Um dos grandes cancros do regime imposto em Abril responde pelo nome de Autarquias, atingindo-se um patamar de gravidade extrema que leva a que o cidadão comum associe, de imediato, o poder autárquico à corrupção.
Os autarcas, em especial aqueles que têm a responsabilidade de dirigir a edilidade do seu concelho, facilmente são catalogados com a prática de actividades delituosas, regra geral identificadas como criminosas, somando-se os casos conhecidos daqueles que enriqueceram durante o exercício das suas funções.
Naturalmente que é de uma injustiça atroz generalizar-se este tipo de acusação e apontar-se o dedo a todos quantos já se sentaram no cadeirão principal do seu município, porque a sociedade é devedora de gratidão a muitos dos presidentes de Câmara que sempre se pautaram pelos valores da honestidade e da integridade e, genuinamente, apostaram todo o seu saber na melhoraria das condições de vida dos seus munícipes.
Mas, infelizmente, os comportamentos erráticas de uns quantos, que neste caso concreto se constituem numa percentagem bastante e demasiado elevada, mancham a imagem de todos, incluindo dos que não são merecedores de suspeição.
Nos tempos que correm, a grande maioria dos autarcas camarários envereda pelos mais inusitados esquemas de angariação de fundos, conscientes de que com escassos recursos uma eventual reeleição poderá estar em perigo, porque sem obra feita o voto popular tenderá a ser reencaminhado para outros protagonistas.
Para alguns, esse dinheiro destina-se a ser gasto a incentivar a economia local e, consequentemente, contribuir para o bem-estar dos cidadãos, para outros, esbanja-se o que se angariou em actividades de carácter populista, como as já consagradas festarolas, procurando-se, através desse ardil, manter o povinho satisfeito e disponível para neles confiar o seu voto.
Nos últimos tempos descobriu-se a pólvora, ou seja, encontrou-se uma fórmula infalível de aumentar consideravelmente as receitas dos municípios em que o turismo tem sido um dos principais motores do tecido económico.
A taxa turística!
São milhões que entram nos cofres das câmaras municipais, sem que estas precisem de mexer uma palha que seja para justificar esse imposto encapotado.
E para muitas dessas autarquias, a qualidade dos turistas não interessa para nada, a quantidade é que se revela de uma importância decisiva.
Quantas mais turistas escolherem o concelho para passar as suas férias, melhor! Mais dinheiro entra nos cofres camarários!
Albufeira é um desses flagrantes casos.
Outrora uma cidade pacífica e com uma oferta turística de qualidade muito acima da média, realidade que atraía quem privilegiava o sossego, o conforto, a segurança e o esplendor dos atributos gastronómicos e hoteleiros da região, hoje tornou-se num verdadeiro inferno para quem a tem como terra natal ou de acolhimento.
Os turistas que agora invadem Albufeira provêm dos meios mais baixos dos países de onde são naturais, destacando-se os anglo-saxónicos e os do norte da Europa, razão pela qual não trazem a carteira recheada, mas vêm, sim, bem fornecidos da génese de violência e de desrespeito pelo próximo, incluindo pela autoridade, faceta a que se entregaram, desde a infância, nas paragens que os viram nascer.
A noite de Albufeira tornou-se num verdadeiro caos, passando a ser um autêntico tormento para quem tem o azar de viver nas imediações das largas dezenas de bares que se multiplicam pela cidade, os quais funcionam, sem interrupção, até às primeiras horas da manhã, num claro atropelo às leis vigentes.
Os autos de notícia que as autoridades têm levantado por este desrespeito pelas normas gerais e camarárias têm esbarrado, segundo consta, numa qualquer gaveta esquecida do gabinete da entidade máxima do concelho, cuja única preocupação é a de assegurar que estes visitantes de terceira categoria continuem a desfrutar das maravilhas que a noite de Albufeira oferece, como garante da manutenção das receitas provenientes das taxas turísticas.
Porque fracos turistas atraem gentes de má ré, os desacatos nocturnos passaram a ser a imagem de marca da noite de Albufeira, triste destino que já causou a perda de vidas humanas, vítimas de carrascos a que cuja entrada no País deveria ter sido vedada.
Aquela senhora a quem puseram como ministra da administração interna, visitou há algumas semanas a região, acompanhada pelo edil da área e pelos responsáveis policiais pelo garante da segurança e da tranquilidade das populações locais, e depois de observar, in loco, o estado de embriaguez de muitos jovens que enchiam as ruas, lembrou-se de enaltecer o espírito empreendedor dos empresários desses caóticos bares e regozijou-se com o retorno financeiro que auferem através da exploração do ruído que provocam, comentário que mereceu a concordância imediata do responsável camarário da região.
Solícita, prontificou-se a reforçar os meios de polícia na zona, com o recurso a forças de reserva vocacionadas para a ordem pública, garantido, dessa forma, a protecção dos ditos senhores da noite para que o seu negócio continue a prosperar, e a custo zero para estes.
Criou-se, através desta amabilidade ministerial, um precedente de consequências imprevisíveis, atendendo a que estabelecimentos de diversão, que não cumprem os horários de funcionamento e a lei geral do ruído, são colocados sob protecção estatal, descurando-se, como contrapartida, o policiamento geral da cidade e das restantes freguesias do concelho, cujas populações ficam desprotegidas durante o período nocturno.
Numa sociedade livre, é legítimo que a qualquer um seja concedida a possibilidade de se aventurar num negócio que lhe permita uns rendimentos mais generosos, desde que essa actividade, obviamente, não venha a colidir com os superiores interesses das pessoas que residem no espaço onde aquela se desenrola.
É precisamente isto que não se verifica em Albufeira. Para uns encherem os bolsos, toda uma população vive em alvoroço, impedida do gozo do seu legítimo descanso, principalmente do direito a uma noite de sono, e em pânico com a forte probabilidade de verem vandalizados os seus bens materiais ou de, pior ainda, serem confrontados com a perda de entes queridos às mãos de criminosos profissionais que agem impunemente num país que não é deles.
E porque a natureza destes turistas é a do permanente conflito, grande parte das unidades hoteleiras da região vêem-se forçadas a negar a entrada a muitos daqueles que as procuram, com o justificado receio dos danos que estes possam vir a provocar.
Em sentido contrário, têm perdido muitos dos seus clientes habituais, os quais, receosos do clima de medo e de insegurança que se instalou naquele que era o seu destino preferido de férias, procuram agora outras paragens mais confiáveis.
O resultado deste descalabro, tem sido o da perda significativa de receitas e cujas consequências serão, a médio prazo, o eventual encerramento de muitas dessas casas.
Enquanto uns consolidam a sua conta bancária, indiferentes ao sacrifício a que condenaram quem apenas quer viver em paz e em sossego, outros, que sempre respeitaram o próximo, caminham para a falência e para a ruína de um negócio de uma vida inteira.
Triste fado este, o de uma sociedade sem lei nem roque!
Pedro Ochôa