O assunto é recorrente. Mas continuamos a querer acreditar que as aplicações não controlam as nossas vidas. Aliás, continuamos a querer acreditar que somos nós que controlamos as apps.
Até gostamos de desafiar o Waze, sobretudo em zonas conhecidas, seguindo por direções diferentes com esperança de que o tempo de chegada possa diminuir. Mas se o telemóvel ficar sem bateria, já há quem não chegue ao destino final.
Mesmo em destinos turísticos, quando questionamos um local sobre a melhor rota para determinado monumento, museu ou restaurante, já não é assim tão raro vê-lo recorrer ao Google Maps, livrando-se talvez das culpas de um possível engano. Ou escondendo aqueles olhares que denunciam os pensamentos mais comuns: «lá vão os gringos todos de carneirada para um sítio que nós por cá nem passamos perto». E já nem se pode dizer que a culpa é dos guias porque as principais culpadas são agora as redes sociais. Hoje são elas que indicam os pontos principais de cada cidade. Mais: os pontos para fugir aos pontos principais, além dos pontos principais daqueles que não são principais, tal é a dimensão do fenómeno.
Como se não fosse suficiente, também as aplicações para encomendar comida funcionam da mesma maneira. Se estiver com vontade de uma bela comida japonesa ou chinesa, o mais provável é que acabe com um saquinho de entrega com pizza ou prego – já que as promoções disponíveis e outras variantes, como a taxa de entrega, vão fazê-lo mudar de ideias num ápice! Mas temos a certeza que somos nós que controlamos e decidimos: afinal não há nada como um prego com ovo a cavalo.
Na hora da limpeza, o caso muda de figura, já que com tantos descontos disponíveis, parece que quando é mesmo necessária os preços são os de tabela. E aí a cedência fica difícil de engolir, porque aquele mesmo serviço costuma estar frequentemente disponível com 50% de desconto.
Mesmo no que diz respeito às viagens, todos temos alguns destinos de sonho, mas basta uma pesquisa para terminarmos de malas e bagagens arrumadas para o melhor pack oferecido no momento.
No final do dia, quem tem boca vai a Roma, mas só quem tem a Siri, a Alexa ou qualquer outro assistente virtual pode chegar à Margem Sul.
Até poderemos comer um dia sushi ou pato à Pequim, talvez não propriamente quando estiver mesmo a apetecer, mas preferencialmente quando a promoção surgir.
E se não se conhecerem os destinos de sonho, paciência!, construíram-se sonhos noutros destinos.
Sempre tudo escolhido por cada um de nós e a dedo, claro.