria investimentos elevados que a nova Mesa não considera viáveis. o património imobiliário da Santa Casa  integra 673 imóveis, sendo que 127 (26%) estão «em atividade»,  correspondendo a  8,5 mihões de euros de rendas recebidas. A percentagem da carteira sem rendimento é de 43%. 

Por outro lado, a SCML prevê duplicar a rentabilidade dos imóveis, 1,9% para 4 % no futuro próximo. Como forma de reduzir custos,  está ainda o objetivo de reduzir  as rendas pagas, que somam 1,7 milhões de euros, de 733 contratos de arrendamento. 

Reestruturação de pessoal 

Segundo o Plano, está prevista a redução de 207 trabalhadores até 2027. Será um processo gradual, que começou já esta semana a ser negociado. Numa primeira fase, a ideia é enviar para a reforma 235 dos trabalhadores com mais de 65 anos e negociar rescisões com aqueles que têm mais de 55 anos, e que poderão  pedir a pré-reforma. Integração de serviços é outra das medidas para poupar com o pessoal. De 2017 até 2024,  o número de colaboradores da SCML aumentou em quase mil, crescendo de 5033 para 6023. 

Com esta estratégia já em fase de implementação,  o provedor espera conseguir em 2027 mais 8 milhões de  euros. A expectativa de atingir 38,5 milhões em resultado líquido no próximo ano, mais um milhão em 2026 e 26.5 milhões em 2027.  Património e jogos são as linhas mestras deste Plano para os próximos três anos e a forma de reverter a queda da venda bruta dos jogos, que se iniciou em 2023:  de 3,1 mil milhões para 3 mil milhões em 2014.