O ano letivo arrancou e milhares de alunos regressaram às aulas. Num ano em que vários problemas têm vindo à superfície, existem duas questões que se tornaram particularmente exigentes de enfrentar.
Primeiro, a falta de professores generalizada, o que obriga milhares de alunos a começarem o ano sem terem todos os seus professores. Hoje vemos alunos que ficam o ano inteiro sem ter professores para disciplinas, por vezes até a Português ou Matemática. Há 7 ou 8 anos, isto seria absolutamente impensável.
Em segundo, as drásticas mudanças demográficas que estão a ocorrer no nosso país e que estão a ser sentidas nas escolas. Nas periferias começamos a ter cada vez mais turmas em que a língua portuguesa perde espaço, ou seja, começa a existir um significativo número de alunos que não tem o português como a sua primeira língua. Ora, isso tem feito com que, o ensino perca naturalmente qualidade. O sinal fica claro quando existe um aumento exponencial da procura, da parte das famílias portuguesas, de oferta educativa alternativa à escola pública.
Não é preciso muito para chegar a uma conclusão óbvia: a escola pública está pior. Muito pior. Deixou de ser garantia para o elevador social, se é que, alguma vez foi.
No meio da contemporaneidade dos nossos problemas educativos, existe um que tem ficado irremediavelmente encostado na prateleira: os rapazes estão a ficar para trás e é tempo de falar disso. Não é compreensível que sistematicamente tenhamos maiores taxas de reprovação nos rapazes do que nas raparigas. Não é compreensível que as raparigas sejam frequentemente mais bem-sucedidas nos exames finais do básico e do secundário do que os rapazes, ou que, todos os anos, a percentagem de raparigas a ingressar no ensino superior, seja significativamente superior à percentagem dos rapazes. Não é compreensível que a percentagem de abandono escolar seja maioritariamente preenchida por rapazes do que por raparigas. Segundo o relatório da Comissão para a Igualdade de Género, em 2022, a taxa de abandono escolar situou-se nos 4,1% para as raparigas e nos 7,9% para os rapazes. Ou seja, praticamente o dobro. É estranho que os rapazes continuem a ter sistematicamente uma maior propensão para os comportamentos de risco do que as raparigas.
Não me levem a mal, estes dados são fantásticos no curto prazo para as raparigas, mas são péssimos para os rapazes. E se, nada for feito, então, estes indicadores serão péssimos para todos. Se não se compreender o que está por de trás destes dados, dificilmente perceberemos o que está por detrás do facto dos homens terem uma taxa de suicídio, uma taxa de criminalidade violenta, uma taxa de acidentes rodoviários superiores e em alguns casos, com diferenças significativas, em relação às mulheres. 93% da população prisional em Portugal são homens. 80% da população sem abrigo são homens. No ano de 2021, houve mais de 124 vítimas mortais de acidentes de trabalho, cerca de 101 foram homens. Em 2022, a esperança média de vida dos homens continua a ser 6 anos inferior à das mulheres.
Todos estes dados demonstram que os rapazes estão a ficar para trás, mas mais do que isso, construiu-se um sistema, onde os rapazes são o elo mais fraco. Tudo começa na Educação.
Thomas Sowel defende que o atual socialismo procura convictamente a ideia de que é possível caminhar para um certo tipo de justiça social e igualdade, seja por mecanismos políticos, culturais ou confrontações ideológicas. O ideal de que devemos caminhar para uma igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, resvalou erradamente para o dogma ideológico de que não existem diferenças biológicas entre rapazes e raparigas. Como tal, podemos tratar ambos da mesma maneira. Ora, as consequências disso para os rapazes estão a ficar cada vez mais visíveis. Por alguma razão, os rapazes estão mais expostos e vulneráveis do que as raparigas. Ora, as teorias de género, os construtivistas sociais e a desconstrução de uma suposta “masculinidade tóxica”, não estão a resolver este fosso. Pelo contrário, e ironicamente, a busca ideológica pela igualdade pode estar a traduzir-se numa realidade de desigualdade. Os rapazes de hoje são os homens de amanhã e partem em desvantagem clara. O ano escolar está a começar e seria bom começarmos a refletir sobre isto com seriedade. O que faz com que os rapazes comecem, à partida, numa posição de desvantagem no ano letivo em relação às raparigas?