Os incêndios desta semana, em relação ao de Pedrógão, tiveram duas diferenças fundamentais: o número de mortos e a atitude do primeiro-ministro. Enquanto, ali, António Costa desapareceu, enviando para o terreno a ministra Constança Urbano de Sousa, agora Luís Montenegro deu a cara desde a primeira hora. Para além disso, tudo parece igual. Vivemos as mesmas angústias. Os jornalistas fazem as mesmas perguntas, e os especialistas dão as mesmas respostas.
Não se avançou nada! Não há uma ideia nova! Zero!
As medidas impostas por António Costa depois de Pedrógão, para calar as críticas, não tiveram efeito nenhum.
A limpeza de uma faixa de 10m junto às estradas, não funcionou: até teve alguns efeitos perversos, levando ao arranque de árvores e arbustos que fixavam taludes, e em muitos locais a faixa foi invadida por acácias, uma espécie invasora muito difícil de combater.
Por outro lado, o famoso ‘ordenamento florestal’ é uma miragem.
Seria possível se tivéssemos um regime comunista, com um Estado forte e uma planificação centralizada: mas com 90 e tal por cento de floresta privada, com proprietários sem dinheiro para mandar cantar um cego, como é possível um ordenamento lógico ou mesmo a limpeza regular dos terrenos?
Esqueçam.
Responsabilizar o eucalipto, também não adianta nada. Enquanto o eucaliptal for rentável, continuará a ser explorado. E até tem algumas vantagens: as empresas do ramo dispõem de equipas de sapadores e respeitam certas regras que os particulares não têm condições para cumprir.
Outra constatação surpreendente é que os enormes investimentos nos meios de combate aos fogos não obtiveram quaisquer resultados. Foi dinheiro deitado à rua. Basta ir a um quartel de bombeiros para ver a quantidade de material ultramoderno de que hoje dispõem.
E há ainda os aviões e os helicópteros, que antes não intervinham nesta luta.
Ora, o que resultou de tudo isso?
Nada. Em média, a área ardida continua a ser a mesma de há 20 anos. E não vale a pena vir com a conversa das alterações climáticas, pois não contribui nada para a solução.
Há uns anos foi criada uma ‘unidade de missão’ para o combate aos fogos florestais, chefiada por um suposto grande especialista no assunto, Tiago Oliveira, e o que fez essa unidade (para lá de gastar dinheiro e consumir meios)? Ninguém sabe.
A ideia com que se fica, é que à volta do combate aos incêndios tudo mudou – teorias, meios terrestres e aéreos, material, pessoal, equipamento, etc. – mas no que importava, o combate propriamente dito, não se avançou nada.
Tudo continua na mesma.
Os resultados são os mesmos, fazem-se as mesmas perguntas, dão-se as mesmas respostas.
É desesperante como tudo se repete.
Por norma, acredito nas ideias simples e desconfio das soluções complicadas.
Ora, da minha observação, resulta que:
– No início, um fogo é muito fácil de combater; a partir do momento em que se espalha, é quase impossível. Portanto, a deteção precoce é decisiva – seja através de torres de vigia, drones, satélites, etc. – e depois é atuar com um máximo de rapidez.
Quando isto falha, o segundo grande objetivo passa a ser a proteção das casas. E aí há uma medida que pode mudar tudo: o envolvimento das populações.
O que temos visto na TV?
Para lá dos aviões e dos helicópteros, dos carros de bombeiros e dos bombeiros, vemos pessoas em pânico, umas a correr de baldes na mão, algumas com mangueiras de jardim, atuando desordenadamente.
Ora, nos períodos de folga, e nas zonas do país de maior risco de incêndio, os bombeiros podiam dedicar-se a treinar as populações a defender as suas casas e o que é seu. E esse treino deve ser efetuado nos locais onde as pessoas vivem e não em distantes centros de formação. Além disso, devem ser instalados meios para o efeito.
Assim:
1 – Em todos os lugares onde há casas deve haver um ponto de água com um débito razoável, que todas as pessoas saibam onde está. Água da rede, poço, furo ou depósito. Não é admissível, como vimos nestes dias, lugares sem um ponto de água.
2 – Junto a esses pontos deve haver mangueiras profissionais. É confrangedor ver tentar apagar um fogo com baldes.
3 – As pessoas com mais condições físicas para participar nesse combate devem dispor de vestuário adequado (eventualmente fatos-macaco e galochas).
Envolver as populações na defesa organizada das suas casas, instruindo-as e dando-lhes meios simples para isso, pode representar um grande salto qualitativo.
Andar de ano para ano a dizer as mesmas coisas, a insistir nas mesmas ideias peregrinas, é bater com a cabeça na parede…