Despesas. Afinal, quanto custa ter um filho?

Os custos de ter um filho dependem de vários fatores: se é ou não o primeiro filho, onde costuma fazer as compras e em que escolas os vai colocar. Mas o nosso jornal fez uma pesquisa e dá-lhe uma ideia de quanto os pais têm de desembolsar

É, como se costuma dizer, a pergunta para um milhão de euros. Ter um filho é um custo acrescido mas será sempre difícil saber ao certo quanto custará devido a múltiplos fatores. Ainda que a chegada de um bebé seja um momento tão aguardado por muitos, os custos associados a esse novo ser podem ser o principal fator que faz adiar esta decisão mais tempo. Não é por acaso que a taxa de natalidade na União Europeia (UE) recuou, em 2022, para os 1,46 nascimentos por mulher. Ainda assim, Portugal recuperou para 1,43 face à quebra do ano anterior (1,35), segundo dados do Eurostat.

Mas vamos a contas. Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que os agregados familiares com filhos a cargo gastam, em média, mais quase 10 mil euros por ano face às famílias sem dependentes a cargo. “Os resultados sugerem que, atendendo à composição familiar, os agregados com crianças dependentes gastam anualmente, em média, mais 9.731 euros do que os agregados familiares sem crianças dependentes, o que se traduz numa despesa mensal média superior em 811 euros”, explica o gabinete de estatística.

Não há como negar que entre alimentação, escola, roupa e saúde, as despesas com filhos ascendem a várias centenas de euros por mês. No primeiro ano de vida esse investimento é ainda maior, principalmente para quem acaba de ter o primeiro filho e não ‘herda’ nada de filhos anteriores.

Uma análise do KuantoKusta feita para o i mostra que, entre roupa para bebé, roupa para criança, alimentação (para bebés), higiene e cuidados, descanso, passeio ou material escolar, o valor total é de quase dois mil euros. Estamos a falar de custos unitários e é certo que não é comprado tudo de uma vez. 

Vamos por partes. Babygrows são, talvez, a peça de roupa que um bebé mais usa. A média do preço unitário é de 40 euros, segundo a análise do KantoKusta. Ora, comprando dez, o valor dispara para os 400 euros.

No que diz respeito à alimentação – almofada de amamentação, babetes, extrator de leite, biberões, leite em pó, esterilizadores – o valor total de preços unitários é de pouco mais que 238 euros. E o que também não fica barato é o ‘pack’ de higiene e cuidados. Entre banheiras de plástico, sabonete, champô, toalhas com capuz, fraldas, creme anti-assaduras, toalhitas e termómetros de banho, o valor é de 113,04 euros. Um pack que cresce mais 140 euros se adicionarmos a mala do bebé com os produtos essenciais.

O mais caro será sempre o transporte e o descanso do bebé. Segundo o KuantoKusta, entre berço, colchão, lençóis, mantas, cadeira para carro, marsúpio e carrinho, o valor médio gasto é de quase mil euros: 973,47 euros.

Depois é preciso pensar na creche da criança. Ao abrigo do programa Creche Feliz, crianças nascidas a partir de 1 de setembro de 2021 podem ter acesso a creche gratuita mas este apoio é dividido por escalões e as vagas não são muitas. Depois há as creches privadas, que rondam uma mensalidade de 300 euros em média.

E depois a escola. A análise do KuantoKusta para o i mostra que uma unidade do material de escolar essencial tem um custo de cerca de 96 euros. E isto sem contar com os manuais escolares e refeições que serão feitas na escola: almoços e lanches.

Segundo dados do novobanco, um filho custará, aproximadamente, mais de 340 euros por mês, repartidos do seguinte modo: alimentação (+150 euros), atividades extracurriculares (+40 euros), educação (+50 euros), saúde e higiene (+50 euros) e outros gastos (+50 euros).

E mesmo antes de o bebé nascer, é preciso ter em conta o parto. Ainda que seja gratuito no Serviço Nacional de Saúde (SNS), não o é nos privados, onde se paga perto de dois mil euros por um parto normal e mais de três mil por uma cesariana, em média.

