O último Congresso do PSD teve o condicionalismo provocado pelo anúncio feito por Pedro Nuno Santos relativamente ao sentido de voto que indicou ao Grupo Parlamentar do PS no Orçamento de Estado.
Aos sociais democratas restava a consagração do seu líder e a possibilidade de lançarem Marques Mendes como candidato a Presidente da República, isto para além da renovação de muitos dirigentes nacionais.
A possibilidade de qualquer tipo de lançamento da candidatura de Marques Mendes ficou completamente hipotecada pelo pouco entusiasmo demonstrado pelos delegados ao Congresso e, acima de tudo, pela presença inesperada de Santana Lopes que ofuscou de forma inequívoca a presença do seu amigo.
Restou a Montenegro apresentar uma Comissão Política Nacional “renovada”, com especial destaque para Leonor Beleza como Vice-Presidente do partido, daí as aspas que coloquei, assim como alguns rostos novos nas listas aos órgãos nacionais.
Mas o mais relevante do Congresso acabou por ser o seu discurso que se baseou no anúncio de medidas que o Governo vai, supostamente, tomar, com especial destaque para medidas que agradam ao eleitorado de direita.
Luis Montenegro, percebendo que tinha terminado o período de ascensão do Chega, fez uma intervenção muito direcionada aos eleitores do partido apelidado de extrema direita, acenando algumas das bandeiras que contribuíram para a eleição dos seus 50 deputados.
É importante referir que algumas dessas bandeiras são oriundas do CDS, mas foram abandonadas pela liderança de Assunção Cristas e muito bem aproveitadas pelo Chega. Chegados aqui, o grupo de amigos que gere o CDS mantem uma inatividade política gritante, naturalmente por alguns deles estarem servidos de lugares, graças ao gesto paternal do PSD ao fazer a AD.
Montenegro foi inteligente e tentou conquistar o espaço à direita do PSD, que fruto da irrelevância atual do CDS e da queda de popularidade do Chega, acaba por ser um espaço oportuno para crescer e afirmar o PSD como o partido representante da direita em Portugal.
Acho importante realçar as duas lamentáveis e distintas ocorrências após o Congresso Social Democrata, nomeadamente o episódio do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros com os militares, que tem sido desvalorizado, mas é muito relevante e acredito que desagrade à Direita, assim como, os lamentáveis incidentes protagonizados por gente arruaceira na zona da Amadora, grande Lisboa e margem sul, que gerou o caos e, mais uma vez, colocou em causa a segurança de pessoas e bens.
É aqui que reside o problema que Montenegro parece querer não ver, perante as cenas de selvajaria a que assistimos, como vai travar quem venha defender a autoridade das forças de segurança? Como vai travar quem defenda regras mais apertadas na atribuição do RSI e de habitação social? Como vai travar quem defende rigor no controlo da imigração?
Pois, é difícil contrariar as evidências que todos conhecemos, mas se Montenegro quer realmente conquistar o eleitorado de direita, tem que mostrar coragem e fazer o que deve ser feito, só dessa forma consegue esvaziar politicamente o Chega, caso contrário, apenas olha para a Direita e Pisca, Pisca…