O Portugal pequenino expulsa Neeleman e nacionaliza a TAP (2016/2020)

Pedro Nuno Santos desestabiliza a estrutura acionista e a relação entre Estado e gestão privada.

  1. Política e opinião pública ignoram o fundador da Jet Blue (EUA) e da Azul (Brasil), e o empreendedor da Breeze (EUA). Fazem de David Neeleman (DN) paria e aldrabão cúmplice da Airbus. O Portugal pequenino, exige privado da TAP capitalista a pagar erros nossos e recusa empreendedor que define estratégia ganhadora e mobiliza financiamento que viabilizam a TAP, evitando a insolvência fatal. Assim se lixa um país.
  2. O Governo da ‘geringonça’ impõe a Reprivatização e Recompra da TAP na ilusão do Estado ficar com estratégia e privados com gestão, como num divórcio. Para António Costa o ‘nível estratégico’ compreende a fixação de algumas rotas estratégicas. Ignora a Liberalização de 1993 do transporte aéreo europeu fazer da ‘gestão das rotas’ elemento crucial da gestão da empresa. Por seu lado, DN: «Concordámos desde que a Atlantic Gateway pudesse gerir a TAP sem interferências políticas», algo entre a ilusão e o delírio. Vai correr mal.
  3. A estratégia de DN prevê ainda o hub China, com aviões da Hainan Airways (Grupo HNA) no trajeto China/Lisboa e os da TAP a fazer repartição para as Américas. O financiamento inicial pela Azul acaba assumido pelo Grupo HNA. Com capital insuficiente para financiar a TAP da sua ambição, DN mobiliza o Grupo HNA do inesquecível «É bom ter um tio rico». O Grupo HNA tem então reputação excelente, mas no virar de 2018/19, o seu endividamento gera intervenção brutal do governo chinês e a TAP perde o ‘tio rico’. O Governo tem a responsabilidade política da TAP, mas ignora a gravidade da situação.
  4. A minimização do custo unitário é fator crítico de sucesso das companhias aéreas ao longo do último meio século (Capa). DN ignora esta prioridade, convencido que o crescimento tudo compensará. Em 2016 recusa programa que prevê poupar de 150 a 200 €milhões até 2020. Em janeiro de 2018, Antonoaldo Neves é nomeado CEO da TAP, erro de casting e responsável direto do descalabro das contas da Empresa.
  5. No virar de 2018/19, nuvens negras ameaçam o futuro da TAP. Sem o ‘tio rico’, o financiamento dos 53 aviões com divida implica custos financeiros. O resultado de 2018 anuncia-se negativo e será de €-58 milhões. O Plano Estratégico entre Estado e Privados, reafirmado em 2017, falha a previsão de 2018. O ano de 2019 anuncia-se mau e o prejuízo será de €-96 milhões. O Estado não impõe ao privado a reestruturação de que falece à empresa. Algures vai faltar capital.
  6. Pedro Nuno Santos, ‘acionista Estado’, ignora a reestruturação que falece à TAP e dá prioridade à critica a prémios de gestão decididos pela gestão. Na praça pública e tom comicieiro desestabiliza a estrutura acionista e a relação entre Estado e gestão privada. Assume falar «em público, porque é assim que eu gosto de fazer o meu trabalho… não há cá conversinha com administradores que não passem cá para fora». Tão pequenino que é este Portugal. DN provoca choque frontal com PNS sobre os prémios, dias antes da TAP pedir garantia do Estado para financiamento covid. PNS recusa a garantia e opta por aumento de capital que sabe não ser acompanhado pelos acionistas privados. A sua estratégia para a Empresa é pagar €55 milhões para expulsar DN e nacionalizar a TAP. No Portugal pequenino, o ‘tio rico’ de PNS é o contribuinte português.

Analista sénior de turismo e transporte aéreo e militante do PS