As ameaças contra uma são contra todas!

Se uma mulher ousar ser ela própria será sacrificada no altar dos costumes, das manias e do machismo, que se espalham como uma labareda por Portugal inteiro.

Aquilo que se tem dito e passado acerca de um vestido na cerimónia dos Globos de Ouro parece ser irrelevante mas está longe de o ser. A fadista Ana Moura foi alvo de inúmeras ameaças por ter usado um vestido semitransparente. Neste episódio revelador, de que se não gostamos de como uma mulher se apresenta, podemos tudo desde ameaçar a insultar ou até concretizar as mesmas ameaças. Tal como a escolha pessoal de uma mulher, no seu vestido, a sua escolha pessoal na cor política ou no que for, leva a que extremistas também tenham sido julgados e condenados em tribunal por ameaçar ‘violar todas as mulheres de esquerda do país’.

Portanto, se uma mulher ousar ser ela própria, será sacrificada no altar dos costumes, das manias e do machismo que se espalham como uma labareda por Portugal inteiro, sendo a violência doméstica o crime que mais mata no nosso país, maioritariamente mulheres.

Quando em público, uma artista é linchada e ameaçada na sua liberdade pessoal e individual de escolha por indivíduos do sexo masculino, onde a mesma vê a sua liberdade e passos restringidos pelo uso da sua própria liberdade, devemos concluir que algo está muito mas muito errado. Enganem-se as mulheres que, na sua opinião de gostos, acham que isso é apenas isso. Uma questão de gosto. De bom ou mau gosto. De elegância ou falta dela. E argumentam dizendo que são livres para dizer que não gostam, que acham vulgar ou pouco elegante.

No preciso momento em que o fazem, estão a condenar outra mulher, a ser ameaçada ou insultada, apenas por ser ela própria. Palavras que não empoderam uma luta que muitas vezes se faz, cega, surda e muda por tantas, que devia ser alvo de união, mesmo que as opiniões fiquem para trás na questão do gosto. O gosto deixa de importar quando passam a existir insultos e ameaças contra uma mulher que podia ser cada uma de nós, que foi insultada ou até ameaçada por ser mulher, por o vestido não ser comprido o suficiente ou porque só as ‘outras’ é que calçam saltos altos. As ameaças contra uma, são ameaças contra todas!

Ativista