Queridas filhas,
Os últimos 50 anos de Portugal dividem-se em duas etapas: os primeiros 25 anos foram heroicos e os segundos 25 anos de estagnação. A grande diferença foi a visão estratégica e a qualidade de estadistas que tivemos em cada período. Aqui proponho uma visão para ganharmos os próximos 25 anos: um alinhamento estratégico mais atlântico, mais pro-negócio, menos regulatório e com uma modernização do sistema judicial para níveis líderes mundiais. Isto colocaria Portugal na liderança europeia. Com estadistas corajosos, ambiciosos e em sintonia trata-se de uma visão realista.
Os primeiros 25 anos pós-revolução procuraram a criação de uma democracia plural e tolerante, privatização da economia e integração na União Europeia. Nos primeiros anos, a democracia e a integração foram conseguidas com a liderança de Mário Soares, Sá Carneiro e Ramalho Eanes. Cavaco Silva reformou e privatizou a economia de seguida e Portugal fortemente convergiu com a União Europeia em termos económicos tendo sido membro fundador do Euro.
Desde então Portugal perdeu dinamismo, otimismo e visão estratégica. Economicamente divergimos da UE com os países da Europa de leste a ultrapassar-nos. Em termos estratégicos abdicamos de seguir o nosso caminho e optamos por seguir diretrizes de Bruxelas. Durante o período tivemos fracos líderes: dois deles (Sócrates e Santana Lopes) saíram com problemas de corrupção ou incompetência. Três saíram para prosseguir ambições pessoais fora (Guterres, Barroso e Costa). Nenhum deles deixou o país em boa situação. Um foi afastado apesar de ganhar eleições (Passos Coelho) num golpe com objetivos políticos e não de servir o país.
A fraca performance de Portugal não reflete a de muitos dos nossos parceiros. Os EUA, tiveram um mau período de 74 a 85, mas desde então tem crescido a níveis muito altos. O Reino Unido teve boa performance até ao Brexit, mas a Europa de Leste continua a crescer bem. A França e Alemanha, quais veleiros sem vento, estagnaram em burocracia e políticas interventivas do consenso de Bruxelas e não conseguem reanimar o crescimento. Portugal, como bom aluno, seguiu atrás.
Mas não tem de ser assim. Com bons estadistas Portugal pode liderar a ala Atlântica da Europa, reanimar o crescimento económico e assumir uma posição de relevo na parceria Europa-América. Dentro de uma organização como a UE, há duas formas de ter influência: dimensão (que não temos) ou especialização. Alguns países, astutamente especializaram-se e beneficiaram disso: Irlanda (baixos impostos), Luxemburgo (facilidade de regulação de serviços financeiros), Holanda (baixos impostos e regulação mais leve para negócios). O Reino Unido sempre teve uma posição de destaque, não só pela dimensão, mas pela relação próxima com os EUA. O Brexit abre esta oportunidade a Portugal. Tal como o Reino Unido, Portugal sempre foi uma nação atlântica, e os Açores são um ativo forte geoestratégico para a NATO. Temos ex-colónias atlânticas (Brasil, Angola, Cabo Verde, São Tome) e temos 1,5 milhões de emigrantes na América do Norte. Muitos em posições de destaque.
Seria de alto interesse de Portugal (e dos EUA) um maior alinhamento estratégico dos dois países. Portugal devia ser uma das principais portas de entrada dos EUA no mercado europeu. Tal criaria empregos, novas tecnologias, financiamento e empreendedorismo a Portugal. Não só enriqueceria o país, como aumentaria o nosso peso e importância em negociações de políticas e tratados internacionais. Temos estadistas para isso?