Dirigente de associação apela a um maior investimento nos cuidados paliativos

A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) apelou este domingo a um reforço significativo no investimento em cuidados paliativos, sublinhando a necessidade urgente de garantir que todos os cidadãos, independentemente da sua localização, possam ter acesso atempado a este tipo de apoio. A mensagem surge no âmbito da celebração do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos,…

A Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) apelou este domingo a um reforço significativo no investimento em cuidados paliativos, sublinhando a necessidade urgente de garantir que todos os cidadãos, independentemente da sua localização, possam ter acesso atempado a este tipo de apoio. A mensagem surge no âmbito da celebração do Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, que se assinala nesta segunda-feira.

Catarina Pazes, presidente da APCP, alertou, em declarações à agência Lusa, para a situação atual, em que os cuidados paliativos ainda são encarados como um privilégio. “Continua a ser, para uns, uma coisa desconhecida (…). Para outros, quem já conhece, é uma exigência natural, mas, infelizmente, (…) havendo uma assimetria ainda tão vincada no acesso, acaba por ser visto como um privilégio ou um luxo”, afirmou a responsável, destacando que a dificuldade de acesso é um problema transversal a várias regiões do país.

A APCP pede um maior compromisso do governo para corrigir estas falhas no sistema e garantir que as equipas de cuidados paliativos possam operar com a dignidade e os recursos necessários. “Apelo a quem governa e a quem está a apresentar o Orçamento do Estado, para colocar uma verba adequada para que se defina os cuidados paliativos como uma prioridade. São uma urgência, uma emergência para o Serviço Nacional de Saúde, mas precisam de investimento”, afirmou Pazes.

Os cuidados paliativos são uma especialidade da saúde destinada a melhorar a qualidade de vida de doentes com doenças graves, crónicas ou terminais, aliviando a dor e o sofrimento, mas sem o objetivo de curar a doença. Estes cuidados incluem não só o tratamento dos sintomas físicos, mas também o apoio psicológico, social e espiritual ao doente e à sua família. No entanto, apesar da sua importância, esta área tem sido frequentemente relegada para segundo plano no planeamento das políticas de saúde.

Catarina Pazes sublinhou ainda que os cuidados paliativos devem ser tratados “com o mesmo nível de dignidade e respeito” que qualquer outra especialidade médica, lamentando a enorme desigualdade no acesso a este tipo de assistência em várias partes do país. Apesar das dificuldades, a presidente da APCP reconheceu a existência de “bons exemplos” que evidenciam o impacto positivo dos cuidados paliativos, destacando a importância de sensibilizar a sociedade para esta causa.

No entanto, Pazes aponta para uma falta de exigência por parte da sociedade civil em relação a este tipo de cuidados e alerta para o que descreve como uma “normalização do sofrimento”. “Nos hospitais, nos lares idosos, há uma certa normalização do sofrimento. Pensa-se que se a pessoa está naquela situação, é normal”. E acrescenta: “Não, não é normal as pessoas passarem por tudo isto sem um suporte adequado e o facto de não terem esse suporte adequado faz com que tenham de recorrer muito mais vezes ao hospital, ao serviço de urgência”, frisou.

O impacto da falta de cuidados paliativos estende-se às famílias dos doentes, provocando “insegurança e angústia”, segundo Pazes. A responsável explicou que, ao não terem acesso ao suporte necessário, muitos doentes acabam por procurar internamento em unidades longe de casa, um fator que pode levar a mais sofrimento emocional e logístico para as famílias.

Em Portugal, estima-se que mais de 100 mil pessoas, entre crianças, jovens, adultos e idosos, necessitam de cuidados paliativos, mas cerca de 70% não têm acesso a este tipo de apoio. Um relatório recente da Entidade Reguladora da Saúde apontou que quase metade dos doentes referenciados para unidades de cuidados paliativos no setor privado ou social, em 2023, acabaram por falecer à espera de vaga.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta que, até 2060, o número de pessoas que necessitarão de cuidados paliativos poderá duplicar, sublinhando a crescente importância deste tipo de assistência a nível global.