O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, quer que a Polícia Municipal possa fazer detenções na via pública. Suponho que isto significa que um carteirista que seja apanhado a meter a mão no bolso de um transeunte poderá ser preso por um destes agentes. O mesmo poderá acontecer a um homem que tente violar uma mulher, ou vice-versa, no meio do Rossio. Ou ainda a alguém que regue com gasolina o Teatro Dona Maria ou ataque com uma picareta a Gulbenkian. Apenas quem vandalizar a estátua do Padre António Vieira pode estar sossegado.
Até então, os polícias municipais podiam tentar dissuadir violadores, carteiristas e incendiários; podiam ser forçados a lutar com eles para defender a própria vida; mas não podiam prendê-los. Tinham de ligar para a outra Polícia, a verdadeira, e perguntar-lhes se tinham algum carro que não estivesse avariado para vir recolher alguns cidadãos que têm uma interpretação diferente das leis portuguesas. E quanto a estes, os que interpretam à sua maneira o Direito, tinham de lhes pedir que aguardassem pacificamente, sem ameaças, socos, pontapés ou rega de gasolina, que os verdadeiros polícias os viessem buscar e levar para a esquadra.
O problema é que por vezes isto não resultava bem. Por estranho que pareça, há pessoas que não gostam de ser presas. Agridem quem os tenta capturar e fogem. E a Polícia verdadeira quando chega já não encontra ninguém para prender. Isto é frustrante para os polícias verdadeiros, porque gastaram tempo e gasolina para nada – ou para avariar mais um carro e ultrapassar os gastos previstos no orçamento. Logo, poderá até acontecer que um dia, ante tantas saídas em falso, tipo Pedro e o Lobo, os verdadeiros polícias percam a paciência e prendam os falsos. Prender é um hábito salutar como outro qualquer.
Se já houve luta de polícias secos contra polícias molhados, ninguém se admire se começar a haver polícias verdadeiros a prender polícias falsos. Ora se isto acontecer, é natural que estes comecem a racionar como os delinquentes que gostariam de prender. Ou seja, também não querem perder a liberdade e, por isso, deixam de atuar mesmo que vejam alguém a atirar um carrinho de bebé ao rio Tejo.
Entretanto, várias vozes se voltaram contra o desejo de Moedas com argumentos de alto calibre sobre a legalidade da medida. Como vivemos em Democracia, penso que o melhor era auscultar o sindicato dos delinquentes de Lisboa para sabermos se preferem ser presos pelos polícias verdadeiros ou pelos falsos. Ou ainda, se entendem que a Constituição lhes garante o direito inalienável de exercerem a sua profissão sem serem presos ou sofrerem algum tipo de bullying.
Fontes próximas, garantem que o sentimento entre os delinquentes é este: ‘Prendam mas é o Moedas!’.
Escritor