Banco de Portugal revê em baixa crescimento da economia para 1,6%

É uma previsão mais pessimista que o Governo que espera um crescimento de 2%.

O Banco de Portugal reviu em baixa o crescimento da economia portuguesa para 1,6% este ano. No próximo cresce 2,1% e em 2026 deverá crescer 2,2%, “continuando a convergir para os níveis de rendimento europeus”.

No boletim económico divulgado esta terça-feira, o banco liderado por Mário Centeno adianta ainda que a inflação vai cair pela 2,6% este ano “e fixa-se em valores consistentes com a estabilidade de preços nos anos seguintes”.

A previsão de crescimento é mais pessimista que a do Governo que prevê 2%. Já a Organização para a Cooperação Económica (OCDE) prevê o mesmo que o Banco de Portugal. Por sua vez a Comissão Europeia acredita num crescimento de 1,7%, o Conselho das Finanças Públicas de 1,8% e o Fundo Monetário Internacional de 1,9%.

No que diz respeito ao mercado de trabalho, este vai continuar a “evoluir favoravelmente” com o aumento do emprego (de 1,1% em 2024, 0,6% em 2025 e 0,9% em 2026) e dos salários reais (de 4,6% em 2024, 2,2% em 2025 e 2,0% em 2026). Já a taxa de desemprego permanece baixa.

“O crescimento da atividade em 2024 é sustentado pelo consumo privado e pelas exportações”, lê-se na nota do Banco de Portugal que acrescenta que a aceleração nos próximos dois anos “reflete o contributo do consumo e melhores perspetivas para o investimento” e que “a maior sustentação do crescimento na componente do consumo privado é menos virtuosa para a sustentabilidade da economia portuguesa”.

Nestes anos em análise neste boletim, o banco refere que a taxa de poupança vai continuar em níveis altos, acima de 11%, “refletindo as taxas de juro mais elevadas e comportamentos de precaução por parte das famílias”.

Já o investimento vai abrandar este ano mas para os próximos prevê-se que acelere “com o alívio das condições financeiras, a melhoria das perspetivas globais e o estímulo dos fundos europeus”.

A nota refere que o crescimento das exportações “reflete o contexto de normalização dos padrões de consumo globais, e a aceleração das exportações de bens” e que o turismo, apesar de se prever que abrande, vai continuar a crescer “acima do total das exportações”.

E os riscos?

O Banco de Portugal defende que os riscos destas projeções “são equilibrados”, explicando que “para a atividade, mantêm-se riscos de revisão em baixa associados às tensões geopolíticas internacionais e ao cumprimento atempado das metas do PRR”.

Em contrapartida, acrescenta, “o consumo privado pode aumentar acima do esperado, em reação ao crescimento projetado do rendimento das famílias”.

Para a inflação, “efeitos desfasados da política monetária mais marcados geram riscos em baixa”. Riscos que são “contrabalançados por possíveis choques sobre os preços das matérias-primas internacionais, bem como por um maior dinamismo dos salários”.

A entidade não tem dúvidas que “a resistência da economia aos choques recentes é reflexo do progresso verificado na redução de desequilíbrios macroeconómicos e outras fragilidades estruturais”. No entanto, no futuro próximo, “haverá desafios importantes ― associados às transformações tecnológicas, às alterações geopolíticas e à gestão da transição climática”.

O Banco de Portugal explica também que “a orientação expansionista da política orçamental em todos os anos do horizonte de projeção, num contexto em que a economia se encontra acima do seu potencial, gerará a necessidade de um ajustamento posterior numa fase menos favorável do ciclo económico”.