A frase de Pedro Nuno Santos (“prefiro perder eleições a abdicar das convicções”) pode ser um infeliz deslize a meio caminho entre o machismo e a ingenuidade. Mas pode também ser, com mais probabilidade, o anúncio de novos tempos para o partido. De que se trata, na verdade? O que são convicções, profundas ou não? O que são crenças inabaláveis? Estaremos a falar da democracia, da liberdade individual e da dignidade humana?», escrevia António_Barreto no_Público, de 5 de outubro, com o sugestivo título ‘A metamorfose do Partido Socialista’. Oito dias depois, o líder dos socialistas afirmava, num encontro público em Coimbra, com a voz forte que o caracteriza quando quer intimidar alguém: «É um processo difícil de gerir [o do Orçamento do Estado] e é muito importante que todos os militantes, nomeadamente aqueles que têm acesso ao espaço mediático, que vocês não têm [calculo que estivesse a querer ignorar Álvaro Beleza, que estava presente] tenham o sentido de responsabilidade e dever de pertencerem a um partido, terem consciência que pertencem a esse partido, que não são comentadores como os outros, e que isso implica que nós tenhamos respeito pelo partido e por todos os militantes».
O insuspeito Vieira da Silva não perdeu tempo a responder à Rádio Observador: «Estou estupefacto […] Não pende por eles [militantes] nenhuma espécie de norma de silêncio. Isso não é próprio de uma democracia», acrescentando que continuará, como militante, a dizer o que lhe vai na alma, independentemente do que digam os líderes do momento. Mas voltemos a António Barreto que, parece, escreveu uma crónica muito premonitória: «A gradual e inexorável transformação do Partido Socialista num Bloco de Esquerda “mais” é o que parece estar nas cartas. Pedro Nuno Santos, o secretário-geral, afirmou-o convictamente, sem tremer nas palavras e calculando os efeitos. Ele quer construir fronteiras, elevar obstáculos e definir linhas dogmáticas». O sociólogo, que é uma das vozes mais independentes e assertivas deste país, não necessitando de bajular os poderes, terminava alertando os socialistas de que a atuação de Pedro Nuno Santos roça a autocracia.
O homem que sonhou pôr os banqueiros alemães a tremer das pernas, e que vendeu, supostamente por 66 mil euros, um Porsche 997, Carrera Cabriolet dois meses depois de o ter comprado – «eu e o meu pai sempre gostámos de carros. Mas admito que foi um erro [a compra]. Com o trabalho que faço, julgo que é um mau sinal que não é coerente com aquilo que quero fazer e com a forma como quero estar na política. Era uma despesa que, para mim, era supérflua e que não se justificava»– (e que acabaria por adquirir um_Land Rover Defender, que custava entre 89 e 110 mil euros), umas horas depois da declaração de Coimbra, onde defendeu o centralismo democrático, já no Estoril, voltou à carga: «Qualquer militante tem a liberdade de dizer o que pensa, incluindo o secretário-geral do PS. Eu tenho uma obrigação de liderar um combate externo e de liderar internamente o PS, e nós temos de atuar e de intervir na unidade, sempre. É essa a nossa força».
Pedro Nuno Santos, acredito, quer ser o líder do novo Partido Socialista de Esquerda Livre e Comunista (PSELC), onde o centralismo democrático será regra. Mas como o secretário-geral do PS já deu mais voltas sobre si mesmo do que o cavalo Quo-Vadis do mestre João Núncio, não foi totalmente surpreendente a sua ‘aprovação’ ao Orçamento. Ao JN/TSF explicou que precisa de tempo para levar a sua avante: «Tenho a convicção de que este Governo será uma desilusão a prazo e o PS tem de aproveitar este tempo para conseguir apresentar um projeto ao país que seja suficientemente mobilizador e nos permita a vitória».
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