Muro de Berlim. 35 anos do triunfo do Ocidente

A queda do Muro de Berlim é um dos marcos mais importantes da política internacional contemporânea. Com o Muro, caiu também a União Soviética e os Estados Unidos registaram uma vitória ideológica que lhes permitiu liderar a Ordem Internacional. Foi há 35 anos. Atualmente, essa Ordem está sob ameaça.

Celebra-se este sábado a queda do Muro de Berlim, um momento redefinidor da política internacional contemporânea.

A Guerra Fria – um período de bipolaridade em que os Estados Unidos, que se estabeleceu como potência hegemónica no final da II Grande Guerra e definiu as regras do jogo internacional, se digladiava com uma potência revisionista do status quo, a União Soviética, de capacidades semelhantes – tem na queda do Muro de Berlim um golpe fatal. A afirmação dos EUA foi consumada com a tentativa falhada da reversão da estrutura internacional por parte da URSS, à beira do colapso em 1989. A ordem internacional passou, desde então, a ser pautada pelo mais importante aliado da Europa Ocidental – um período que pode estar também a conhecer os seus últimos dias em virtude da emergência de potências, como a China e a Índia, cujo desagrado pelo status quo, a par do rápido crescimento económico, é por demais evidente.

A queda do Muro que separava Berlim, de forma física, e que representava a diferença entre o Ocidente e a URSS, em termos ideológicos, bem como a consequente reunificação da Alemanha, marca um momento redefinidor do equilíbrio de poder na Europa Ocidental. Os fantasmas de uma Alemanha unificada reapareceram, especialmente em Paris e em Londres, que encontraram na União Europeia, no Euro e na NATO um sistema de equilíbrio que serviria de compensação ao poder de um país com a dimensão da Alemanha.

AFP

As origens do Muro

Na ressaca da II Guerra Mundial, a Alemanha derrotada ficou nas mãos dos aliados – Estados Unidos, União Soviética, França e Reino Unido –, que a repartiram entre si. Berlim, como capital, e ainda que no coração da República Democrática da Alemanha, um satélite da URSS, também passou pelo processo de divisão e era uma amostra das diferenças entre as duas nações alemãs.

Em 1958, Nikita Khrushchev, então líder da União Soviética, lançou um ultimato ao Ocidente: «Se quaisquer forças de agressão atacarem a República Democrática Alemã, que é um membro de pleno direito do Tratado de Varsóvia, considerá-lo-emos como um ataque à União Soviética e a todos os países do Tratado de Varsóvia», exigindo que o Ocidente retirasse as suas tropas de Berlim ocidental.

Entretanto, a Casa Branca passou a ter um novo inquilino em 1961 – John F. Kennedy. O recém-chegado Presidente deslocou-se a Viena, em junho desse mesmo ano, para um encontro com o seu homólogo soviético, de modo a reduzir as tensões. É sabido que a reunião foi um desastre para Kennedy, algo que se aponta também ao seu estado de saúde, que Khrushchev desprezou. Pouco mais de dois meses depois, o Muro de Berlim foi construído. O desenvolvimento de Berlim ocidental, marcado pela reconstrução potenciada pelo Plano Marshall, não dava sinais de abrandamento e era cada vez mais difícil esconder o evidente contraste no nível de vida dos berlinenses de um lado e de outro, com as tentativas de passagem para o lado ocidental a registarem números cada vez maiores.

A Guerra Fria assumiu, assim, contornos onde os riscos eram muito, muito altos, como se veio a confirmar um ano mais tarde na Crise dos Mísseis de Cuba.

O colapso

Posteriormente à Crise dos Mísseis e à vitória americana na corrida espacial, a Guerra Fria passou por um período de apaziguamento, à medida que o modelo soviético se demonstrava cada vez mais insustentável. Na década de 80, surgem duas figuras que acabariam por ser fundamentais para a queda do Muro: Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev.

No dia 12 de junho de 1987, o Presidente americano vai a Berlim proferir uma das frases mais marcantes sobre o Muro de Berlim, só a par, talvez, com a «Ich bin ein Berliner» de Kennedy. A escassos metros do Muro, junto à Porta de Brandemburgo, Reagan deixou um apelo ao líder soviético que ficará para a eternidade «Sr. Gorbachev, deite abaixo este muro!».

Dois anos mais tarde, em 1989, o Muro caiu, e com ele caiu também o sonho de manutenção da União Soviética, que se viria a desintegrar em 1991. Foi consumada a vitória do liberalismo e do livre mercado, tendo o comunismo e a economia planificada caído com estrondo.

A Alemanha unificou-se e tornou-se na potência hegemónica europeia, dentro do quadro da hegemonia superior americana. Contudo, as cicatrizes do Muro e da divisão alemã são ainda bem visíveis – tanto a nível de orientação de voto como ao nível de concentração de atividade empresarial –, mesmo que a região que outrora pertenceu à RDA tenha mostrado claros sinais de recuperação.

De modo a segurar a Ordem Internacional Liberal, uma tarefa que parece cada vez mais hercúlea neste período de desafios múltiplos, o Ocidente deve manter a chama idealista acesa, fortalecendo as economias de mercado, cuja robustez lhe permitiu vencer a Guerra Fria, evitando o isolacionismo e fazendo rejuvenescer a moral e a crença nos valores ocidentais, em oposição aos valores do eixo Rússia-China-Irão-Coreia do Norte.