Era uma vez uma jovem chamada Maria, que vivia numa pequena aldeia no interior de Portugal. Maria sempre fora uma rapariga cheia de iniciativa e, num verão particularmente quente, decidiu montar uma banca de limonada em frente à sua casa. A aldeia era pequena, e a ideia parecia simples: vender uns copos de limonada fresca aos vizinhos que passavam para ganhar uns trocos e refrescar quem sofresse com o calor abrasador.
No primeiro dia, Maria encheu o jarro de limonada, colocou uns copos de papel em cima da mesa, fez um cartaz a dizer ‘Limonada, 50 cêntimos’ e sorriu enquanto esperava os seus primeiros clientes. Não demorou muito até que os vizinhos aparecessem, felizes por ver a jovem a trabalhar e a refrescar-se com a deliciosa limonada caseira.
Contudo, o sucesso de Maria atraiu a atenção de outros olhos na aldeia – aqueles que adoram complicar o que é simples. Um senhor, vindo da cidade, apareceu no segundo dia e disse:
– Maria, a tua limonada é boa, mas precisas de uma licença para vender bebidas.
Maria, perplexa, perguntou:
– Uma licença? Mas é só limonada!
– Lei é lei, rapariga – respondeu ele. E assim, Maria lá foi à Câmara Municipal pedir a licença, que lhe custou metade das suas vendas do dia.
Poucos dias depois, uma senhora, desta vez de uma “Associação para a Proteção do Consumidor”, veio e disse:
– Olha lá, tens que pôr a lista de ingredientes na banca. As pessoas têm direito a saber o que estão a beber.
Maria, que só usava limões, água e açúcar, lá escreveu a lista de ingredientes, mas percebeu que as letras deviam ser de um certo tamanho, num papel especial e em várias línguas para os turistas.
Poucos dias depois, apareceu um homem do ‘Sindicato das Bebidas Artesanais’ que lhe informou que não podia vender limonada sem garantir que a água vinha de uma fonte certificada e que tinha de cumprir as novas normas da União Europeia sobre higiene e segurança alimentar. Maria não sabia o que era mais caro, se as novas jarras esterilizadas ou a água engarrafada, mas lá cumpriu.
O tempo foi passando e a banca de Maria, que começou com tanto entusiasmo e simplicidade, transformou-se num verdadeiro emaranhado de normas, regulamentos e custos inesperados. Já não podia vender limonada a 50 cêntimos – o preço tinha subido para 1,50€, para cobrir todas as exigências. Os seus clientes habituais, pessoas simples da aldeia, começaram a achar o preço exagerado e passaram a trazer as suas bebidas de casa.
Maria, antes tão alegre, começou a sentir-se esmagada pelo peso das regras. A sua banca já não era dela. Era de todos os que tinham aparecido com um novo regulamento, uma nova exigência, uma nova forma de complicar o que antes era simples.
Certo dia, enquanto estava sozinha na banca, uma menina aproximou-se. Olhou para Maria e perguntou:
– O que aconteceu à tua limonada? Era tão boa, mas agora está tão cara que já não posso comprar.
Maria, com um suspiro profundo, respondeu:
– Sabes, minha querida, a limonada ainda é a mesma. O problema é que, para fazer limonada hoje em dia, preciso de muito mais do que limões e água. Preciso de papéis, carimbos, licenças e uma carteira bem recheada para pagar tudo isso.
E assim, a banca de limonada de Maria, que começou como um símbolo de iniciativa e alegria, foi sufocada por uma teia de regulamentos e exigências que pareciam nunca acabar. Um sistema que, com as suas boas intenções, esqueceu-se de uma coisa fundamental: às vezes, menos é mais. Quando o peso da burocracia se torna mais pesado que o próprio trabalho, o espírito humano perde-se no meio dos papéis.