Sinceramente borrifo-me para os lugares comuns que dizem que os campeonatos não se resolvem em setembro, ou em outubro, ou em janeiro, ou o diabo que carregue essa converseta de cá cá rá cá cá. E estou disposto a afirmar, com o descaramento divino do Alencar do Eça, que este fim de semana pode acabar com a luta pelo título nacional, por muito pobrezinha que ela seja, benza-a o beato António Estroncónio. Depois da vitória frente ao Lille para a Liga dos Campeões, o moral leonino saiu de Alvalade fortemente reforçado e receber o Aves, agora tristemente transformado na sigla grotesca AVSSAD, algo que só se usa no campeonato holandês, com os seus NAC e NEC e por aí fora, não passará de um pró-forma. Verdadeiramente o problema do futebol nacional é cada vez mais grave e mais aflitivo tal a falta de competitividade que permite a que uma equipa lidere à sexta jornada com cinco vitórias e a barbaridade de 19 golos marcados e dois sofridos. Que esperar, portanto, do jogo de domingo (20h30) no covil dos leões? Aves depenadas como se não passassem de um prato de tremoços, no mínimo. E, desta forma, a saga sportinguista continua em direção a um bi-campeonato que será importantíssimo para a sua consolidação como melhor equipa nacional.
Enquanto alguém não tiver a coragem de terminar com esta fantochada, travestida de campeonato, e der um talhão no número de participantes, cuja maioria ou joga para não descer ou, pior ainda porque mais doentio, joga simplesmente para nada, ali numa espécie de limbo que é o meio da tabela, vamos continuar a assistir a maçadorias como esta que está a acontecer, que só pode deixar verdadeiramente felizes os adeptos doSporting que se entretêm com as vitórias atrás de vitórias da sua equipa, ansiando por cada vez mais golos. Legítimo, sem discussão nesse aspeto. Mas pobre, muito pobre, para quem gosta verdadeiramente de futebol e daquela velha incerteza do desporto que está enterrada sob sete palmos de terra.
Duas saídas complicadas
Os campeonatos ganham-se a cada jornada, pouco importa o mês, pouco importa se é no início se é no fim. Com a vitória de domingo garantida, mais golos menos golos, os leões estarão atentos ao que se vai passar no sábado em Guimarães, onde o Vitória recebe o FCPorto pelas 18h00, e na segunda-feira noBessa, onde o Boavista recebe o Benfica pelas 20h15. Atentos e tranquilos. Com a expectativa de que as coisas lhes corram de feição, tanto no Minho como no Porto.
Continua, para já, a ser difícil perceber até onde é que a equipa de Vítor Bruno conseguirá chegar. Construída à base de remendos, ganhou os seus jogos até ir a Alvalade e sair de lá contente com um resultado curto (0-2) para a diferença que se estabeleceu e campo. Aguentou a derrota e venceu o Farense assim meio aos tropeções na jornada a seguir. Agora vai estar perante o segundo mais forte adversário que defronta até ao momento e ninguém ficará admirado se voltar a perder pontos, permitindo aos leões cavarem o fosso em relação aos azuis e brancos para cinco ou seis de diferença. Certo, aceito, não é sinal de título no bolso do colete mas, vamos e venhamos, é como se passasse a olhar para este rival do alto da Torre dos Clérigos.
Também o Benfica, que conseguiu a proeza desastrosa de chegar aqui já com cinco pontos de atraso para o Sporting, corre o risco sério de ver esses cinco pontos alargados para sete ou para oito. Uma espécie de vento de alívio percorreu a Luz aquando da vitória sobre o Santa Clara (4-1) na passada semana. Talvez esse alívio se prendesse mais com a ausência deRoger Schmidt no banco encarnado do que verdadeiramente com a excelência da exibição que não foi assim tão excelente e com demasiados altos e baixos para dar à águia a tranquilidade que necessita como de pão para a boca. Aquele golo sofrido de forma ridícula mal o jogo começou pode, ao repetir-se a atrapalhação, provocar danos irreversíveis no momento de defrontar um adversário mais capaz e mais agressivo. E, ao longo do jogo, foi nítida a dificuldade do Benfica em tantos dos momentos defensivos, fragilidade que Bruno Laje ainda não foi capaz de resolver. Se dois dos golos foram fruto de bolas paradas – e eis qualquer coisa de novo! –, os outros foram conseguidos sem gestos de categoria individual. E, no ataque, algo foi nítido: a equipa não consegue oferecer jogo (e golos) ao seu ponta-de-lança, deixando-o à mercê do que o seu esforço contínuo de marrar contra os defesas contrários possa conseguir.
O Bessa será, a meu ver, uma prova importante para o novo treinador encarnado. Primeiro porque um triunfo é fundamental para não deixar o Sporting a uma distância provavelmente definitiva. Em segundo lugar porque nas duas partidas que realizou fora da Luz, o Benfica se sujeitou pobremente a uma derrota em Famalicão e a um empate em Moreira de Cónegos. Sinceramente, e lá voltamos ao mesmo, tudo leva a crer que o campeonato está arrumado para o os encarnados, resumidos à luta bisonha pelo segundo lugar. Mas cada vitória será, pelo menos, um pouco de oxigénio para Bruno Laje, o homem que entrou pela porta de uma enorme desconfiança…