Segurança sem rei nem roque

Ficou demonstrado que sem secretário-geral do SSI será o diretor, em gestão, da PJ a comandar as hostes.

A fuga de cinco presos da cadeia de Vale de Judeus pode dizer muito sobre o passado, nomeadamente o que não se investiu, ou se investiu mal, mas também diz muito do presente. Comecemos pelo passado, em que se assume que houve um grande desinvestimento em guardas prisionais, embora não pense que seja o mais grave, mas o que ficou agora à vista parece ser a política desastrosa de recursos humanos, nomeadamente a nomeação dos principais responsáveis das cadeias. Segundo Miguel Gonçalves, do sindicato dos Técnicos da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, são várias as cadeias que são ‘comandadas’ por gente sem qualquer qualificação para o efeito, que terá aprendido sobre a poda, e isto digo eu, a ler os livros do Tio Patinhas e de Lucky Luck, inspirando-se nos irmãos Metralha e nos Dalton. Vejamos o que disse Miguel Gonçalves ao Público: Em Faro, «o diretor da da prisão é licenciado em Gestão Hoteleira e o adjunto substituto da cadeia é licenciado em Enfermagem Veterinária. Isto cabe na cabeça de alguém?! E depois há famílias em que vão todos para diretores, o que nem a genética explica».

 Sucessivos governos vão despejando os seus boys por onde conseguem e que tudo corre lindamente até… correr mal. Como é obvio, nem tudo é assim e há magníficos profissionais que servem o Estado com grande profissionalismo e talento. Eu conheço alguns. Mas quando as coisas correm mal fica a nu, em muitos casos, a falta de meritocracia nos ‘empregos’ do Estado, onde se tenta encaixar a rapaziada do clube, leia-se partido, e não vale a pena, para já, voltar a falar da importância da maçonaria.

Passemos então para o que diz a fuga sobre o presente. Se é certo que o Governo não tem responsabilidade na nomeação dos atuais diretores das cadeias, se já tivesse mudado alguns dir-se-ia que estava a mudar os boys, tendo, no entanto, ‘provocado’ a demissão do responsável máximo das cadeias, a verdade é que a desorganização demonstrada depois da consumação da fuga é tão evidente que entra pelos olhos a dentro. Supostamente, numa situação destas, em que fogem cinco prisioneiros perigosos, seria o secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), que ‘coordena’ as forças de segurança, a assumir as rédeas do problema e explicar ao país o que se passou. Mas antes disso, era muito importante saber a razão do atraso, por parte de quem estava a comandar a cadeia, na comunicação à GNR, PJ, PSP, e… SSI.. Claro que para quem é fascinado por filmes como Os Fugitivos de Alcatraz ou Papillon saber o que se passou, que conivências existiram, ou não, é fundamental para terminar o argumento da Fuga de Vale dos Judeus.

Com o SSI sem secretário-geral, o Governo optou por nomear um número dois, o antigo chefe de gabinete de Paulo Vizeu Pinheiro, que deu um conferência de imprensa confrangedora, onde quem colocou ordem na casa foi Luís Neves, diretor da PJ, que terminou a sua segunda comissão de serviço há três meses e que «manter-se-á em funções até ao anúncio da decisão do Governo», segundo o Executivo de Luís Montenegro. Então o homem que está em gestão é que serve para ‘mandar’, à distância, no SSI? Faz algum sentido a PJ e o SSI não terem um líder? Ou há aqui algum jogo de irmãos a impor-se?

vitor.rainho@newsplex.pt