A redução de penas e a libertação de presos ligados à ETA, organização terrorista reponsável por mais de 850 assassinatos, está a fazer correr tinta na política e na sociedade espanholas.
O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, é suportado por uma maioria frágil e contranatura no Congresso, o que faz com que seja obrigado a ceder a exigências de partidos que representam uma percentagem bastante reduzida de espanhóis. E se a maior preocupação tem sido satisfazer Carles Puigdemont, líder do Junts per Catalunya e foragido da justiça espanhola, desta vez foi o EH Bildu a obrigar Sánchez a mudar de opinião.
Em 2021, o líder socialista garantiu que não iria libertar 200 terroristas da ETA em troca de votos do Bildu para fazer aprovar o Orçamento. E se não reduziu penas a terroristas para aprovar o Orçamento – como é sabido, Sánchez não atribui demasiada importância a tal documento, governando sem ele – acabou por fazê-lo para continuar na Moncloa.
Outro aspeto que importa ter em conta é a cumplicidade da oposição para com a medida apresentada pelo Governo. Uma atitude surpreendente por parte do Partido Popular e do VOX, que já se tentaram retractar pelo erro.
Alberto Núñez Feijóo lamentou que se trata de «um erro injustificável» do PP, que acabou por fazer uso da maioria absoluta no Senado para adiar o debate para o dia 14 de outubro.
Também a bancada parlamentar dos populares interrompeu a intervenção de Sánchez para receber, com uma ovação, Marimar Blanco, senadora do PP e irmã de Miguel Ángel Blanco, assassinado pela ETA em 1997.
Também o líder do VOX, Santiago Abascal, garante que se está «bastante doído» com aquilo que considera ser um erro da parte do seu partido, garantindo que passarão agora por um processo de «recuperação de credibilidade», estando cientes de que pagarão «um preço» por isso, como noticiou o diário espanhol ABC.
São erros grosseiros da oposição que dá assim um balão de oxigénio a Sánchez para continuar o seu processo.
Ainda assim, o plano que tem sido levado a cabo pelos socialistas não parece ser sustentável. E se tem sido atribuído o título de maquiavélico a Pedro Sánchez, de forma acertada, o presidente do executivo espanhol parece ter ignorado um dos conselhos fundamentais do pensador italiano do século XVI: «Se um princípe mantiver o seu Estado através de exércitos mercenários, nunca será estável nem seguro».