Picaroto

nada como desafiar-me fisicamente, superar os meus limites, para usufruir duma experiência única e desfrutar da paisagem de rara beleza.

The top of Pico mountain on Pico island is pictured from Sao Jorge island, in the Portuguese archipelago of the Azores, on March 28, 2022. – Sao Jorge island, of the Portuguese archipelago of the Azores, has become fpr a week the epicentre of thousands of small earthquakes that could precede a volcanic eruption. (Photo by PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP) PORTUGAL-AZORES-EARTHQUAKE-VOLCANO

Querida avó,

Os teus desejos são ordens! Claro que tenho muito para partilhar contigo sobre o meu regresso ao Açores.    

Já andava para ir conhecer a Ilha do Pico há imenso tempo.

Tenho a sorte do meu amigo Ismael ter uma costela picarota (nome dos naturais ou habitantes do Pico) e me ter levado numa visita guiada pelos principais pontos da ilha.

Sei que ficas de coração apertado cada vez que me meto em atividades mais radicais. No entanto, como deves entender, era difícil para mim estar na ilha e resistir à vontade de fazer a subida ao Pico. Para tal aventura escolhi a Tripix, que tem os melhores guias para que esta experiência fosse segura e inesquecível.

O Bruno Leal é filho de um dos guias mais antigos da Montanha do Pico e foi quem me levou a escalar a montanha mais alta de Portugal. Não foi nada fácil! No entanto, nada como desafiar-me fisicamente, superar os meus limites, para usufruir duma experiência única e desfrutar da paisagem de rara beleza.

Tenho fotos lindas que registam o momento. E posso dizer-te que almocei no cimo da montanha, mais precisamente junto ao Piquinho, a 2351 metros de altitude, imagina. Não é para todos!

No dia seguinte resolvi participar em algo mais tranquilo. A mesma empresa faz passeios de jipe pelas lagoas secretas e pelas cavernas de lava, que não podia deixar de fazer.

Faialense de nascimento, mas Picarota de coração, a Maria foi a guia que me levou nesta descoberta de paisagens únicas criadas pela natureza. Gostei imenso de ver o maior tubo de lava de Portugal e de visitar as grutas vulcânicas com formações geológicas incríveis.

Ao fim de 4 dias à descoberta do Pico, chegou a hora de pegar no carro para entrar no ferry da Atlântico Line para ir à descoberta da Ilha de São Jorge. Duas belíssimas formas de andar de ilha em ilha.

Obrigado pelas dicas que me deste. Nada como ter uma avó viajada.

Bjs

Querido neto,

Embora me encontre refastelada na esplanada da Praia do Sul, na Ericeira, não deixo de ficas estafada com o que me contas. Que canseira… Em contagem decrescente para mais um aniversário, devias pensar em abrandar o ritmo.

Deixas-me sem fôlego com tanta atividade. Com esta idade, o mais radical que me atrevia, seria participando, ativamente, nas Chamarritas do Pico, o bailo tradicional da ilha do Pico, que teve início nas folgas, muito antes dos grupos de folclore aparecerem, imagina.

Para teres uma ideia, é o único baile espontâneo ainda vivo em Portugal. Parte indissociável do património cultural açoriano. Uma dança ou, como designado localmente ‘bailho’ de roda, em que os pares obedecem a um mandador, que indica as várias mudanças coreográficas, que ornamentam a Chamarrita do Pico. Como deves ter visto ao vivo, é um momento especial em qualquer festividade, assumindo-se como parte integrante do nosso quotidiano e da nossa mais genuína identidade. Impossível ficar indiferente.

Espero que também tenhas visto os Maroiços do Pico.  As construções de pedra, em forma de pirâmide, que eram construídas com as pedras que os agricultores retiravam dos campos para os poder cultivar.

Estas estruturas têm despertado uma grande curiosidade, tendo levado a vários estudos para descobrir qual a sua origem e significado.

Espero que tenhas visitado a Biblioteca Auditório da Madalena. Assim como a Biblioteca Municipal Dias de Melo, nas Lajes do Pico. Existem livrarias muito boas nos diversos municípios da Ilha do Pico.

Espero que tenhas deixado datas marcadas para realizares tertúlias, e sessões e autógrafos, com os nossos livros.

Conta-me o resto da viagem, antes que me dê uma apoplexia!

Gosto muito de viajar através do que escreves. Mas o que eu gostava mesmo é que viesses à Ericeira, contar-me tudo ao vivo e, entregares-me os postais que sei que trouxeste para a avó.

Bjs