Apoios do Governo 

É preciso ter em conta que, ainda que as despesas sejam muitas, os sucessivos governos portugueses têm dado alguns apoios a mães e pais. Medidas que vão mudando ao longo dos anos. Saem umas, entram outras. Atualmente, segundo os dados do Governo, a partir da 13.ª semana da gravidez, a grávida pode ter direito ao abono de família pré-natal. É, no entanto, importante relembrar que este apoio vai depender dos rendimentos do agregado familiar, de quantos filhos já tem e de quantos está à espera. As mães que vivem sozinhas ou só com crianças ou jovens recebem mais 35% do valor do abono. E também podem ser pedidos subsídios por risco, consoante a profissão.

Depois de nascer o bebé, o Estado dá à criança o abono de família, que é também atribuído consoante o rendimento do agregado familiar. Este abono é atribuído até a criança terminar o ensino obrigatório – 12.º ano – e há outros como os apoios para famílias monoparentais, famílias numerosas, bolsas de estudo ou apoios para crianças doentes.

Seguem-se as deduções nos impostos. Cada caso é um caso e estas deduções serão feitas aquando a declaração de IRS. Segundo o Governo, os valores são os seguintes: 600 euros por cada filha/o com mais de três anos; 726 euros por cada filha/o com menos de ou igual a três anos, 900 euros por cada filha/o com menos ou igual a três anos, caso seja 2.º dependente e seguintes 1.187,50 euros por cada filha/o com deficiência; 1.900 euros das despesas de acompanhamento por cada filha/o em comum com grau de incapacidade igual ou superior a 90%; 35% das despesas gerais familiares por cada filha/o até ao limite global de 250 euros; 15% das despesas com saúde e seguros por cada filha/o até ao limite global de 1.000 euros; 30% das despesas com educação e formação por cada filha/o até ao limite global de 800 euros, podendo ser de 1.000 euros se a diferença for relativa às rendas de arrendamento de estudante deslocado; 30% das despesas com educação e reabilitação por cada filha/o com deficiência; 25% das despesas com prémios de seguro ou contribuições para associações mutualistas por cada filha/o com deficiência; 100% do IVA suportado nas faturas relativas aos passes mensais dos transportes públicos por cada filha/o até ao limite global de 250 euros e ainda 15% das despesas com arrendamento de imóveis até 1.000 euros, durante três anos, para famílias que transfiram a residência permanente para o Interior.

Alimentação de bebé – 238€

Um bebé precisa de cuidados especiais na alimentação. Entre almofada de amamentação, babetes, biberões, extratores de leite, leite em pó ou esterilizadores, o preço médio é este.

Higiene e cuidados – 113€

Essenciais de banho e de mudança de fraldas não são baratos. Aqui falamos de preços unitários mas todos sabemos que um bebé usa muitas fraldas…

Material escolar – €96

A partir do momento em que a criança vai para a escola, as despesas aumentam. Este é o preço do material escolar básico, sem contar com os manuais.

Aumento de despesas de casa – 12€

Se tem um filho vai certamente pagar mais na conta da luz e da água. Estes são a média de valores a mais por mês

Obras no quarto – 500€

Seja na preparação do quarto para o primeiro filho ou na adaptação de um quarto para mais filhos, as despesas vão crescendo.

Parto – 2000€

Ainda que seja gratuito no Serviço Nacional de Saúde, os partos pagam-se no privado. Os valores variam muito consoante os locais e se se tem ou não seguro de saúde.

Creches – 300€

O preço médio das creches em Portugal ronda os 300 euros. Existem também as públicas e o programa Creche Feliz. Mas há falta de vagas no país.

Roupa de bebé e criança – 416€

Vestir crianças é, claro, importante. E com o crescimento, a roupa muda muito rapidamente. Desde bebé até criança, o preço médio do ‘cabaz’ é este.

Descanso – 249€

O berço é o que mais custa neste pacote, rondando os 150 euros. Mas é preciso juntar o colchão, os lençois e as mantas…

Passeio – 725 €

É, talvez, o que mais caro fica no que diz respeito a um bebé: cadeira para carro, marsúpio, carrinho… estes produtos elevam a conta de ter um bebé.