Numa altura em que a ordem mundial está ameaçada pela guerra na Ucrânia e o escalar da violência no Médio Oriente, o candidato republicano às eleições presidenciais dos Estados Unidos, Donald Trump, mostra a sua hostilidade à organização e lança gasolina para a fogueira ao dizer que os países que não cumpram a regra dos 2% para defesa da NATO não merecem proteção caso sejam atacados. A eventual não-intervenção dos EUA de Trump deixa a Europa, e não só, mais frágil perante a ameaça da Rússia e de outras potências com apetite imperialista.
A guerra na Ucrânia provocou um desequilíbrio geopolítico e mudou as relações entre nações. Verificamos que Estados autoritários, como a Rússia, China, Irão e Coreia do Norte, pretendem impor uma ordem mundial baseada num poder repressivo a que chamam ordem “multipolar”. Os compromissos de paz estão a desaparecer e há uma ameaça russa aos países da ex-URSS, a ambição chinesa de anexar Taiwan é muito clara e óbvia, o Irão pretende acabar com o Estado de Israel e o louco Presidente norte-coreano só descansa quando ultrapassar o Paralelo 38 e fizer estragos na vizinha Coreia do Sul.
As eleições de 5 de novembro nos Estados Unidos podem criar uma nova e perigosa ordem internacional com o patrocínio de Donald Trump. Por essa razão, o espectro de um regresso à Casa Branca é visto com grande apreensão pelos países europeus membros da NATO. O ex-Presidente americano continuar a dizer que não vai cumprir a cláusula de defesa coletiva – uma regra sagrada da organização criada em 1949 e da qual Portugal é um dos países fundadores – se os países-membros não contribuírem com a sua parte para a despesa da organização. Recorde-se que há um compromisso de cada um dos 32 países gastar um mínimo de 2% do PIB nacional na defesa. Portugal é um dos países que vai falhar a meta fixada para 2024.
Sem defesa
A ameaça de Donald Trump à Organização do Tratado do Atlântico Norte, que comemora este ano o 75.º aniversário, não foi bem aceite pelos europeus. O secretário-geral Jens Stoltenberg respondeu ao candidato republicano dizendo que “23 dos 32 membros gastaram pelo menos 2% do seu PIB em despesas militares”. De salientar que a organização foi reforçada em 2023 com a entrada de dois novos membros com tropas modernas: Finlândia e Suécia. Caso vença as eleições, a dúvida que existe não é se os Estados Unidos saem da NATO como Trump ameaçou, mas, sim, se defende o princípio da segurança coletiva de “todos por um e um por todos”. Trump mostrou por várias vezes desrespeito pelos aliados europeus, isso voltou a acontecer ao dizer que a Rússia pode fazer o que quiser com os países que não cumpram com a sua obrigação para a defesa, o que foi visto como um salvo conduto para Vladimir Putin atacar outros países que estão debaixo do seu radar.
Trump tornou-se perigoso para a aliança, e a eventual vitória do candidato republicano pode aumentar a sensação de insegurança na Europa, já que o seu inimigo de estimação é a China e não a Rússia de Putin – ele lá saberá porquê… O apoio militar, financeiro e moral à Ucrânia na guerra para defender o seu território da invasão russa pode estar em causa e enfraquecer a posição de Volodymir Zelensky na negociação para a saída das tropas russas.
Tudo isto acontece numa altura em que a NATO tem 500 mil soldados prontos a entrar em ação na Europa.