O PS e o PSD são irmãos gémeos?

Existem às vezes maiores diferenças dentro do mesmo partido do que entre o PS e o PSD. Fernando Medina, por exemplo, com a sua obsessão das ‘contas certas’, podia perfeitamente ser ministro das Finanças do PSD. Já Marta Temido não poderia ser em caso nenhum ministra de um governo social-democrata.

No congresso do PSD, que se realizou em Braga, Luís Montenegro preocupou-se a certa altura em responder a críticas externas segundo as quais «o PSD é igual ao PS». E Pedro Nuno Santos, confrontado internamente com afirmações do mesmo tipo, sentiu-se na necessidade de vir a público explicar por que razão «o PS é muito diferente do PSD». Tudo isto tem que ver, como sabemos, com a viabilização do Orçamento do Estado pelo Partido Socialista.
Só que o PS não o faz por concordância com o documento nem por afinidades com o PSD: fá-lo, simplesmente, porque tem medo de eleições.
Como, aliás, o Chega – que vai votar contra porque sabe que o OE passará; caso contrário, daria nova cambalhota e votaria a favor.
O seguro de vida deste Governo é o facto de haver um sentimento muito alargado de que, se houvesse agora eleições, a AD venceria com uma expressiva maioria.
Neste aspeto, Luís Montenegro revelou-se um político muito hábil.
Muita gente que não apostava um cêntimo no seu sucesso está rendida.
E a maioria do país não-político, fora dos jogos partidários, está esmagadoramente com ele.
Luís Montenegro pode fazer um percurso muito parecido com o de António Costa.
Este perdeu as eleições em 2015, conseguiu depois roubar o poder a Passos Coelho formando a ‘geringonça’ – e quatro anos depois legitimou o seu Governo alcançando uma clara vitória.
Luís Montenegro poderá ter uma trajetória semelhante.
A AD ganhou as eleições por uma unha negra (o PSD teve o mesmo número de deputados do PS), mas tem conseguido captar apoios com o exercício da governação – e hoje está muito acima do PS.
Aliás, Montenegro e Costa são muito parecidos.
Não direi que são ‘farinha do mesmo saco’ – um tem a manha dos rurais e outro a astúcia dos orientais, como diria Marcelo Rebelo de Sousa – mas são dois ‘gestores do poder’.
Não são de grandes rasgos, não gostam de grandes reformas, não querem correr riscos, mas vão fazendo o seu caminho e é muito difícil batê-los.

Entretanto, centrando-nos na questão que consta do título, pergunta-se: haverá muitas diferenças entre o PSD e o PS ou nem por isso? No que respeita ao modelo de sociedade, não há diferença nenhuma: ambos defendem a sociedade de mercado, com alguma regulação do Estado.
Variam é nas quantidades: o PS gosta de ‘mais Estado’, o PSD de ‘menos Estado’.
O PS deseja mais impostos, o PSD defende menos.
O PS é menos amigo das empresas, o PSD é mais.
E, quanto a questões mais recentes, o PS não quer obstáculos à imigração e o PSD pretende mais controlo.
Isto, porém, são generalidades.
O que se constata é que, quanto a questões concretas, temos às vezes maiores diferenças dentro do mesmo partido do que entre o PS e o PSD.
Fernando Medina, por exemplo, com a sua obsessão das ‘contas certas’, podia perfeitamente ser ministro das Finanças do PSD.
E Miranda Sarmento, com a facilidade com que abriu os cordões à bolsa às reivindicações dos polícias e dos professores, e a rapidez com que atribuiu bónus aos reformados, podia ser ministro das Finanças do PS.
Já Marta Temido não poderia ser em caso nenhum ministra de um governo social-democrata – ao contrário de Adalberto Campos Fernandes.
Podemos assim dizer que as diferenças entre o PSD e o PS no que respeita à governação não são grandes, dependendo às vezes mais da sensibilidade dos ministros. Há, porém, uma grande diferença: a ‘perceção’ da maioria dos eleitores. O modo como os portugueses veem um e outro. Ora, a maioria dos portugueses vê o PSD como ‘de direita’ e o PS como ‘de esquerda’ – e isto é o que acaba por dividir as águas e determinar em boa medida o voto, independentemente do que PS e PSD façam e do que prometam.
Há, depois, um fator que tem alguma importância, embora só influa os mais informados: a ‘canga’ ideológica que cada um dos líderes traz consigo e molda o seu discurso.
E neste aspeto podemos dizer que Pedro Nuno Santos politizou muito o PS, enquanto Luís Montenegro, pelo contrário, ‘despolitizou’ o PSD.
E esta despolitização tem-no beneficiado.
Grande parte do país não quer palavras mas soluções – e os discursos ideologicamente marcados de Pedro Nuno Santos podem ser bons para os iniciados mas afastam a maioria dos portugueses.
Não sei quanto tempo irá durar esta situação.
Para já, este Governo tem passaporte até fins de 2026, pois a AR não pode ser dissolvida mesmo que o próximo Orçamento seja chumbado – e o próximo Presidente da República não a poderá dissolver nos primeiros seis meses de mandato, ou seja, até ao fim do Verão de 2026.
A menos que ocorra um terramoto, só o chumbo do Orçamento para 2027 poderá deitar o Governo abaixo.
Isto está para lavar e durar.