O Arcebispo da Cantuária, Justin Welby, demitiu-se, esta terça-feira, na sequência de um inquérito que acusa a Igreja Anglicana, nomeadamente o próprio líder religioso, de encobrir agressões físicas e sexuais durante décadas.
“É muito claro que devo assumir a responsabilidade pessoal e institucional pelo longo e retraumatizante período entre 2013 e 2024”, afirmou no anúncio da sua renúncia.
Justin Welby parecia determinado a manter-se em funções como chefe da Igreja de Inglaterra e líder espiritual da Comunhão Anglicana mundial, mas acabou por demitir-se após um coro crescente de críticos e apelos à sua saída nos últimos dias.
Na semana passada, a Igreja Anglicana divulgou os resultados de uma investigação independente sobre John Smyth, um advogado proeminente, que abusou sexualmente, psicologicamente e fisicamente de cerca de 30 rapazes e jovens no Reino Unido e 85 em África, a partir da década de 1970.
O relatório independente de 251 páginas concluiu que Justin Welby não denunciou Smyth às autoridades quando foi informado dos abusos em agosto de 2013, pouco depois de se ter tornado Arcebispo da Cantuária.
Quando o relatório foi conhecido, na quinta-feira passada, o arcebispo da Cantuária admitiu que devia ter assegurado que as alegações fossem investigadas de forma tão “enérgica” como deveriam ter sido.
O relatório dá conta ainda de que responsáveis da Igreja tiveram conhecimento dos abusos em 1982, quando receberam os resultados de uma investigação interna sobre Smyth, e “participaram num encobrimento ativo” para evitar que as conclusões viessem à luz do dia.
Aliás os abusos só foram tornados públicos numa reportagem da Channel 4 em 2017.
Smyth mudou-se para o Zimbabué em 1984 e mais tarde para a África do Sul e continuou a abusar de rapazes e jovens até à sua morte em agosto de 2018. As autoridades estavam a tratar da extradição e consequente interrogatório quando este morreu.